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O tráfico de escravos no oceano Índico ocidental na segunda metade do século XIX

Um artigo redigido por o historiador Raphaël Cheriau.

Em 1881, o «Djamila», um navio com bandeira francesa, foi capturado com 94 escravos a bordo pela marinha britânica ao largo de Zanzibar, na costa oriental de África, no oceano Índico ocidental. Longe de ser irrisório, este incidente revela a importância do tráfico de escravos nesta zona marítima durante a segunda metade do século XIX.

Não obstante o seu vigor, este tráfico passou muitas vezes despercebido, como se estivesse na sombra do tráfico do atlântico. Este desconhecimento está ligado ao facto de existirem muito poucos arquivos sobre este tráfico no oceano Índico. Menos bem documentado do que o do Atlântico, é quase impossível estimar a verdadeira dimensão deste tráfico. Temos de nos limitar a estimativas aproximadas que indicam que entre 800 000 e mais de dois milhões de mulheres, homens e crianças teriam sido alvo de tráfico ao longo das costas da África Oriental durante o século XIX.

Como atesta o caso do Djamila, os navios de Zanzibar ou de Omã, veleiros equipados com uma ou duas velas triangulares, tornaram-se, para os europeus, a encarnação deste «derradeiro tráfico». Depressa se esqueceu que os europeus tinham dominado este «comércio infame» durante a primeira metade do século, antes de enveredarem pelo caminho da sua abolição.

Embora este tráfico tenha sido combatido no seu apogeu pelas potências coloniais europeias, só tardiamente entrou em declínio. De facto, o tráfico só entrou verdadeiramente no seu crepúsculo após a Grande Guerra, quando o comércio de tâmaras e pérolas árabes entrou em colapso devido à globalização das trocas.

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Exposição «Rostos de antepassados. Regresso da Coleção Froberville à ilha Maurícia»
De 21 de setembro a 1 de dezembro de 2024 no Château Royal de Blois

Desde 1940, o Château Royal de Blois conserva uma coleção de 53 bustos moldados a partir de antigos cativos africanos, na sua maioria pessoas escravizadas da ilha Maurícia. Esta coleção foi reunida na ilha em 1846 por Eugène de Froberville no âmbito do seu «levantamento etnológico» da África Oriental.

A exposição «Rostos de antepassados. Regresso da Coleção Froberville à ilha Maurícia» apresenta pela primeira vez o contexto desta coleção, graças a documentos inéditos. Testemunho excecional da história da escravatura, esta exposição, organizada pela cidade de Blois, foi concebida pelo serviço de conservação do Château Royal de Blois e por Klara Boyer-Rossol, historiadora e curadora científica. O evento é organizado em parceria com o Musée de l’Esclavage Intercontinental de Port-Louis (ilha Maurícia) e a Fondation pour la Mémoire de l’Esclavage.

O objetivo da exposição é dar voz aos indivíduos retratados nos moldes, oferecer uma nova leitura destes bustos, livre da «ciência das raças» e dos preconceitos, que é ao invés, centrada na cultura, na experiência e na história de cada indivíduo. A investigação histórica permitiu identificar os bustos e reconstituir algumas das trajetórias de vida das pessoas cujos rostos foram moldados. Esta exposição constitui também a fase preliminar da partida da coleção Froberville para a ilha Maurícia, onde será depositada no Musée Intercontinental de l’Esclavage, em Port-Louis, a partir de 2025.

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Mulheres escravizadas em Bourbon

Um artigo redigido por o historiador Prosper EVE

Carece-se de fontes que forneçam um relato pormenorizado das pessoas escravizadas em geral e das mulheres escravas em particular. Por vezes, essas fontes são deliberadamente dissimuladas. Nos últimos anos, travei uma dura batalha a fim de obter a devolução da lápide oferecida pela família do seu senhor à escrava Delphine, que recebeu o nome «Hélod» quando foi alforriada em 1835. Roubaram-lhe esta lápide quando os restos mortais do poeta Charles Leconte de Lisle foram devolvidos ao cemitério marítimo de Saint-Paul, para dar uma sepultura decente, mas fictícia, ao pirata La Buse.

