Um artigo redigido por o historiador Raphaël Cheriau.
Em 1881, o «Djamila», um navio com bandeira francesa, foi capturado com 94 escravos a bordo pela marinha britânica ao largo de Zanzibar, na costa oriental de África, no oceano Índico ocidental. Longe de ser irrisório, este incidente revela a importância do tráfico de escravos nesta zona marítima durante a segunda metade do século XIX.
Não obstante o seu vigor, este tráfico passou muitas vezes despercebido, como se estivesse na sombra do tráfico do atlântico. Este desconhecimento está ligado ao facto de existirem muito poucos arquivos sobre este tráfico no oceano Índico. Menos bem documentado do que o do Atlântico, é quase impossível estimar a verdadeira dimensão deste tráfico. Temos de nos limitar a estimativas aproximadas que indicam que entre 800 000 e mais de dois milhões de mulheres, homens e crianças teriam sido alvo de tráfico ao longo das costas da África Oriental durante o século XIX.
Como atesta o caso do Djamila, os navios de Zanzibar ou de Omã, veleiros equipados com uma ou duas velas triangulares, tornaram-se, para os europeus, a encarnação deste «derradeiro tráfico». Depressa se esqueceu que os europeus tinham dominado este «comércio infame» durante a primeira metade do século, antes de enveredarem pelo caminho da sua abolição.
Século XIX. Água-forte; ampliação de cor.
Museu Histórico de Villèle, inv. 2018.2.26
Embora este tráfico tenha sido combatido no seu apogeu pelas potências coloniais europeias, só tardiamente entrou em declínio. De facto, o tráfico só entrou verdadeiramente no seu crepúsculo após a Grande Guerra, quando o comércio de tâmaras e pérolas árabes entrou em colapso devido à globalização das trocas.