4ª edição do Gran 20 Désanm

Como todos os anos desde 2018, no próprio website do nosso museu de história. Como todos os anos, solene e cultural, festivo e popular.

Desde as manifestações permanentes (o Kan, os concertos na capela, o palco de kabar…) às novidades (o destaque dos tambores, um mapeamento África do Sul – Reunião, etc.) o programa 2021, que continua a reunir muitos artistas, associações, historiadores… é um convite a mergulhar na história e na memória da escravatura na Reunião, em particular o seu património artístico, cultural e culinário.

E porque este evento nasceu da vontade do Departamento de dotar a Reunião do único estabelecimento cultural da Reunião dedicado ao mundo da propriedade e à história da escravatura – cada Gran 20 Désanm é uma oportunidade para o Conselho Departamental apresentar um relatório de progresso deste grande projeto.

No primeiro andar da antiga casa senhorial, que se tornou a casa do projeto, apresentar-se-á uma nova versão do esquisso selecionado pelo júri do concurso em 2020 e a maqueta do futuro museu.

O público também poderá descobrir a preparação dos conteúdos com a produção efetiva do Atlas da Reunião e da Escravatura, a nova versão do Portal Escravatura – Reunião agora traduzida em português, os últimos objetos de coleção adquiridos pelos estabelecimentos culturais, uma residência artística que arranca com o maloya…

E como prelúdio do que será este lugar de história, memória e cultura, prosseguimos o nosso longo trabalho de construção de parcerias de todos os tipos, locais, nacionais e internacionais.

Entretanto, celebremos a liberdade, celebremos o Gran 20 Désanm de toda a Ilha da Reunião.

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho Departamental da Ilha da Reunião

 

 

Sobre o programa do evento

 

UM MUSEU PARA O AMANHÃ
A MIZÉ POU TANTO, POU TALÈR, POU DOMIN

No primeiro andar da antiga casa senhorial, vários aspetos do projeto do museu serão apresentados e tornados acessíveis ao público. Estão em fase de elaboração, de enriquecimento contínuo, permitindo, todos eles, compreender os objetivos do projeto do departamento.

“Un mizé pou tanto, pou talèr, pou domin”

Maqueta do projeto do museu

Após a apresentação do esquisso retido pelo júri em 2019, este Gran 20 désanm apresenta a maqueta. Evolutiva, aperfeiçoará ainda mais a divulgação de informação ao público em geral.

 

“Nou fé lo plan, nou prépar nout zarlor”

Na perspetiva de apresentar, do modo mais abrangente possível, a história da escravatura no futuro museu, o Departamento está a dinamizar a sua política de enriquecimento das coleções aferentes.
Em 2021, apresentará as suas últimas aquisições: um livro antigo, peças numismáticas e também uma medalha do Museu Stella Matutina (Conselho Regional) e tambores do museu Saranghi.

Índia francesa, Luís XV: símbolo da segunda India Company. 1723. Cobre.
Coleção Museu Villèle

 

EXPOSIÇÃO DA OBRA
“Povo infinito”

No espaço de três séculos e meio, a História reuniu no solo da nossa ilha populações vindas da Europa, África, Madagáscar, Ásia e outras ilhas do oceano Índico que trouxeram consigo tradições fortes e antigas. A sociedade contemporânea da Reunião pretende ainda ser uma terra de acolhimento e de encontro de civilizações milenares associadas na mesma comunidade de destino.
Resultado de uma residência artística organizada pela Iconothèque Historique de l’océan Indien, este trabalho de interpretação realizado pelo artista Lionel Lauret baseia-se em retratos e imagens antigas que ilustram o povoamento da Ilha da Reunião.
A Ico-nomade destaca fontes iconográficas ricas e diversas desta história do povoamento da Reunião num turbilhão sonoro orquestrado por Rodolphe Legras e Doc Legs.
Este dispositivo imersivo mergulha numa história através de imagens que ganham vida com a ajuda de processos de animação contemporâneos.

Projeção em vários grandes ecrãs modulares

 

EXPOSIÇÃO
“Tambour battant” por Jack Beng-Thi

La Réunion tambour battant
“As erupções do Piton de la Fournaise aumentam o território com lava que escorre e depois se crispa.
O oceano Índico erode-o com um pulsar contínuo. O mar perfura o recife de coral e as falésias, aliza, repetidamente, as praias de areia ou seixos que se esbarram entre eles.
Os ciclones esburacam as encostas, as chuvas ferem os telhados, crepitam na caixa-clara das chapas metálicas, por vezes mal crepitando, engolindo por fim os humanos com a sua massa de água: é o som abafado de um imenso tambor.”

“Alguns dos músicos de Maloya: Granmoun Lélé, Granmoun Bébé, família Baba, o Rwa Kaf, Firmin Viry, família Gado, família Ramouche, os Batis kabaré, Mamo, Simon Lagarrigue, Nathalie Natiembé, Françoise Gimbert, Alain Péters, Christine Salem, Danyèl Waro, Ann O’Aro, e todos os demais, nos pátios, nas casas…”

“Os rufos irredutíveis venceram os tempos obstinados”.
Excerto do texto de apresentação do artista

 

CARTOGRAFIA NA FACHADA DO MUSEU
“Reunião – África do Sul”

Uma das fachadas da antiga casa senhorial acolhe uma criação de cinco minutos inspirada numa combinação de imagens e mensagens tiradas de documentos históricos da Ilha da Reunião e da África do Sul.
Uma obra de Frédéric Brun-Picard.

 

A LOJA
Foco nas novidades! 

 

 

 

Journal d’habitation de Madame Desbassayns tenu en son absence par un employé : 1815‑1817 (Diário da propriedade de Madame Desbassayns – mantido na sua ausência por um empregado: 1815-1817)/ transcrição do manuscrito por Christel de Villèle; notas e anexos de Alexis Miranville. – Les éditions de Villèle, 2021.
Livro publicado pelas associações Cercle des Muséophiles de Villèle e Kan Villèle

 

 

 

 

 

 

 

Vali pour une reine morte / Boris Gamaleya. – Les éditions Wallada, 2021.

 

 

 

 

 

DIA DA ESCRAVATURA DA SEMANA DA HISTÓRIA

 

 

 

Organização: Associação Histórica Internacional do Oceano Índico
Presidente: Prosper ÈVE
Tema: “A Escravatura”
Local: Museu Villèle
● Presença dos contribuidores – abertura ao público – com intervenientes
externos
● Retransmissão no website do Portal História e Memória da Escravatura
Uma manifestação intelectual

Um portal digital multilíngue para se abrir ao mundo

Já disponível em francês e inglês, este site único sobre o tema da escravatura estará disponível em português a partir de 2021.

O Museu Histórico de Villèle é um local emblemático de um período particular da história da Ilha da Reunião, o da sociedade de plantação marcada pelo cultivo de café, algodão e cana-de-açúcar.

Criado no final do século XVIII pelo casal Panon-Desbassayns, a propriedade de Villèle evoca um modo de vida em que a prosperidade dos senhores se baseava no trabalho dos escravos.

De acordo com o seu projeto científico e cultural, o Museu de Villèle define-se agora como o museu da história da propriedade e da escravatura na Ilha da Reunião. Como tal, oferece aos visitantes uma experiência de imersão na vida de uma propriedade colonial do século XIX, bem como ferramentas para compreender a época da escravatura.

Na era digital, o museu criou um website dedicado a estes temas que foi inaugurado a 20 de dezembro de 2018, por ocasião do 170.º aniversário da abolição da escravatura na Ilha da Reunião.

Este sítio internet vem completar a oferta cultural do museu e funciona como um centro de recursos especializado. Contém atualmente 52 artigos escritos por investigadores (historiadores, antropólogos, arqueólogos, etnólogos, economistas e juristas).
Trata-se de uma ferramenta viva de conhecimento, regularmente enriquecida com novas contribuições. Para este fim, pede-se todos os anos aos especialistas que desenvolvam novos conteúdos.

A fim de ligar o Museu de Villèle a lugares e estabelecimentos que evocam a história da escravatura e do tráfico de escravos no mundo, lançámos a versão inglesa do nosso site em 2019.

A 20 de dezembro de 2021, publicamos a versão portuguesa e assim abrimos o “Portal da Escravatura” ao mundo lusófono.

Atlas da propriedade e da escravatura da Ilha da Reunião

Dotado de novos edifícios e recursos reforçados, no final do grande projeto de reestruturação lançado desde 2018, o museu poderá posicionar-se como centro de referência e conhecimento científico e documental sobre os seus temas favoritos.
É nesta perspetiva que lança um projeto de mapeamento: o Atlas da propriedade e da escravatura da Reunião.

Este projeto vai levar vários anos. Os visitantes do museu podem acompanhar o seu progresso graças aos mapas apresentados no primeiro andar da casa senhorial e que serão regularmente enriquecidos.

Inicialmente disponível em versão digital, poderá a prazo ser objeto de uma edição em papel.