Em Saint-Benoît, o epitáfio escrito por Auguste Logeais para a escrava Cécilia, filha de Janvier, recusado pelos proprietários aquando da sua morte, foi afixado em 2021 à entrada do cemitério. É necessário envidar todos os esforços para salvaguardar os bens patrimoniais que possam lançar alguma luz sobre a história das mulheres escravizadas.


As mulheres escravizadas eram iguais aos homens no tocante ao trabalho e aos castigos. Eram propriedade do senhor, mas também dos homens escravos, sobretudo quando se casavam. Durante todo o período da escravatura, e especialmente durante o período de exploração do açúcar na colónia, as mulheres eram numericamente muito inferiores aos homens. Os tumultos entre homens e mulheres escravizados eram constantes. As mulheres escravizadas preferiam permanecer solteiras, porque como eram raras, ao escolherem viver em concubinato escapavam aos maus-tratos, pois os homens tinham medo de ser abandonados.
Por outro lado, o casamento podia expô-las à violência de um marido infiel, já que o juramento de fidelidade adverte o casal de que quem trai deve ser chicoteado publicamente pela vítima. Para evitar bater na mulher em público, o marido traído preferia corrigi-la na privacidade da cabana.

Ao viver em concubinagem, a mulher escravizada recusava submeter-se à dominação masculina. Devido às diferenças de estatuto, a situação permaneceu muito desigual e violenta na Reunião. A escravatura enfraquece o ser humano a tal ponto que os homens escravizados encontravam na violência infligida aos mais fracos (mulheres, crianças) uma forma de imitar o dominante, de se darem importância e de serem temidos.

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A «casa» de Kervéguen

Um artigo redigido por o historiador Jean-François Géraud.

Os habitantes da Reunião não desconhecem o nome Kervéguen, porém não lhe conhecem o significado. O nome designa, por exemplo, uma encosta, um armazém, um auditório e algumas ruelas, elementos do património natural ou material. Todavia, não se refere, de forma alguma, a seres humanos, a uma certa família, quase como se fosse uma dinastia que, no entanto, influenciou a história económica da Reunião, se é que não moldou verdadeiramente o seu destino.

De facto, durante quatro gerações, a família Kervéguen, estabelecida principalmente no sul da ilha, em Saint-Pierre, desenvolveu uma atividade económica que contribuiu para a prosperidade da ilha e, sobretudo, para o seu próprio enriquecimento. A família Kervéguen é um exemplo da abundante migração de franceses da França continental para as colónias e, em particular, para a ilha de Bourbon, ou seja, a Reunião, que, desde o final do século XVII até ao início do século XX, viram na ilha um porto seguro e uma terra de oportunidades. Muitos deles eram oriundos da região da Bretanha, habituados a fazer-se ao mar, e provavelmente constituíam 30 % dos primeiros povoadores da ilha, sem que o fluxo se tenha esgotado a partir daí. Eram também fidalgotes provincianos que se sentiam ameaçados e privados de qualquer perspetiva no contexto da revolução francesa.

