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O tráfico de escravos no oceano Índico ocidental na segunda metade do século XIX

Um artigo redigido por o historiador Raphaël Cheriau.

Em 1881, o «Djamila», um navio com bandeira francesa, foi capturado com 94 escravos a bordo pela marinha britânica ao largo de Zanzibar, na costa oriental de África, no oceano Índico ocidental. Longe de ser irrisório, este incidente revela a importância do tráfico de escravos nesta zona marítima durante a segunda metade do século XIX.

Não obstante o seu vigor, este tráfico passou muitas vezes despercebido, como se estivesse na sombra do tráfico do atlântico. Este desconhecimento está ligado ao facto de existirem muito poucos arquivos sobre este tráfico no oceano Índico. Menos bem documentado do que o do Atlântico, é quase impossível estimar a verdadeira dimensão deste tráfico. Temos de nos limitar a estimativas aproximadas que indicam que entre 800 000 e mais de dois milhões de mulheres, homens e crianças teriam sido alvo de tráfico ao longo das costas da África Oriental durante o século XIX.

Como atesta o caso do Djamila, os navios de Zanzibar ou de Omã, veleiros equipados com uma ou duas velas triangulares, tornaram-se, para os europeus, a encarnação deste «derradeiro tráfico». Depressa se esqueceu que os europeus tinham dominado este «comércio infame» durante a primeira metade do século, antes de enveredarem pelo caminho da sua abolição.

Embora este tráfico tenha sido combatido no seu apogeu pelas potências coloniais europeias, só tardiamente entrou em declínio. De facto, o tráfico só entrou verdadeiramente no seu crepúsculo após a Grande Guerra, quando o comércio de tâmaras e pérolas árabes entrou em colapso devido à globalização das trocas.

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Exposição «Rostos de antepassados. Regresso da Coleção Froberville à ilha Maurícia»
De 21 de setembro a 1 de dezembro de 2024 no Château Royal de Blois

Desde 1940, o Château Royal de Blois conserva uma coleção de 53 bustos moldados a partir de antigos cativos africanos, na sua maioria pessoas escravizadas da ilha Maurícia. Esta coleção foi reunida na ilha em 1846 por Eugène de Froberville no âmbito do seu «levantamento etnológico» da África Oriental.

A exposição «Rostos de antepassados. Regresso da Coleção Froberville à ilha Maurícia» apresenta pela primeira vez o contexto desta coleção, graças a documentos inéditos. Testemunho excecional da história da escravatura, esta exposição, organizada pela cidade de Blois, foi concebida pelo serviço de conservação do Château Royal de Blois e por Klara Boyer-Rossol, historiadora e curadora científica. O evento é organizado em parceria com o Musée de l’Esclavage Intercontinental de Port-Louis (ilha Maurícia) e a Fondation pour la Mémoire de l’Esclavage.

O objetivo da exposição é dar voz aos indivíduos retratados nos moldes, oferecer uma nova leitura destes bustos, livre da «ciência das raças» e dos preconceitos, que é ao invés, centrada na cultura, na experiência e na história de cada indivíduo. A investigação histórica permitiu identificar os bustos e reconstituir algumas das trajetórias de vida das pessoas cujos rostos foram moldados. Esta exposição constitui também a fase preliminar da partida da coleção Froberville para a ilha Maurícia, onde será depositada no Musée Intercontinental de l’Esclavage, em Port-Louis, a partir de 2025.

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