O atlas: uma ferramenta para o conhecimento, um modo de contar a história

O objetivo é reunir todo o conhecimento sobre o assunto, transcrever os dados e representar, através de mapas, a forma como a propriedade e a escravatura, intimamente ligadas, moldaram o território da Reunião, através das suas paisagens, dos seus edifícios e da sua organização social.

Escravatura: um sistema de subjugação e exploração

Considerados no Code Noir (Código Negro) como bens móveis, os escravos representam um grupo social sujeito a um regime político e económico que os priva da sua liberdade, e os força a exercer funções económicas sem qualquer outra contrapartida que não o alojamento e a alimentação.

Em Bourbon/Reunião, na altura em que era uma colónia, a escravatura foi simultaneamente o fator determinante e a consequência do desenvolvimento da sociedade de plantação e da economia que deu origem às propriedades.

Propriedade: espaço de produção e servidão

Denominada plantação nas Antilhas, hacienda nas antigas colónias espanholas ou fazenda no Brasil, a propriedade era, em Bourbon/Reunião, uma estrutura de produção agrícola ou agroindustrial colonial rural.

Em Bourbon / Ilha da Reunião desenvolveram-se vários tipos de propriedade, designadamente:
-Propriedades de subsistência (produção de alimentos)
-Propriedades cafeeiras (produção especulativa de café)
– Propriedades de produção de cana (cultivo de cana-de-açúcar)
-Propriedades açucareiras (cultivo de cana e fabrico de açúcar)

Para funcionar, estas propriedades precisavam de mão-de-obra, que até 1848 consistia principalmente em escravos.

O mapa abaixo mostra todas as propriedades de açúcar que existiram entre 1785 e 1848. Foram estas últimas, de facto, que concentraram o maior número de escravos.

Ilha da Reunião – Mapa das propriedades de açúcar. Xavier Le Terrier. 2021.
Todos os direitos reservados – reprodução proibida

Homenagem ao historiador Marcel Dorigny (1948-2021)

O historiador Marcel Dorigny, especialista no tráfico negreiro transatlântico, na escravatura colonial e nos movimentos abolicionistas, faleceu na quarta-feira, dia 22 de setembro de 2021, aos 73 anos.

 

 

Professor emérito, Marcel Dorigny ensinou no departamento de história da Universidade Paris-VIII.
A sua investigação centrou-se nas correntes do liberalismo francês no século XVIII e na Revolução Francesa, principalmente nos domínios coloniais: o lugar da escravatura nas doutrinas liberais do século XVIII e da primeira metade do século XIX, bem como nas correntes antiesclavagistas e abolicionistas da Sociedade dos Amigos dos Negros.

Secretário-geral da Sociedade dos estudos de Robespierre de 1999 a 2005, diretor da revista Dix-huitième siècle, membro do Comité dos trabalhos históricos e científicos, membro do Comité de reflexão e de proposta para as relações franco-haitianas, presidido por Régis Debray, foi igualmente membro do Comité para a memória da escravatura.

O portal digital Sociedade de plantação, história e memórias da escravatura na Reunião, para o qual ele contribuiu, presta-lhe homenagem.

 

Ler o artigo de Marcel Dorigny publicado no sítio web:

20 de dezembro de 1848: a abolição da escravatura na Reunião

 

Bibliografia:

L’esclavage : illustrations et caricatures, 1750-1870 / Philippe Altmeyerhenzien, Marcel Dorigny. – La Crèche : Geste éditions, 2021. – : 1 vol. (184 p.) ; 26 cm.

Grand Atlas des empires coloniaux : premières colonisations, empires coloniaux, décolonisations, XVe – XXIe siècles / Marcel Dorigny, Jean-François Klein, Jean-Pierre Peyroulou…[et al.] ; cartographie Fabrice Le Goff. – Deuxième édition. – Paris : Éditions Autrement, 2019. – 1 vol. (287 p.) ; 28 cm . – (Autrement. Série Atlas. Mémoires, ISSN 1254-5724)

Les abolitions de l’esclavage : 1793-1888 / Marcel Dorigny. – Paris : Que sais-je ?, DL 2018. – 1 vol. (126 p.) : ill. ; 18 cm

Arts & lettres contre l’esclavage / Marcel Dorigny. – Paris : Éditions Cercle d’art, impr. 2018. – 1 vol. (239 p.) : ill. en coul. ; 25 cm + 1 livret

Atlas des esclavages : de l’Antiquité à nos jours / Marcel Dorigny, Bernard Gainot ; cartographie Fabrice Le Goff. – Paris : Autrement, impr. 2013. – 1 vol. (96 p.) : cartes et ill. en coul., tableaux, graph., couv. ill. en coul. ; 25 cm. – (Collection Atlas-mémoires, ISSN 1254-5724)

Atlas des premières colonisations : XVe – début XIXe siècle : des conquistadores aux libérateurs / Marcel Dorigny ; cartographie Fabrice Le Goff. – Paris : Le grand livre du mois, 2013. – 1 vol. (96 p.) : cartes et ill. en coul., tableaux, graph., couv. ill. en coul. ; 25 cm

Anti-esclavagisme, abolitionnisme et abolitions : débats et controverses en France de la fin du XVIIIe siecle aux années 1840 / Marcel Dorigny. – Sainte-Foy [Québec] : Presses universitaires de Laval, 2008. – 1 vol. (39 p.) ; 15 cm. – (Mercure du Nord. Verbatim)

Révoltes et révolutions en Europe et aux Amériques : 1773-1802 / Marcel Dorigny. – Paris : Belin, 2004. – 173 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Belin sup. Histoire)

La Société des amis des noirs, 1788-1799 : contribution à l’histoire de l’abolition de l’esclavage / Marcel Dorigny, Bernard Gainot. – Paris : Éd. Unesco : Edicef, 1998. – 429 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Mémoire des peuples)

Couleurs, esclavages, libérations coloniales, 1804-1860 : réorientation des empires, nouvelles colonisations, Amériques, Europe, Afrique / sous la direction de Claire Bourhis-Mariotti, Marcel Dorigny, Bernard Gainot… [et al.]. – Bécherel : les Perséides éditions, DL 2013. – 1 vol. (413 p.) ; 23 cm. – (Le monde atlantique)

Les mondes coloniaux à Paris au XVIIIe siècle : circulation et enchevêtrement des savoirs / Anja Bandau, Marcel Dorigny et Rebekka v. Mallinckrodt, éd.. – Paris : Éd. Karthala, impr. 2010. – 1 vol. (297 p.-[8] p. de pl.) : ill. en coul., couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Hommes et sociétés)

Les traites négrières coloniales : histoire d’un crime / sous la direction de Marcel Dorigny et Max-Jean Zins ; présentation, Daniel Voguet. – Paris : Éd. Cercle d’art, impr. 2009. – 1 vol. (263 p.) : ill. en noir et en coul., couv. ill. ; 27 cm

Les Lumières, l’esclavage, la colonisation / Yves Benot ; textes réunis et présentés par Roland Desné et Marcel Dorigny. – Paris : Éd. la Découverte, 2005. – 1 vol. (326 p.) : couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Textes à l’appui. Histoire contemporaine)

1802, rétablissement de l’esclavage dans les colonies françaises : aux origines d’Haïti : ruptures et continuités de la politique coloniale française, 1800-1830 : actes du colloque international tenu à l’Université de Paris VIII les 20, 21 et 22 juin 2002 / organisé par l’Association pour l’étude de la colonisation européenne et placé sous le patronage du programme La route de l’esclave de l’UNESCO ; sous la dir. de Yves Bénot et Marcel Dorigny. – Paris : Maisonneuve & Larose, 2003. – 591 p. : ill., couv. ill. ; 24 cm

Haïti, première république noire / sous la dir. de Marcel Dorigny. – Saint-Denis : Publications de la Société française d’histoire d’outre-mer ; Paris : Association pour l’étude de la colonisation européenne, 2003. – 264 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm

La France et les Amériques au temps de Jefferson et de Miranda / ouvrage dir. par Marcel Dorigny, Marie-Jeanne Rossignol. – Paris : Société d’études robespierristes, 2001. – 173 p. : couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Collection Études révolutionnaires ; 1)

Grégoire et la cause des Noirs : combats et projets, 1789-1831 / sous la dir. d’Yves Bénot et Marcel Dorigny ; dossier thématique préparé en collab. avec l’Association pour l’étude de la colonisation européenne. – Paris : Société française d’histoire d’outre-mer, 2000. – 398 p. : couv. ill. ; 24 cm

Esclavage, résistances et abolitions : [actes du 123e Congrés national des sociétés historiques et scientifiques, Section d’histoire moderne et contemporaine, Fort-de-France, 6-10 avril 1998] / [organisé par le] Comité des travaux historiques et scientifiques ; sous la dir. de Marcel Dorigny. – Paris : Éd. du CTHS, 1999. – 1 vol. (575 p.) : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm

De l’esclavage aux abolitions : XVIIIe-XXe siècle / Jean Métellus, Marcel Dorigny. – Paris : Cercle d’art, cop. 1998. – 175 p. : ill. en noir et en coul., jaquette ill. en coul. ; 30 cm