Este foi o caso do primeiro Kervéguen, que chegou a Saint-Pierre no final do século XVIII, em 1796, um fidalgote sem renome, mas que colocou a sua habilidade, dinamismo e audácia ao serviço de uma história de êxito que se concretizou a pouco e pouco. Os elementos deste sucesso, que seria prosseguido pelos seus descendentes, são o comércio, os casamentos lucrativos e o talento para os negócios resultantes da conversão para o açúcar. A estratégia do primeiro membro da linhagem Kervéguen, Denis Marie, é retomada de forma quase idêntica pelo filho Gabriel, pelo neto Denis André e pelo bisneto Robert.
Acumularam terras plantadas com cana-de-açúcar em Saint-Pierre, Saint-Joseph, Saint-Philippe, Étang-Salé e, mais tarde, no Quartier Français, a leste. Construíram cerca de uma dúzia de fábricas de açúcar e três destilarias. Ali se concentraram mais de 1500 escravos, seguidos por nada menos que 3200 trabalhadores contratados, que tratavam com a mesma severidade que os outros habitantes proprietários. No entanto, estes proprietários foram sensíveis à evolução da conjuntura económica, modernizando e concentrando progressivamente a ferramenta de trabalho e realizando investimentos que, no início do século XX, se revelariam indiscutivelmente demasiado arriscados. A esta perícia económica juntou-se uma destreza financeira que, por vezes, se assemelhava a vigarice. É este o retrato de uma família de imitadores que, contrariamente aos Desbassayns, e pese embora a mudança de escala, não foi genuinamente fundadora nem criadora.
A sua ousadia e o seu saber-fazer inscrevem-se num contexto estritamente local, onde rareavam os representantes metropolitanos ou internacionais. Estas competências não bastaram para fazer face às dificuldades e aos constrangimentos de uma conjuntura mundial que acabou por se manifestar desfavorável à atividade açucareira colonial. Tanto mais que, geração após geração, os chefes desta família continuaram a querer viver o modo de vida onírico do fidalgote revanchista, subestimando as grandes ruturas sociopolíticas que converteram os escravos em homens livres e que deveriam ter tornado os trabalhadores alforriados ou contratados em homens responsáveis. Essa classe dominante tentou perpetuar padrões autoritários sobre uma população que recusavam ver como independente. O desfasamento relativamente à realidade histórica, que se tornou insuportável após a Primeira Guerra Mundial, provocou, indubitavelmente, no descendente desta dinastia, Robert de Kervéguen, um sentimento de irrealização e de fracasso, que o levou a liquidar os seus negócios da Reunião, a abandonar a colónia e a regressar à França continental para viver das rendas obtidas num país cujo destino a sua família nunca partilhou verdadeiramente.

Não é, pois, de estranhar que estes homens, que se encontravam numa posição predatória, não tenham deixado outra memória para além da memória, impessoal, plasmada em alguns lugares de segunda categoria.

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Os escravos «Moçambiques» em Bourbon, de acordo com as notas manuscritas de Eugène Huet de Froberville tomadas durante a sua estadia na ilha em 1845

Um artigo redigido por o historiadora de África Klara Boyer Rossol.

Nascido no seio de uma família aristocrática franco-mauriciana, Eugène Huet de Froberville (1815-1904) era um abastado rentista versado em artes e ciências.

Na década de 1840, dedicou-se a um estudo etnológico aprofundado sobre «as línguas e as raças da África Oriental a sul do equador», realizando a sua investigação com o apoio de antigos cativos africanos deportados para as Ilhas Mascarenhas através do comércio ilegal de escravos.

Em novembro de 1845, durante a sua curta estadia em Bourbon, Froberville entrevistou cerca de duzentos «Moçambiques», deles recolhendo vocabulários de línguas da África Oriental e relatos que atestam a violência da escravatura nesta ilha de plantação colonial. Nascido nas Maurícias numa família de proprietários de escravos, Eugène Huet de Froberville ter-se-á conscientizado, durante a sua estadia em Bourbon, da necessidade de abolir a escravatura nas colónias francesas.

A família Huet de Froberville forjara laços estreitos com famílias de colonos franceses originários das ilhas Maurícias (que se tornariam inglesas em 1810) que se haviam estabelecido em Bourbon na década de 1820, como por exemplo as famílias Lory e de Tourris, com quem Eugène de Froberville e a esposa permaneceram durante a sua estadia em Saint-Denis, Sainte-Marie e Sainte-Suzanne.

Prosper Eugène Huet de Froberville]. Eugène Maurice.
1891. Photographie sur plaque de verre.
Coll. Bibliothèque nationale de France, SG PORTRAIT-2146

Froberville aprendeu vocabulários de línguas da África Oriental, graças a escravos dessas famílias, que registou em cadernos. Há muito conservados nos arquivos particulares de Froberville (em França), os cadernos, as anotações manuscritas, a correspondência e os desenhos de Eugène de Froberville são fontes inestimáveis para reconstituir a sua investigação em Bourbon e transmitir as vozes de africanos escravizados.

