Um artigo redigido por o historiador Prosper EVE
Carece-se de fontes que forneçam um relato pormenorizado das pessoas escravizadas em geral e das mulheres escravas em particular. Por vezes, essas fontes são deliberadamente dissimuladas. Nos últimos anos, travei uma dura batalha a fim de obter a devolução da lápide oferecida pela família do seu senhor à escrava Delphine, que recebeu o nome «Hélod» quando foi alforriada em 1835. Roubaram-lhe esta lápide quando os restos mortais do poeta Charles Leconte de Lisle foram devolvidos ao cemitério marítimo de Saint-Paul, para dar uma sepultura decente, mas fictícia, ao pirata La Buse.
Em Saint-Benoît, o epitáfio escrito por Auguste Logeais para a escrava Cécilia, filha de Janvier, recusado pelos proprietários aquando da sua morte, foi afixado em 2021 à entrada do cemitério. É necessário envidar todos os esforços para salvaguardar os bens patrimoniais que possam lançar alguma luz sobre a história das mulheres escravizadas.
As mulheres escravizadas eram iguais aos homens no tocante ao trabalho e aos castigos. Eram propriedade do senhor, mas também dos homens escravos, sobretudo quando se casavam. Durante todo o período da escravatura, e especialmente durante o período de exploração do açúcar na colónia, as mulheres eram numericamente muito inferiores aos homens. Os tumultos entre homens e mulheres escravizados eram constantes. As mulheres escravizadas preferiam permanecer solteiras, porque como eram raras, ao escolherem viver em concubinato escapavam aos maus-tratos, pois os homens tinham medo de ser abandonados.
Por outro lado, o casamento podia expô-las à violência de um marido infiel, já que o juramento de fidelidade adverte o casal de que quem trai deve ser chicoteado publicamente pela vítima. Para evitar bater na mulher em público, o marido traído preferia corrigi-la na privacidade da cabana.
Ao viver em concubinagem, a mulher escravizada recusava submeter-se à dominação masculina. Devido às diferenças de estatuto, a situação permaneceu muito desigual e violenta na Reunião. A escravatura enfraquece o ser humano a tal ponto que os homens escravizados encontravam na violência infligida aos mais fracos (mulheres, crianças) uma forma de imitar o dominante, de se darem importância e de serem temidos.