Léger-Félicité Sonthonax : la première abolition de l’esclavage : la Révolution française et la Révolution de Saint-Domingue : [colloque de Paris, 7-8 septembre 1990] / [organisé par l’association Mémoire de Léger Félicité Sonthonax] ; textes réunis et présentés par Marcel Dorigny. – Saint-Denis : Société française d’histoire d’outre-mer ; Paris : Association pour l’étude de la colonisation européenne, 1997. – 173 p. : couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Bibliothèque d’histoire d’outre-mer. Nouvelle série. Études ; 16)

Les abolitions de l’esclavage : de L. F. Sonthonax à V. Schoelcher : 1793-1794-1848 / actes du colloque international tenu à l’université de Paris VIII les 3, 4 et 5 février 1994 ; organisé par l’Association pour l’étude de la colonisation européennne… ; textes réunis et présentés par Marcel Dorigny. – Saint-Denis : Presses universitaires de Vincennes ; Paris : UNESCO, 1995. – 415 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm

Gran 20 desanm numérik (Um grande 20 de dezembro digital) no Museu Villèle

A atual crise sanitária pôs em evidência a necessidade de manter a ligação entre os cidadãos, oferecendo cada vez mais conteúdos acessíveis, em qualquer lugar em que a pessoa se encontre. Como tal, o Departamento da Reunião propõe celebrar o GRAN 20 DESANM 2020 (Grande 20 de dezembro 2020) através de um programa que recorre à utilização de ferramentas digitais.

 

 

 

 

 

 

Kabar la parole (cerimónia da palavra)
Um debate público a fim de recolher as expetativas do povo da Reunião para o novo museu Villèle.

 

 

 

O Museu Villèle define-se agora como o museu da propriedade e da escravatura na Ilha da Reunião. Esta nova orientação reflete-se na reestruturação do sítio do museu e na transformação da sua museografia.

A 20 de dezembro, no próprio local do museu, uma operação denominada “Kabar la parole” terá como objetivo recolher as expetativas dos visitantes relativamente ao futuro museu, à sua organização, ao seu conteúdo, etc. Esta coleção tomará a forma de gravações áudio e vídeo de narrações.

O público também poderá exprimir a sua opinião no website efémero dedicado a esta operação, de 20 de dezembro de 2020 a 31 de janeiro de 2021. www.kabarlaparole.re

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Exposição “Escravatura em Bourbon

Por ocasião do Gran 20 desanm 2020, o Museu Villèle acolhe a exposição “A escravatura em Bourbon” concebida e realizada pelos Arquivos Departamentais da Ilha da Reunião.
Esta exposição, que retrata a história da escravatura na Reunião, é dirigida às escolas e ao público em geral.

Descubra a exposição

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Exposição “Kosa i lé le Kan?” (O que é o acampamento?)

Uma exposição concebida por Prosper Eve, com a colaboração de Alexis Miranville e da Associação Kan Villèle, para aprender tudo sobre o “acampamento” – o lugar onde os escravos eram alojados nas propriedades.

Leia mais

 

 

 

 

 

 

Colóquio “Escravatura. Novas abordagens”. Museu Villèle – 28 de dezembro de 2020

No âmbito da semana de História do Oceano Índico, a Associação Histórica Internacional do Oceano Índico, em parceria com o Departamento da Ilha da Reunião, apresentou um colóquio internacional intitulado “Escravatura, Novas Abordagens” no dia 28 de novembro de 2020 no Museu Villèle, história da propriedade e da escravatura.

Veja estes momentos de trocas em replay, durante os quais investigadores das Maurícias, Madagáscar, Moçambique, Paris, Alemanha e Ilha da Reunião partilharam as suas visões e experiências sobre dois temas principais: “Escravatura nos países do tráfico de escravos” e “Abolição, reparação e património”.

Primeira parte da conferência
Segunda parte da conferência

 

 

 

 

 

 

 

 

Lazer. Notícias de Bourbon de Auguste Logeais

As coleções da Biblioteca departamental da Reunião foram enriquecidas este ano por uma coleção de contos publicados em 1845 pela tipografia de P.A. Genesley-Portier (Laval).

 

 

Há poucas referências a este livro impresso em apenas 50 exemplares. O mesmo se aplica ao seu autor. Sabemos que contribuiu para um jornal de Laval, L’Echo de la Mayenne, e que provavelmente viveu em Bourbon entre 1840 e 1850: o seu nome aparece no censo de proprietários de escravos em Saint-Benoit em 1847-48.
O tipógrafo, cujo prefácio alerta para a natureza confidencial da publicação, enriqueceu os textos com ornamentos tipográficos executados com grande minúcia. Embora o autor transmita um certo número de preconceitos em voga na altura, esta obra tem um carácter precursor adicional, uma vez que alguns dos diálogos das histórias são escritos em crioulo.
Composto por um frontispício representando Bras-Canot, por sete contos que tratam essencialmente do marronnage (fuga de escravos), bem como cinco cartas do autor nas quais conta as suas peregrinações na sociedade e na natureza de Bourbon, este livro revela um conjunto de criações literárias e testemunhos históricos inéditos publicados alguns anos antes da abolição da escravatura, e parcialmente publicados na imprensa metropolitana.

Consultar o livro

 

 

 

 

 

FET KAF, o espetáculo ao vivo da Fundação para a Memória da Escravatura

Por ocasião da Fèt Kaf (Festa Cafre), o feriado da abolição da escravatura na Ilha da Reunião, a Fundação para a Memória da Escravatura convida-nos para um espetáculo excecional ao vivo apresentado por Sébastien Folin este domingo às 14h, hora de Paris (17h, hora da Ilha da Reunião).

Uma viagem de 1:30h através da história, cultura e sociedade da Ilha da Reunião, para compreender a marca deixada pela escravatura e pós-escravatura desde 1848.

 

Com Jacqueline Andoche, antropóloga; Jean Barbier, curador do Museu Villèle; Jérémy Boutier, investigador; Gilles Gauvin, professor de história; Mémona Hintermann-Afféjee, jornalista; Maya Kamaty, artista; Carpanin Marimoutou, professora de literatura; Michèle Marimoutou, historiadora; Ann O’aro, artista; Jean-François Rebeyrotte, investigador; Christine Salem, artista.

Encontro na conta Facebook da FME

 

 

 

«“Arcreologia Preventiva, uma homenagem a Wilhiam Zitte” Residência “Património e Criação” de Philippe GAUBERT, no Museu Villèle

Para esta exposição em homenagem a Wilhiam Zitte, o artista em residência, Philippe Gaubert, ocupa dois lugares altamente simbólicos no museu Villèle: a Chapelle Pointue (Capela Pontiaguda) e o antigo hospital de escravos. des esclaves.

Chapelle Pointue
Na Chapelle Pointue, a ideia é oferecer aos visitantes uma instalação que combine imagem e som, evocando a alma errante de Wilhiam Zitte em que a voz do artista ecoa e as suas fotografias em residência são mostradas num ecrã suspenso por cima do altar.
As fotografias tiradas por P. Gaubert, as primeiras das quais datam dos anos 90, mostram Zitte tanto na esfera privada como na pública.
A instalação é completada por uma Via Sacra concebida por W. Zitte e realizada por bordadeiras malgaxes em 2007: uma criação apoiada pela Direção Regional dos Assuntos Culturais da Ilha da Reunião e destinada à igreja de Grand îlet (Salazie). Este notável trabalho é emprestado pela diocese de Saint-Denis de La Réunion.

Antigo hospital de escravos
Neste edifício patrimonial emite-se um novo documentário intitulado “Omaz à Wilhiam Zitte. Arkréolozi préventive” (Homenagem a Wilhiam Zitte. Arcreologia preventiva) no qual os amigos do artista da Reunião testemunham. As criações vídeo realizadas durante o workshop “Homenagem a Wilhiam Zitte” pelos estudantes da École Supérieure d’Art de La Réunion são também exibidas. É apresentada uma seleção de obras originais do artista plástico, bem como reproduções de coleções públicas e privadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Exposição “Escravatura em Bourbon”
Museu Villèle, 20 de dezembro de 2020 – 28 de março de 2021

Por ocasião do Gran 20 desanm 2020 (Grande dia 20 de dezembro 2020), o museu Villèle acolhe a exposição “Escravatura em Bourbon”, concebida e realizada pelos Arquivos Departamentais da Ilha da Reunião.
Esta exposição, que retrata a história da escravatura na Reunião, é destinada às escolas e ao público em geral.

 

 

Praticada em todos os tempos e em todos os lugares, a escravatura foi-se estabelecendo gradualmente nas Mascarenhas a partir dos finais do século XVII. As cartas-patente de 1723, mais conhecidas como Code Noir (Código Negro), constituíam o quadro legislativo em vigor até 1848 no qual os escravos eram definidos como bens móveis.

As fontes do tráfico de escravos mudaram consoante as épocas. A Índia esteve envolvida ocasionalmente, tal como a costa ocidental de África, sendo as duas principais fontes Madagáscar e a costa oriental de África. Neste contexto formaram-se redes com a participação de chefes locais.