Dos «Moçambiques» entrevistados por Froberville em Bourbon, foi possível identificar quatro homens e uma mulher, cujos nomes, origens, línguas, práticas culturais, bem como uma parte das suas trajetórias de vida foram reconstituídos. Deportados por volta de 1820-1830 do atual Moçambique para Bourbon, essas pessoas faziam parte dos últimos cativos a serem escravizados nesta colónia francesa do oceano Índico. A conservação das línguas, dos nomes originais e das práticas culturais da África Oriental no contexto da escravatura surgem como formas de resistência destes sobreviventes da travessia forçada dos mares.

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Klara Boyer-Rossol é historiadora e curadora. A sua tese de doutoramento sobre os «Makoa» em Madagáscar ocidental (Universidade Paris 7) foi galardoada com o prémio de tese 2015 do Comité Nacional para a Memória e História da Escravatura (CNMHE). Investigadora e membro do Centro Internacional de Investigação sobre a Escravatura e a Pós‑Escravatura (CIRESC), é atualmente bolseira internacional (2024-2025) no Bonn Center for Dependency and Slavery Studies (BCDSS) da Universidade de Bona.

A espingarda de François Mussard, caçador de marrons (escravos em fuga)

10 de maio de 2024. Por ocasião da 19.° Jornada nacional da memória das escravaturas, dos tráficos de escravos e respetivas abolições, em parceria com a Fundação para a memória da escravatura, o Museu histórico de Villèle apresenta «A espingarda de Mussard».

Pensa-se que esta arma é a famosa espingarda oferecida pelo Rei Luís XV a François Mussard, um célebre caçador de escravos da ilha Bourbon, como agradecimento pelos seus serviços. A fim de instigar a caça de escravos fugitivos, a Companhia das Índias oferecia amiúde presentes de prestígio em nome do Rei de França.

Em 1754, a Companhia das Índias presenteou François Mussard, o caçador de escravos «marrons» e chefe de um destacamento militar, com uma espingarda e duas pistolas ornadas a prata com as armas da Companhia, como prova de satisfação pelos serviços prestados.

Inscrição gravada na coronha: DONNE PAR LE ROY (Oferecida pelo Rey)

No século XVIII, disparar espingardas com mecanismo de pederneira era bastante complexo, sendo que apenas os melhores caçadores eram capazes de disparar e recarregar repetidamente, continuando, ao mesmo tempo, a perseguir os escravos fugitivos.
Graças ao exame da espingarda, descobriu-se que a ignição da mesma não ocorre por meio de uma fecharia de pederneira, mas sim de um sistema de espoleta de percussão, mais moderno, inventado em 1807 (data do registo da patente), que funciona da seguinte forma: o cão bate numa espoleta de fulminato de mercúrio, a primeira a reagir ao choque…

Porém, vê-se claramente que a fecharia foi concebida para um sistema de pederneira (furos na frente) e que a caçoleta foi posteriormente cortada e substituída por um «ouvido». Efetuada após o aparecimento das fecharias de espoleta, esta alteração não põe em causa a datação da espingarda nem o vínculo com o seu antigo proprietário, tal como no caso de inúmeras armas no início do século XIX que continuaram a ser utilizadas após essa data.

«Espingarda de Mussard, transmissora da memória»

Exposição apresentada no primeiro andar do Museu de Villèle até dia 20 de dezembro de 2024.

«Utilizada na caça de animais, a espingarda era primeiramente um objeto de caça, tornando-se mais tarde um objeto de transmissão da memória já que fora utilizada no massacre de escravos perpetrado na altura.»

Em 2023, no âmbito do dispositivo «a turma, a obra!», a espingarda de François Mussard constituiu o ponto de partida do projeto dos alunos do liceu profissional François de Mahy, em Saint-Pierre (Ilha da Reunião).

Aquando da Noite Europeia dos Museus, os alunos do 11.° ano da especialização em Comunicação visual e multimédia apresentaram, no primeiro andar do museu, uma interpretação gráfica em torno desse objeto patrimonial.

O mural, por eles concebido e realizado, tem por foco a confusão entre o ser humano e o animal, a caça e o escravo, através da criação de quimeras. Os alunos também representaram plantações cultivadas a partir do século XVII pelos escravos, como o algodão, o café e a cana-de-açúcar.

