Um artigo redigido por Albert Jauze, Doutor em História.
A ideia de uma relação de confiança entre as pessoas escravizadas e os seus senhores, que à primeira vista pode surpreender, merece ser analisada à luz das fontes arquivísticas. Os homens e as mulheres que tinham plena autoridade sobre os seus escravos testemunharam, de facto, em documentos autênticos, os laços que os uniam.
A confiança estabelecia-se de diversas maneiras. Começava na infância, entre a ama («nénaine») e a criança, prosseguindo ao longo da vida. Baseava-se no reconhecimento das qualidades da pessoa escravizada por parte do proprietário. O serviço dedicado, por vezes ao longo de várias gerações, bem como os cuidados prestados durante as doenças, contribuíam para reforçar esses laços.
Embora não seja explicitamente dito, é inegável que alguns desses escravos viviam sob o teto do senhor, quanto mais não fosse por razões práticas. No entanto, nada sabemos sobre os pormenores práticos deste facto, nem sobre a sua dimensão, pois os documentos não fornecem qualquer indicação.
Estamos perante uma realidade que difere grandemente das análises habituais relativas à escravatura na época moderna, as revoltas servis e o fenómeno de marronage (fuga de escravos). Seja como for, no tocante a estas relações particulares, continuamos a dispor apenas da perspetiva exclusiva dos senhores. Relativamente à perspetiva do indivíduo escravizado, encontramo-nos reduzidos a hipóteses vagas e como que inefáveis.