A alforria era uma generosidade por parte do senhor, geralmente como recompensa por um bom serviço prestado. Estava sujeita a condições. O homem libertado tinha de ser capaz de se sustentar a si próprio.

Uma das respostas à opressão era a fuga ou marronage (maronage). Uma infra-sociedade, uma “sociedade silenciosa”, ou até um “reino interior”, com “reis” e “rainhas”, ter-se-ia formado nas montanhas interiores.

Os senhores tinham perceções diferentes dos escravos dependendo da sua origem. Os escravos “crioulos” (nascidos na ilha, por vezes após várias gerações) eram geralmente os mais apreciados.

A primeira abolição da escravatura (1794) fracassou nas ilhas Mascarenhas, perante a resistência dos proprietários. O tráfico foi teoricamente proibido em 1817, e efetivamente em 1830.

A abolição foi decretada a 27 de abril de 1848 e oficialmente promulgada a 20 de dezembro na Ilha da Reunião pelo Comissário da República, Sarda Garriga. Mais de 62 000 indivíduos acederam assim ao estatuto de cidadãos, porém a questão da sua integração fica em suspenso.

Albert Jauze,
Doutor em história moderna, curador da exposição

 

Descubra a exposição digital

Colóquio “Escravatura. Novas abordagens”
28 de novembro de 2020 – Museu Villèle

No quadro da semana de História do oceano Índico, a Associação Histórica Internacional do Oceano Índico, em parceria com o Departamento da Ilha da Reunião, propõe um colóquio internacional no dia 28 de novembro de 2020 no museu Villèle, história da propriedade e da escravatura intitulado “Escravatura. Novas abordagens“.

 

 

Como é habitual, o último dia da semana da História do oceano Índico será dedicado ao tema da escravatura. A Associação Histórica Internacional do Oceano Índico contribui assim para a comemoração da abolição da escravatura pela França na Reunião, a 20 de dezembro de 1848.

A regra imposta aos investigadores é a de renovar os conhecimentos sobre este sistema iníquo de exploração dos seres humanos pelos seres humanos.

Este ano, os colegas de Moçambique irão abordar a questão do tráfico de escravos a partir do seu país.

O Sr. Jean-François Cany, que defendeu brilhantemente a sua tese intitulada “Religions et servitudes. Theoria, éthique, salut : origines et structure dialectique des idéologies de la servitude autour d’une île de l’océan Indien” terá a oportunidade de continuar a sua reflexão sobre este tema que lhe é caro.

Prosper Eve,
Presidente da Associação Histórica Internacional do Oceano Índico

 

 

Descubra o programa

 

 

O Parlamento Europeu reconhece a escravatura como «crime contra a humanidade»

Nesta sexta-feira 19 de junho, o Parlamento Europeu adotou com uma esmagadora maioria uma resolução simbólica na qual reconhece a escravatura como «crime contra a humanidade».

Esta proposta, apresentada pelo eurodeputado da Reunião Younous Omargee, foi integrada na resolução sobre as manifestações contra o racismo após a morte de Georges Floyd.

«É preciso reconhecer que este acontecimento é um reflexo de séculos de domínio sobre os negros nos EUA e de condições desiguais na Europa. Recordemos que a nossa história europeia sempre oscilou como um pêndulo entre a barbárie e a civilização. Que foi na Europa, não obstante a razão, não obstante o Iluminismo, que nasceram as piores teorias da hierarquia racial para justificar conquistas, para justificar a escravatura, para justificar a colonização e para justificar o Holocausto», disse Younous Omargee no seu discurso ao Parlamento Europeu.

Eis o texto adotado:
«O Parlamento Europeu apela às instituições e aos Estados-Membros da União Europeia para que reconheçam formalmente as injustiças e crimes contra a humanidade cometidos no passado contra pessoas negras e pessoas de cor; declara o tráfico de escravos um crime contra a humanidade e apela para que o dia 2 de dezembro seja designado como o Dia Europeu da Memória da Abolição do Tráfico de Escravos; incentiva os Estados-Membros a incluírem a história das pessoas negras e das pessoas de cor nos seus programas escolares».

Em França, foi a 21 de maio de 2001 que o tráfico de escravos e a escravatura foram reconhecidos como crime contra a humanidade através da lei de Taubira, com o nome da deputada guianesa Christiane Taubira, que esteve na origem do projeto de lei antes de ser a sua relatora na Assembleia Nacional.

O Parlamento Europeu também proclamou na sua resolução, aprovada por 493 votos a favor, 104 contra e 67 abstenções, que «as vidas das pessoas negras são importantes», fazendo eco do slogan «Black Lives Matter» do movimento global contra o racismo e a violência policial que começou nos Estados Unidos.

No seu texto, o Parlamento «condena veementemente a terrível morte de George Floyd nos Estados Unidos, bem como assassinatos semelhantes noutras partes do mundo». Manifesta o seu apoio às recentes manifestações contra o racismo e a discriminação e condena «o supremacismo branco em todas as suas formas».

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“A estranha história de Furcy Madeleine: 1786-1856”
exposição no Museu de Villèle

A exposição, organizada de 11 de dezembro de 2019 a 20 de abril de 2020 pelo museu histórico de Villèle, em parceria com os Arquivos do departamento da Reunião, retrata a história singular do escravo Furcy.

Em 1817, na ilha Bourbon/Reunião, o escravo Furcy, com trinta e um anos de idade, instaurou um processo contra o seu senhor, Joseph Lory, junto do tribunal de primeira instância de Saint-Denis.

Contestava o seu estatuto de escravo e reivindicava a sua “ingenuidade”, ou seja, a sua liberdade por nascimento.

Com a ajuda da sua irmã Constance Jean-Baptiste, que era livre, Louis Gilbert-Boucher, procurador do Ministério Público no Tribunal Real de Bourbon em 1817, e Jacques Sully-Brunet, jovem advogado e conselheiro no Tribunal Real de Bourbon, embarcou numa longa luta contra a justiça colonial que o levaria à prisão em Bourbon, ao exílio nas Maurícias, primeiro como escravo e depois como alforriado, e até mesmo aos tribunais em França.

Este processo, que durou vinte e sete anos, terminou a 23 de dezembro de 1843 perante o Tribunal Real de Paris: “Furcy nasceu em estado de liberdade e ‘ingenuidade’”.

A história de Furcy, estado da investigação

A exposição é o resultado de um trabalho de investigação realizado pelo antropólogo e historiador Gilles Gérard, que escreveu o cenário.
Baseia-se também nos trabalhos de Sue Peabody, historiadora e académica americana, autora de Madeleine’s Children: Family, Freedom, Secrets, and Lies in France’s Indian Ocean Colonies, e do investigador Jérémy Boutier, autor de uma tese intitulada La question de l’assimilation politico-juridique de La Réunion à la métropole, 1815-1906 (Université d’Aix-Marseille) e de vários artigos sobre Furcy.

Os desafios da exposição

A exposição visa, com base nas fontes disponíveis, apresentar uma visão da vida de Furcy, na sua dimensão singular, prodigiosa e complexa, mesmo que isso signifique restabelecer alguns factos e quebrar algumas ideias pré-concebidas: não era um militante abolicionista, sendo que até chegou a possuir escravos e terminou os seus dias em relativa opulência.

Visa também colocar a estranha história de Furcy no contexto das sociedades coloniais de Bourbon e das Maurícias e destacar uma representação de Furcy, frequentemente distorcida, na memória coletiva.

O itinerário da visita é pontuado pelos vários acontecimentos desta batalha jurídica que durou 27 anos: abuso de poder, documentos falsos, pressões exercidas sobre Furcy e a sua família…

Em cada uma das quatro secções da exposição destacam-se elementos de arquivo com vista a apoiar as afirmações dos historiadores, sendo também possível consultar as fichas informativas presentes na sala para aprofundar conceitos ou factos.

Paralelamente, há um segundo percurso intitulado “Furcy hoje”, no qual um sistema de ecrãs transmite entrevistas de vários artistas que se debruçaram sobre a história de Furcy nos últimos anos.

As personagens criadas pelo desenhador Sébastien Sailly sob a forma de silhuetas estão presentes em todas as salas para ajudar o visitante a situar todos os protagonistas da história cujo enredo se desenrola entre a Índia, Bourbon, as Maurícias e França: Furcy, de quem nenhuma representação é conhecida até à data, a sua irmã Constance, uma pessoa de cor livre, a sua mãe Madeleine, nascida em Chandernagor, Philippe Desbassayns de Richemont, filho de Ombline Desbassayns, o procurador Boucher, Joseph Lory, o proprietário de Furcy…

Personagens, lugares, documentos perdidos e achados, documentos falsificados: todos os elementos estão presentes para revelar esta estranha história ao visitante.