AUTORRETRATO DE FRANÇOIS MUSSARD

Realizado por um aluno do liceu François de Mahy

Conhecido apenas pelo meu patronímico, Mussard, o meu apelido François limita-se a aumentar o medo que inspiro. Nasci em 25 de novembro de 1718 em Argenteuil. Sou filho de colonos.

Sou o célebre caçador de escravos em fuga na Ilha Bourbon. Dizem quem sou responsável pela «purga» de quase todos os acampamentos desses fugitivos e reza a lenda que executei pessoalmente os seus principais chefes, dos quais Mafate e Cimendef. No século XVIII, os escravos começaram a fugir dos seus senhores, refugiando-se nas montanhas onde criavam uma verdadeira organização em acampamentos. Contudo, viam-se amiúde obrigados a regressar ao litoral a fim de roubar gado, armas ou até escravas. Fartos destes ataques intempestivos, os proprietários resolveram oferecer recompensas a quem os desemboscasse e matasse. Juntamente com os meus homens, organizámos expedições punitivas altamente eficazes, com vista a desemboscá-los. Não sou o único caçador, mas eu o os meus homens somos conhecidos pela nossa tenacidade. Chamam-me «o incansável» e atribuem-me a sinistra qualidade de poder recarregar a minha espingarda, continuando, ao mesmo tempo, a correr. Não aguardei ordens oficiais para organizar milícias, pelo que sou considerado um dos melhores nessa tarefa que a partir de 1744 seria remunerada.

Em 1754, a Companhia das Índias ofereceu-me uma magnífica espingarda bem como duas pistolas com coronha de prata, como recompensa pelos meus serviços. Quando o fugitivo é capturado vivo, sou impiedoso, punindo-o em conformidade com o artigo 38.° do Código Negro cuja versão da Ilha da Reunião data de 1724.

Chicotadas, uma orelha cortada e uma flor-de-lis tatuada na pele aquando da primeira transgressão, uma segunda flor-de-lis tatuada e o tendão de Aquiles cortado aquando da segunda, a condenação à forca ou à roda aquando da terceira.

Eu, «Explorador das montanhas», deixei o meu nome em vários locais geográficos notáveis, dos quais a caverna Mussard, situada a cerca de 2150 metros de altitude no coração do Piton des Neiges.

©Liceu profissional François de Mahy, Saint‑Pierre (Ilha da Reunião).
Todos os direitos reservados

20 désanm
Feriado na Ilha da Reunião
1983-2023

Brochura escrita pelo historiador Gilles GAUVIN.

Desde a sua primeira edição em 2018, o Gran 20 Désanm, organizado pelo Departamento da Reunião no Museu de Villèle, tem a finalidade, através de todos os tipos de suporte, de proporcionar uma ampla difusão dos conhecimentos relativos à história da escravatura na Reunião, da sua abolição, das marcas que deixou, bem como da celebração do fim deste período sombrio da nossa história.

Parte integrante deste objetivo, a brochura foi publicada por ocasião do quadragésimo aniversário da lei de 30 de junho de 1983 que instituiu como feriado a data em que a abolição da escravatura foi proclamada na Ilha da Reunião.

As análises do historiador Gilles Gauvin elucidam-nos quanto a estas quatro décadas em que o nosso 20 Désanm se foi estabelecendo progressivamente e serenamente no calendário oficial, cultural e memorial da ilha.

Cartas Patentes de 1723
Exposição no Museu de Villèle
de 19 de dezembro de 2023 a 31 de março de 2024

Por ocasião do Gran 20 désanm 2023, o Museu histórico de Villèle e os Arquivos Departamentais da Reunião convidam-no a descobrir o conjunto das Cartas Patentes de 1723, mais conhecidas como Code Noir des îles de France et de Bourbon (Código Negro das ilhas de France e de Bourbon).

Este código de 54 artigos, inspirado no das Antilhas de 1685, entrou em vigor na ilha Bourbon em 1723 e determinava os direitos e deveres de senhores e escravos, bem como a manutenção da ordem, durante todo o período esclavagista. As principais disposições dizem respeito ao registo de nascimentos, matrimónios e óbitos, à prática da religião, ao trabalho, à incapacidade civil dos escravos etc.

