Um artigo redigido por Albert Jauze, Doutor em História.
A ideia de uma relação de confiança entre as pessoas escravizadas e os seus senhores, que à primeira vista pode surpreender, merece ser analisada à luz das fontes arquivísticas. Os homens e as mulheres que tinham plena autoridade sobre os seus escravos testemunharam, de facto, em documentos autênticos, os laços que os uniam.
A confiança estabelecia-se de diversas maneiras. Começava na infância, entre a ama («nénaine») e a criança, prosseguindo ao longo da vida. Baseava-se no reconhecimento das qualidades da pessoa escravizada por parte do proprietário. O serviço dedicado, por vezes ao longo de várias gerações, bem como os cuidados prestados durante as doenças, contribuíam para reforçar esses laços.

Col. Arquivos departamentais da Reunião, inv. 26J16
Embora não seja explicitamente dito, é inegável que alguns desses escravos viviam sob o teto do senhor, quanto mais não fosse por razões práticas. No entanto, nada sabemos sobre os pormenores práticos deste facto, nem sobre a sua dimensão, pois os documentos não fornecem qualquer indicação.
Estamos perante uma realidade que difere grandemente das análises habituais relativas à escravatura na época moderna, as revoltas servis e o fenómeno de marronage (fuga de escravos). Seja como for, no tocante a estas relações particulares, continuamos a dispor apenas da perspetiva exclusiva dos senhores. Relativamente à perspetiva do indivíduo escravizado, encontramo-nos reduzidos a hipóteses vagas e como que inefáveis.