Furcy, ressonâncias contemporâneas

Na Ilha da Reunião, embora a história de Furcy nos tenha sido revelada pelo trabalho do historiador Hubert Gerbeau em 1990, foi, no entanto, graças a Sophie Bazin e Johary Ravaloson (cujo pseudónimo é Arius e Mary Batiskaf), e à sua criação Liberté Plastik em 1998, que Furcy se tornou um símbolo da luta pela liberdade.

A publicação do livro de Mohammed Aïssaoui, L’affaire de l’esclave Furcy, (Prix Renaudot 2010), é outro elemento a ter em conta para compreender o aparecimento nos anos 2000 do movimento coletivo Libèr nout’ Furcy (Libertem o nosso Furcy), e a emergência de várias criações de artistas daqui e de alhures: As peças de Hassane Kouyaté, Francky Lauret e Erick Isana’s L’affaire de l’esclave Furcy, Fer6, o esboço de um filme de animação de Laurent Médéa, a canção L’or de Furcy do músico Kaf Malbar, ou ainda a escultura de Marco Ah Kiem no Barachois em Saint-Denis.

Liberdade Plástica
Arius e Mary Batiskaf
1998

De maio de 1998 a maio de 1999, Arius e Mary Batiskaf (cujos verdadeiros nomes são Sophie Bazin e Johary Ravaloson) fizeram uma digressão pela Ilha da Reunião com a encenação de uma reconstituição do julgamento de Furcy, com atores a atuarem dentro de uma gaiola, uma instalação itinerante que viajou por dez locais diferentes. Uma centena de atores deram vida a este primeiro julgamento imaginado e escrito por Johary Ravaloson.
150 anos após a abolição da escravatura, a história deste Furcy revelou um herói positivo, e destacou relações de poder que nem sempre eram claras.

O processo do escravo Furcy
Mohammed Aïssaoui
2010

L’affaire de l’esclave Furcy é um ensaio histórico do escritor e jornalista francês Mohammed Aïssaoui publicado em 2010 por Gallimard. O livro recebeu vários prémios, incluindo o Prémio Renaudot do ensaio histórico em 2010 e o Prémio do livro RFO em 2010.
Esta história romanceada de Mohammed Aïssaoui revelou a história do escravo Furcy e a sua luta pela liberdade ao público em geral.

O processo do escravo Furcy
Encenado por Hassane Kassi Kouyaté
e Patrick Le Mauff. Com Hassane Kassi Kouyaté.
2013

“Hassane K. Kouyaté conta a história do processo e a investigação realizada pelo jornalista Mohammed Aïssaoui. Como ator, ele reveza-se na interpretação das personagens deste processo surpreendente, numa encenação simples e eficaz”. (Jeune Afrique)

LorDeFurcy
Kaf Malbar
2014

O cantor Kaf Malbar do bairro Cow Boy em Chaudron (Saint-Denis, Ilha da Reunião) presta homenagem à luta de Furcy numa canção. A sua popularidade, especialmente entre os jovens, ajudou a divulgar ainda mais a história de Furcy na Reunião.

O processo do escravo Furcy
Tiktak Production
2015

A empresa da Reunião Tiktak Production adquiriu os direitos para adaptar o livro L’affaire Furcy de Mohammed Aïssaoui. Realizado pelo encenador Serge Élissalde com imagens reais na Reunião que foram pintadas utilizando diferentes técnicas desenvolvidas para a ocasião. O rosto de Furcy é inspirado pelas características do ator Camille Bessière.

Fer6
Texto de Francky Lauret,
interpretado por Érick Isana
2016

O escritor Francky Lauret faz Furcy dialogar com outros escravos numa cela na prisão Juliette Dodu em Saint-Denis. Sozinho no palco, Érick Isana assume o papel de cada uma das personagens.

Escultura de Furcy
Realizada por Marco Ah-Kiem
2018

O escultor de Ilet Quinquina (município de Sainte-Clotilde, Ilha da Reunião), autor de numerosas obras sobre a escravatura, celebra a memória de Furcy com um conjunto esculpido instalado no Barachois em Saint-Denis (Ilha da Reunião).

Um acervo Furcy nos Arquivos do departamento da Ilha da Reunião

A investigação histórica sobre Furcy progrediu, em particular graças à compra em leilão do “acervo Furcy” pelo Conselho Departamental em 2005 que, de facto, corresponde aos documentos de Louis Gilbert Boucher, Procurador-geral do Tribunal Real de Bourbon, o principal apoiante de Furcy.
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Regards croisés sur l’esclavage
(Olhares cruzados sobre a escravatura)

UMA PUBLICAÇÃO DE REFERENCIA
SOBRE A ESCRAVATURA EM BOURBON/REUNIÃO

Em 1998, por ocasião do 150.º aniversário da abolição da escravatura, os Arquivos e a Biblioteca Departamentais, e os Museus Léon Dierx e Villèle apresentaram uma grande exposição acompanhada de um importante catálogo destacando documentos patrimoniais inéditos reveladores do período de escravatura na ilha. Vinte anos mais tarde, o Conselho Departamental reedita o trabalho, acrescentando atualizações científicas que nos permitem fazer o balanço dos progressos realizados e dos desafios que ainda estão por superar a fim de assumir coletivamente esta história partilhada.

Descubra o sumário

Galeria de retratos

UMA EXPOSIÇÃO DOS TRABALHOS DOS ALUNOS DO SECUNDARIO DA REUNIÃO CONCEBIDA POR LIONEL LAURET

Em 2018, foi organizado um concurso no quadro da educação para a cidadania dos estudantes, em parceria com o Conselho Departamental e a Academia da Reunião, no âmbito do 170.º aniversário da abolição da escravatura. Os alunos foram convidados a desenhar um retrato de um ou mais escravos com base nos nomes de escravos presentes no testamento da Sra. Desbassayns. 85 escolas secundárias públicas e privadas participaram no evento, tendo sido apresentada uma exposição coletiva dos seus trabalhos no Museu Villèle.

Os Indispensáveis

Esta base de dados online, consagrada à história da escravatura na Reunião, é constituída por documentos de arquivo, imagens, objetos, entre outros, pertencentes a coleções de instituições culturais do Departamento: o Museu histórico Villèle (MHV), os Arquivos departamentais da Reunião (ADR), o Museu Léon Dierx (MDL) e a Biblioteca departamental da Reunião (BdR).

 

Dança dos Negros na praça do Governo, dia 20 de dezembro de 1848. Abolição da escravatura.
Louis Antoine Roussin. 2.ª metade do século XIX. Litografia.
Coleção Museu histórico Villèle

O seu acesso é livre e ilimitado e destina-se a todos os tipos de público: escolas, mediatecas, municípios, associações, etc.

Nela poderão encontrar:
• Mais de cinquenta documentos de referência pertencentes a coleções históricas do Departamento
• Cem imagens antigas que representam cenas de vida, retratos e paisagens da época
• Uma exposição dos Arquivos departamentais da Reunião:
Les noms de la liberté (Os nomes da liberdade)
• Dois romances:
Les marrons (Os escravos fugitivos), de Louis-Timagène Houat, 1844
Matzingoro ou l’esclave Djoloff (Matzingoro ou o escravo Djoloff), de André Berthet, 1885

23 de maio, dia nacional de homenagem às vítimas da escravatura colonial

A 23 de maio de 1998, por ocasião do centenário da abolição da escravatura em 27 de abril de 1848, teve lugar em Paris, entre a Place de la République e a Place de la Nation, uma marcha silenciosa de 40 000 pessoas principalmente oriundas de Guadalupe, Martinica, Guiana e Reunião.

Contrariamente ao discurso oficial defendido até então pelo Estado francês, designadamente o destaque dado aos abolicionistas metropolitanos ligados a esta causa, os manifestantes do dia 23 de maio celebraram sobretudo a memória dos seus antepassados que foram “escravizados” durante vários séculos nos territórios ultramarinos franceses. No rescaldo deste movimento histórico, foi fundado o Comité de 23 de maio de 1998 (CM98), no final de novembro de 1999, cuja ambição consistia em reconhecer oficialmente o tráfico negreiro e a escravatura nas colónias francesas como um crime contra a humanidade. O princípio está consagrado na lei de 21 de maio de 2001. A comemoração anual de 23 de maio, um dia nacional em homenagem às vítimas da escravatura, que foi oficialmente introduzida pela circular de 29 de abril de 2008, foi promulgado, tal como a comemoração de 10 de maio, pela lei de 27 de fevereiro de 2017.

Menos mediatizada do que o dia nacional das memórias do tráfico de escravos, da escravatura e da sua abolição a 10 de maio, a comemoração do 23 de maio tem sido, no entanto, objeto de acontecimentos em toda a França continental e no ultramar nos últimos 20 anos. Os eventos, impulsionados e organizados por associações memoriais em parceria com as autoridades locais, combinam geralmente um momento de recolhimento em torno de uma estela construída para o efeito, bem como um tempo de expressão cultural. Por exemplo, a 23 de maio de 2015, cerca de 30 000 pessoas reuniram-se na Place de la République em Paris em torno de quadros genealógicos criados por ativistas da CM98 e um grande concerto de gwoka, bélé e maloya.

Para assinalar o 20.º aniversário da marcha, a comemoração nacional de 23 de maio de 2018, organizada pelo Comité Nacional para a História e Memória da Escravatura (CNMHE), teve lugar no Ministério do Ultramar na presença da Sra. Annick Girardin, Ministra do Ultramar e do Sr. Jean Marc Ayrault, antigo Primeiro-Ministro e Presidente do GIP (Grupo de Interesse Público) da Missão da Memória da Escravatura e do Tráfico de Escravos e sua Abolição. Liderada pelo Sr. Frédéric Régent, Presidente do CNMHE, a cerimónia começou com a plantação de uma “árvore da liberdade” no pátio do Ministério do Ultramar na presença dos convidados, seguida da atribuição do prémio de tese e de uma mesa redonda sobre o tema “São os descendentes de escravos ainda vítimas da escravatura?”

Para este ano 2020, a comemoração nacional de 23 de maio, num contexto de medidas de desconfinamento rigorosas, consistirá na colocação de uma coroa de flores e um momento de recolhimento defronte da estela consagrada às vítimas da escravatura colonial, criada pelo escultor Nicolas Cesbron, na Place Victor Hugo, no município de Saint-Denis (93), na presença, entre outros, da Sra. Annick Girardin, Ministra do Ultramar, do Sr. Laurent Russier, Presidente da Câmara de Saint-Denis, do Sr. Serge Romana, Presidente da Fundação Escravatura e Reconcialização e do Sr. Emmanuel Gordien, Presidente da CM98.

Bruno Maillard / Doutor em História
Investigador associado no Laboratório CRESOI da Universidade da Reunião
Docente auxiliar na Universidade de Paris Est Créteil
Membro do Conselho Científico da Fundação para a Memória da Escravatura

Homenagem ao historiador Claude Wanquet (1937-2020)

O Departamento presta homenagem à memória do eminente historiador Claude Wanquet, falecido recentemente.

 

 

Reconhecido especialista no período revolucionário e imperial, começou a sua carreira como autor através da publicação da sua tese «Histoire d’une révolution : La Réunion (1789-1803)» (História de uma revolução: a Reunião (1789-1803)). Posteriormente, escreveu dezenas de livros e artigos científicos sobre o seu tema de eleição.

Professor emérito de história na Universidade da Reunião, antigo presidente da Associação Histórica Internacional do Oceano Índico (1998-2008), membro da Academia da Reunião desde 1969, Claude Wanquet colaborou regularmente com o Conselho Departamental com vista a divulgar investigações científicas e propor publicações destinadas ao público em geral.

Em 2017, Claude Wanquet aceitou ser membro honorário do comité científico para a prefiguração do novo museu Villèle.
Hoje, a Biblioteca departamental da Reunião e o Portal digital do museu sobre a escravatura na Reunião prestam homenagem ao historiador.

O Departamento apresenta os seus sinceros pêsames à família e amigos de Claude Wanquet.

 

Leia os artigos de Claude Wanquet publicados no sítio web:

Portrait d’Henri-Paulin Panon Desbassayns / Claude Wanquet. In Société de plantation, histoire & mémoire de l’esclavage à La Réunion

La première abolition de l’esclavage à La Réunion et sa non application par la France à La Réunion / Claude Wanquet. In Société de plantation, histoire & mémoire de l’esclavage à La Réunion

 

Bibliografia

Histoire d’une révolution : La Réunion 1789-1803 / Claude Wanquet. – Marseille : J. Laffitte, 1980. – 3 vol. (779 p., 514 p., 622 p.) ; 22 cm.

Des marines au port de la pointe des galets : 1886-1986, centenaire / [Comité du centenaire de la ville du Port] ; [réd. par] Angèle Squarzoni, Claude Wanquet, Élie Fontaine, Edmond Maestri… [et al.] ; préface de Claude Wanquet . – La Réunion : Comité du centenaire de la ville du Port, 1987. – (195 p.): ill.; 21 cm . – (1886-1986 Centenaire).

Fragments pour une histoire des économies et sociétés de plantation à La Réunion / sous la direction de Claude Wanquet. – Saint-Denis : Publications de l’Université de la Réunion, Centre de documentation et de Recherche en Histoire Régionale de l’Université de la Réunion, 1989. – 351 p. : couv. ill. en coul. ; 21 cm.

La Révolution à la Réunion : 1789-1803 : [exposition, Hôtel de ville de Saint-Denis, 1990] / [organisée par le] Musée de Villèle… ; [catalogue de] Claude Wanquet,… ; [préf. de Jean Barbier]. – Saint-Gilles-les-Hauts : Musée historique de Villèle, 1990. – 1 vol. (24 p.) : ill. en noir et en coul. ; 21 cm.

Les Premiers députés de La Réunion à l’Assemblée nationale : quatre insulaires en Révolution (1790-1798) / Claude Wanquet. – Paris : Karthala, 1992. – 1 vol. (237 p.) ; 22 cm.

La France et la première abolition de l’esclavage : 1794-1802 : le cas des colonies orientales Ile de France (Maurice) et La Réunion / Claude Wanquet. – Paris : Karthala, 1998. – 1 vol. (724 p.) : ill. ; 25 cm. – (Hommes et sociétés).

Henri Paulin Panon Desbassayns : autopsie d’un”gros Blanc” réunionnais de la fin du XVIIIe siècle / Claude Wanquet . – Saint-Gilles-les-Hauts : Musée historique de Villèle, 2011. – 1 vol. (335 p.-[32] p. de pl.) : ill. en noir et en coul. ; 25 cm. – (Collection patrimoniale Histoire).

170.º aniversário
da abolição da escravatura,
de dezembro de 2018 a dezembro de 2019, um ano comemorativo

Há exatamente um ano, o Conselho Departamental anunciava o lançamento de um ano inteiro de comemoração do 170.º aniversário da abolição da escravatura.

Desde o início, especificámos que a comemoração incluiria uma variedade de destaques duradouros e unificadores, tais como conferências, seminários, concertos, residências artísticas, websites e prémios. E assim o tom foi dado em toda a ilha, não só para o mês de dezembro de 2018, mas também para todo o ano comemorativo. Um evento chave foi o festival “Gran 20 Désanm” realizado no museu Villèle, maravilhosamente encenado e iluminado, e que contou com vários milhares de visitantes, incluindo convidados vindos de Moçambique, da Fundação para a Memória da Escravatura e da UNESCO.

Foi nesta ocasião que lançámos o grande projeto do museu Villèle: após uma ambiciosa campanha de renovação, o museu de Saint-Gilles-les-Hauts alargaria o seu propósito e passaria a contar a história da propriedade e da escravatura.

Ao longo de 2019, continuámos a trabalhar na história e na memória, com a preocupação permanente de realizar uma comemoração digna e partilhada. Por conseguinte, trabalhámos em colaboração com investigadores, artistas, associações, clubes e autarquias. Reforçámos os laços com atores locais e criámos parcerias a nível local e nacional.

A maioria das ações realizadas, no âmbito deste 170.º aniversário de uma efeméride importante da história da França e da Ilha da Reunião, permanecerá.

Entretanto, um “2.º Gran 20 Désanm” encerrará o ano comemorativo.

Com uma exposição inédita dedicada ao escravo FURCY, haverá também a apresentação da 2.ª edição do livro Regards croisés sur l’esclavage (Olhares cruzados sobre a escravatura), a difusão de filmes em grande ecrã, visitas sonorizadas, um “pequeno museu digital”, a recriação de um Kan (acampamento de escravos), vários far far (festivais gastronómicos)… E um programa artístico que reunirá mais de uma centena de artistas (músicos, bailarinos, contadores de histórias, artistas plásticos…).

Esperamos sinceramente que muitos de vós venham a este encontro marcado com a nossa história.

Desejamos um excelente “Gran 20 Desanm” a toda a gente!

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho Departamental da Ilha da Reunião

Um novo nome para Le Pas de Bellecombe

O nome da passagem no cimo da montanha, um miradouro excecional com vista para o noroeste do recinto vulcânico Fouqué, a última caldeira do Piton de La Fournaise, foi enriquecido com o nome do escravo que descobriu o acesso ao recinto. O lugar chama-se agora “Le Pas de Bellecombe – Jacob”.

Lugar nas terras altas de Rivière de l’Est. Bory de Saint-Vincent, Jean-Baptiste. Desenhador. 1804. Gravura.
Coleção Museu Histórico Villèle

Durante a expedição de 1768 ao vulcão, o Governador Léonard de Bellecombe, acompanhado pelo gestor orçamental Honoré de Crémont e por escravos carregadores, encontraram-se no precipício do recinto. Não destrinçando maneira para lá chegar, o governador recuou. O Sr. Crémont, mais determinado, prosseguiu e prometeu seis peças de pano azul aos escravos que encontrassem a passagem no precipício. Após muitas buscas, o escravo Jacob encontrou uma forma de passar e desceu a falésia com o Sr. de Crémont.
Não obstante o governador nunca ter descido ao recinto, o local recebeu o seu nome, Pas de Bellecombe.

Na quarta-feira 28 de agosto de 2019, o presidente da câmara de Sainte-Rose, Michel Vergoz, inaugurou a placa situada no parque de estacionamento com o novo nome do local Le Pas de Bellecombe-Jacob, prestando assim homenagem ao escravo que abriu o acesso ao recinto.

170.º aniversário
da abolição da escravatura
1848 – 2018

Um ato fundador, para um grande projeto de história e de memória(s)
Para o Conselho Departamental, o dia 20 de dezembro de 2018 terá uma dimensão excecional. A celebração do 170.º aniversário da abolição da escravatura em França está diretamente ligada ao principal projeto cultural da coletividade durante este mandato: o projeto do museu histórico de Villèle, o museu da propriedade e da escravatura.

Pretendemos organizar um grande 20 de dezembro no museu e em toda a ilha. Solene e festivo, cultural e popular.

Trata-se de um ano comemorativo (dezembro de 2018 – dezembro de 2019) que, em todas as suas iniciativas, irá prenunciar o futuro museu, que pretendemos transformar num centro científico e cultural de excelência na matéria, e um centro de referência na Reunião em termos de turismo cultural.

Cerca de trinta investigadores, outros tantos artistas, associações, municípios, serviços estatais, ligas e comités desportivos, clubes, parceiros do mundo económico… já estão ao nosso lado para :
– enriquecer e transmitir conhecimentos sobre a escravatura na Reunião
– valorizar e partilhar o património cultural resultante da escravatura, a(s) memória(s)
– dar aos atores da história uma presença visível e digna
– colocar a história da escravatura na Reunião dentro da história universal e intemporal da escravatura no mundo.

Outros parceiros juntar-se-ão sem dúvida a nós porque o nosso desejo é envolver todas as pessoas da Reunião, para assegurar que a comemoração irradie em todo o território, que envolva ainda mais parceiros locais, nacionais e internacionais, e que os projetos do Departamento sejam federativos e duradouros.

Todos os dias, os rumores do mundo informam-nos sobre o aumento do extremismo de todos os tipos, e das inúmeras exclusões que inevitavelmente os acompanham. A Ilha da Reunião não pode sacrificar o ideal de unidade que se tem esforçado por construir, dia após dia, desde o ato histórico que o tornou possível: a proclamação da abolição da escravatura em 1848. A liberdade não é dada por decreto, definitivamente, é uma conquista diária.

Com dignidade e harmonia, façamos deste 20 de dezembro de 2018 um Gran 20 désanm, e de 2019 um grande ano comemorativo.

Um tempo para aprofundar o conhecimento sobre a história da escravatura, um elogio à liberdade, um belo momento de unidade.

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho Departamental da Ilha da Reunião

 

“Le jour de l’Abolition” (O dia da Abolição)
exposição no Museu Léon Dierx
27 de abril – 15 de setembro de 2019

Exposição baseada na pintura de Alphonse Garreau, Allégorie de l’abolition de l’esclavage à La Réunion (Alegoria da abolição da escravatura na Reunião)
Com uma instalação de Matilde Fossy “Dissiper la Brume” (Dissipar a Bruma)

Um confronto histórico

A 20 de dezembro de 1848, mais de 60 000 escravos tornaram-se livres na sequência de um discurso do Comissário da República, Joseph Napoléon Sarda-Garriga, na Place du Gouvernement em Saint-Denis. Um ano depois, o artista Alphonse Garreau, que na altura vivia na ilha, pintou um quadro para comemorar este evento, conhecido hoje como a “Allégorie de l’abolition de l’esclavage à La Réunion”.

A visão deste artista é uma visão de poder, ordem e trabalho. O tema principal é Sarda-Garriga. A mensagem do quadro é clara: a liberdade está sujeita à obrigação de trabalhar. Nesta obra, os antigos escravos recentemente libertados permanecem totalmente anónimos na multidão, sem qualquer poder de expressão.

Revisitar “A Alegoria…”, tornando estes escravos presentes, é alargar o significado dado a esta pintura repleta de história. Assim, o projeto do Museu Léon Dierx consiste em fusionar história e arte contemporânea.

“Dissiper la Bruma”, a instalação da artista Mathilde Fossy criada para esta exposição, proporciona uma viagem através dos meandros da história. Os nomes dados aos escravos em 1848, no coração da proposta artística, ecoam a pintura de Garreau e entram em ressonância com os patronímicos dos dias de hoje, como uma nova alegoria que leva em consideração a temporalidade dos 170 anos que acabam de passar.

Uma exposição em três partes

A primeira reúne litografias e gravuras oriundas das coleções das instituições culturais do Departamento relacionadas com a denúncia do tráfico de escravos e do sistema servil nas colónias. Desde gravuras do final do século XVIII retiradas das obras dos intelectuais iluministas até às gravuras relacionadas com primeira abolição de 1794, desde as várias gravuras que criticam o tráfico de escravos na primeira metade do século XIX até às pinturas emblemáticas que comemoram o fim da escravatura em Inglaterra e França, o visitante acompanha a evolução histórica do discurso e a sua transcrição pelos artistas através de uma seleção de obras e reproduções originais.

Uma segunda secção centra-se nos eventos que tiveram lugar na Reunião em 1847-1848 através do testemunho artístico de dois artistas que estavam presentes na ilha nessa altura: Antoine Louis Roussin (1819-1894) e Adolphe Potémont (1828-1883). Através das suas litografias, na maioria das vezes satíricas, descrevem o fim da escravatura, a abolição e as reações da população a este acontecimento histórico durante aqueles poucos meses que abalaram a história da Ilha da Reunião. É nesta secção que se encontra a pintura de Alphonse Garreau, “Allégorie de l’abolition de l’esclavage à La Réunion”, conservada no Museu Quai Branly Jacques Chirac, e que regressa à Reunião 170 anos após a sua criação.

Na terceira parte, a obra de Mathilde Fossy, “Dissiper la Brume”, leva-nos para além da pintura. A instalação convida os visitantes a vaguear por um espaço pontuado por folhas de acrílico. Nestes painéis estão inscritos os nomes dos alforriados de 1848, formando uma multidão simbólica. O caminho entre os nomes representa também um movimento do passado para o presente em que cada um de nós está envolvido. A escolha deste material transparente reflete o desejo de expor a verdade por detrás deste acontecimento, de esclarecer a situação.

Um portal digital para o museu histórico

O Museu histórico Villèle é um local emblemático de um período particular da história da sociedade de plantação marcada pelo cultivo de café, algodão e cana-de-açúcar.

Esta antiga propriedade, criada no final do século XVIII pelo casal Panon-Desbassayns, atesta o desenvolvimento da organização social e económica da ilha até aos anos 1970. Evoca o modo de vida de uma família de plantadores e trabalhadores, escravos, contratados e pequenos colonos cuja história está ligada à dos senhores.

O museu pretende contar a história da propriedade através dos edifícios, jardins e vestígios materiais e imateriais que caracterizam esta propriedade, bem como desenvolver um itinerário museográfico específico ao período da escravatura na Ilha da Reunião.

Na era digital, tornou-se imperioso criar um novo website de referência. Este portal web, organicamente ligado ao website do Museu histórico de Villèle, que se focaliza nas coleções, na oferta cultural e em eventos atuais, visa oferecer uma base de dados documental complementar composta por textos de investigadores, historiadores, arqueólogos, antropólogos, curadores, entre outros, agrupados no seio de um comité científico criado em 2018.

Apresentada como um centro de recursos atualizados especializado na sociedade de plantação, na propriedade Desbassayns, na história e memória da escravatura na Reunião, a arborescência permite aos cibernautas acederem a diferentes rubricas relativas a temas particulares: a Companhia das Índias, as famílias de plantadores, a economia açucareira, as famílias Panon-Desbassayns e de Villèle, o tráfico de escravos no Oceano Índico, o Code Noir (Código Negro), os trabalhadores contratados, a cronologia das abolições, o património cultural resultante da escravatura, os lugares de memória…

Um website para todos os públicos

Os textos escritos pelos participantes são frequentemente ilustrados por documentos iconográficos conservados em instituições patrimoniais da Reunião ou de França continental. Destinam-se tanto ao visitante curioso que procura informações gerais como a um público especializado (alunos, estudantes, professores, etc.) que deseje realizar uma investigação mais aprofundada e ter acesso aos conhecimentos fornecidos por investigadores de horizontes diferentes.

Um website evolutivo

O objetivo ambicioso deste website é, por um lado, criar um portal digital de referência, um instrumento de conhecimento dedicado à sociedade de plantação e à história da escravatura na Ilha da Reunião e, por outro lado, proporcionar aos investigadores, instituições patrimoniais, artistas, associações, entre outros, um espaço de liberdade que lhes permita contribuir para o progresso da investigação neste domínio.

Kayamb, bob, roulèr: novas aquisições para o museu

Três instrumentos emblemáticos da música tradicional da Reunião, fabricados por três músicos, entraram para as coleções do museu Villèle dia 20 de dezembro de 2018.

O Kayamb:

Realizado por Firmin Viry, é composto por uma caixa de ressonância feita de hastes de piteira e caules de flores de cana-de-açúcar, montado com um cordel e cola. É preenchido por sementes de cana-da-índia.

O Roulèr ou tambor com membrana:

Fabricado por Stéphane Grondin, consiste num barril de carvalho com anéis metálicos e extremidades truncadas, uma das quais é coberta com uma pele de boi cravejada.

 

O Bob ou arco musical:

Realizado por Johny Bily, é composto por um amplificador constituído por uma cabaça esvaziada, um chocalho (kaskavel) feito com folhas de pandano entrançadas preenchido com sementes de cana-da-índia, um arco de bois jaune (ochrosia bobonica) e de fibra de piteira que é percutido por uma baqueta (tikouti) em bois de gaulette (doratoxylon).

Quatro residências de artistas sobre “património e criação” integradas na comemoração

Christine Salem et Deborah Herbert
“Dos campos de cana aos cantos de algodão”

Dois artistas, duas vozes, da Ilha da Reunião e dos Estados Unidos, em residência de longa duração no museu e no bairro Villèle (2017, 2018) combinam o seu património musical, humano e cultural num repertório cruzado de cerca de quinze títulos.

Primeira atuação a 20 de dezembro no museu Villèle. Christine Salem (voz, kayamb), Déborah Herbert (voz) – Harry Périgone e Zélito Déliron (percussões). Coro Amadeus dirigido por Lydie Géraud – Lolita Tergémina (voz e direção).

 

Jean-Pierre Joséphine cognominado Jozéfinn’

 

Inspirado pela atmosfera particular do complexo museológico, pelo retrato litográfico “Célimène et sa guitare” (Célimène e a sua guitarra), conservado no museu Villèle, e em homenagem ao músico (1807-1864), Jozéfinn’ propõe uma composição de temas originais, bem como um arranjo de clássicos da música da Reunião. O artista pretende reunir no seu projeto a história do complexo museológico, os habitantes e os espaços naturais de Saint-Gilles-les-Hauts, de onde é originário.

Da cultura popular da Reunião a uma estética do oceano índico. A guitarra acústica de Jozéfinn será acompanhada por instrumentos de percussão: a timbila por Matchume Zango de Moçambique e a dumarimba por Bongani Sotshononda da África do Sul.

 

 

 

Max Boyer-Vaïtilingom

 

 

Após ter participado em projetos memoriais relacionados com a história da escravatura no mundo, o artista dedicará a sua residência à coprodução de um fresco pictórico e de um trabalho de escultura sobre o tema da transmissão intergeracional da memória da escravatura.

A escola primária de Villèle acolherá esta residência e envolverá alunos, professores, funcionários e pais.

 

 

 

Maxwell Southgate cognominado MAK1ONE
Residência criativa no exterior

 

 

 

Pioneiro do street art na África do Sul há 30 anos, reconhecido como um dos pais do movimento, MAK1ONE intervém no moringodrome de Saint-Gilles-les-Hauts. Esta residência reúne uma grande parceria: o museu Villèle, o município de Saint-Paul, o Comité do moringue da Reunião, a associação Kan Villèle e a ONG Baz Art (Cidade do Cabo).

 

 

Originário dos townships da África do Sul, MAK1ONE viveu os períodos de apartheid e pós-apartheid e reivindica a ascendência de Bushman & Khoi-san. Expôs na África do Sul, na Europa e nos Estados Unidos e encontrará agora os artistas de street art da Ilha da Reunião.

 

Exposição «Galeria de retratos» realizados pelos alunos do 2.° e 3.° ciclos do ensino básico

Uma exposição que mobiliza saberes históricos e expressão artística. Uma obra coletiva de imaginário realizada a partir de nomes de escravos presentes no testamento da Madame Desbassayns

  • 3300 alunos de 31 estabelecimentos
  •  projeção dos retratos na fachada do museu realizada pelo artista Lionel Lauret
  • exposição dos trabalhos dos alunos no primeiro andar do museu até julho de 2019

Extraits de l’exposition « Galerie de portraits »

Extraits de l’exposition « Galerie de portraits »

Compreender a História da escravatura através da imagem www.iconotouch.org

Uma ferramenta cultural inovadora, digital, táctil e itinerante – Iconotouch’ – já utilizada nos estabelecimentos escolares desde o início do ano letivo 2018/2019.

Para este ano de comemoração, o “Iconotouch” propõe uma experiência digital inédita: interagir através de imagens relacionadas com a escravatura, permitindo aos jovens adquirir novas competências através da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação.

Os objetivos são os seguintes:
→ familiarizar os alunos com a leitura de diferentes documentos iconográficos digitalizados
→ familiarizar os alunos com as “profissões” da escravatura, o tráfico de escravos, o marronage (fuga de escravos) e a abolição
→ sensibilizar os alunos para as questões da memória, da história e da formação para a cidadania através da história local.
www.ihoi.org

Aplicação móvel Kikoné?

Uma aplicação móvel inédita e disponível gratuitamente para download, com quizz temáticos para testar os nossos conhecimentos sobre a história da escravatura.

Destinada a todos os públicos e disponível nas plataformas App Store e Play Store.

Evolutiva, a Kikoné propõe, desde dezembro de 2018, 170 perguntas sobre seis temas relativos à escravatura: nomes de escravos, abolição, trabalho, castigos, cultura e culto e antropologia-sociologia-História.

Em 2019, a aplicação enriquece-se com a criação de uma sétima temática, “A abolição da escravatura no mundo”, com 71 novas perguntas.

Instalação de obra de arte Pietà William Zitte, Antoine du Vigneaux

Pintura em acrílico, Goni, 1992

Em homenagem ao artista Wilhiam Zitte, a sala do memorial do hospital dos escravos acolherá uma das suas obras: Piéta, realizada juntamente com Antoine Du Vignaux por ocasião da exposição Tet Kaf / Fet Kaf que teve lugar no museu Villèle em 1993.

A Pietà apresenta um ‘Cafre Espiritual’ que poderia muito bem ser uma possível terceira via, junto com o ‘Cafre Fiel’, submisso à dor e à abnegação, ou o ‘Cafre Rebelde’ cujas armas afolam as brasas ainda incandescentes.

Instalação de obra de arte Bann’ Maronèr Nathalie Maillot & Nelson Boyer

Escultura/instalação (ferragem, rede de arame, celulose, tinta, encáustica), bronze, 2012

Escultura monumental instalada nos jardins do museu no nível inferior ao da casa principal.

« Um Marron (escravo fugitivo) na vegetação, que observa o domínio de Madame Desbassayns. Queríamos simbolizar todos os insurgentes que não aceitam o domínio dos senhores sobre a sua existência e que, para sobreviverem, fogem para as montanhas, a única forma de viverem em liberdade. A gigantesca dimensão da obra pretende representar da força mental dos escravos fugitivos»
(Nathalie Maillot & Nelson Boyer)

Colóquio internacional
“A escravatura, um tema de história, um desafio de memória”

O colóquio internacional “Escravatura, um tema de história, um desafio de memória” foi o primeiro evento de várias manifestações no âmbito do 170.º aniversário da abolição da escravatura levadas a cabo pelo Departamento. Organizado pela Associação Histórica Internacional do Oceano Índico, este evento teve lugar de 28 de novembro a 1 de dezembro de 2018.

Fundada em 1960 após o primeiro congresso de arquivistas e historiadores do oceano Índico realizado em Antananarivo, a Associação Histórica Internacional do Oceano Índico (AHIOI) tem como objetivo promover estudos históricos e temas relacionados com os países do oceano Índico.

O historiador Prosper Eve, que preside à AHIOI, iniciou a Semana da História do Oceano Índico juntamente com a Associação dos Amigos de Auguste Lacaussade. Em 2018, no âmbito da comemoração do 170.º aniversário da abolição da escravatura, propôs, com a associação, organizar de um simpósio intitulado “A escravatura, um tema de história, um desafio de memória”.

A repetição das comemorações da abolição da escravatura em França parece-lhe, de facto, uma necessidade. A necessidade de lutar contra o esquecimento, para que o “lugar da memória” que é esta abolição, e num sentido mais lato a escravatura, não se torne um “lugar de amnésia” onde só o esquecimento trabalhou e trabalha, porque a sua memória pode parecer vir perturbar as questões da identidade e da memória em curso.

Para além do questionamento da memória, esta comemoração pretende também identificar, através da investigação e estudo históricos, as várias facetas deste objeto da história que é a escravatura, e, para além da narrativa nacional, definir da forma mais científica possível os contornos da nossa história.

Por fim, a reiteração de tal comemoração tem um propósito pedagógico, dirigido não só ao público das escolas e universidades, mas também a todos os cidadãos que estão confrontados com a presença no imaginário e na sociedade da sombra deste crime contra a humanidade.

Reuniu vinte e dois especialistas que apresentaram as suas pesquisas sobre quatro temas: a diversidade das abolições, a natureza híbrida da escravatura no oceano Índico, a transição para o período pós-escravatura e a era pós-escravatura