A exposição encontra-se apresentada nos jardins do museu de Villèle, estando também acessível online.

My Name is February
Exposição Museu de Villèle 
18 de dezembro de 2023-30 de outubro de 2024

Identidades enraizadas na escravatura

De dia 18 de dezembro de 2023 a dia 30 de outubro de 2024, o Museu histórico de Villèle recebe a exposição My Name is February (O meu nome é February) concebida pelo Museu Iziko Slave Lodge na Cidade do Cabo, África do Sul.

A Ilha da Reunião e a África do Sul partilham uma história comum de escravatura. A fim de partilhar esta história, o Departamento da Reunião assinou um acordo de parceria com os Museus Iziko da África do Sul. Este acordo inscreve-se no âmbito do projeto de criação do Museu da propriedade e da escravatura na Ilha da Reunião. O acordo resultará num intercâmbio de exposições entre o Museu Villèle e o Slave Lodge Museum, duas instituições patrimoniais que trabalham sobre o mesmo tema, centrado na história da escravatura.
No final de 2023, os visitantes podem esperar uma série de exposições interdisciplinares. Enquanto os africanos descobrem The Name of Freedom (O Nome da Liberdade), uma exposição dos Arquivos departamentais da Ilha da Reunião, desde 1 de dezembro, os visitantes de Villèle poderão ver My name is Frebruary (O Meu Nome é fevereiro) a partir de 19 de dezembro.

Os escravos foram levados para o Cabo pela Companhia Holandesa da Índias Orientais com vista a servirem de mão de obra forçada na colónia do Cabo em expansão. O primeiro navio carregado de escravos foi enviado em 1658 e desde esse ano até inícios do século XIX, mais de 63 000 homens, mulheres e crianças foram arrancados aos seus lares situados em Madagáscar, Moçambique, Zanzibar, na Índia ou até nas ilhas das Índias Orientais tais como Sumatra, Java, Celebes, Ternate e Timor (Indonésia), para serem levados para o Cabo enquanto escravos.
Despossuídos das suas casas, famílias, amizades, cultura, língua, religião e identidade, os escravos tornavam-se propriedade de outrem, deixavam de ter qualquer direito sobre os próprios filhos, a sua produção e reprodução eram controladas, não podiam possuir bens e tampouco fruíam da liberdade de escolher para quem trabalhariam ou o tipo de trabalho que efetuariam.
Inicialmente, a Companhia Holandesa da Índias Orientais era a principal proprietária de escravos do Cabo contudo, com o passar do tempo, cada vez mais cidadãos livres (chamados “free burghers”) ocupavam as terras do Cabo onde também obrigavam os escravos a trabalhar pelo que, no início do século XVIII, o número de pessoas escravizadas que “pertenciam” a cidadãos livres aumentou.
Os “escravos da Companhia” mantinham, em regra geral, o seu nome – embora os funcionários se equivocassem na ortografia acrescentando-lhe o nome da sua região de origem (por exemplo, Abasembie van Zanzibar, Nelanga van Mosambique, Mabiera from Madagascar, Toemat van Sambouwa, Domingo van Malabar etc.) –, ao passo que os cidadãos livres davam novos nomes aos “seus” escravos, despossuindo-os da sua identidade.
Por vezes, os cidadãos livres escolhiam nomes clássicos para os escravos, amiúde inspirados em imperadores ou numa figura mítica, tais como Alexandre, Hector, Tito, Aníbal, mas também nomes do Antigo Testamento como Adão, Moisés, Abraão e David, ou ainda nomes ridículos e injuriosos como por exemplo Dikbeen e Patat. No entanto, vários eram os proprietários que atribuíam aos escravos o nome do mês em que chegavam ao Cabo, por exemplo February, April e September.

Realizada com base em entrevistas a pessoas cujos apelidos derivam de meses do calendário, esta exposição abre uma reflexão sobre a forma como o passado esclavagista, frequentemente esquecido e negligenciado, moldou o nosso património, não só no Cabo, mas em toda a África do Sul. Ao contar esta história, queremos prestar homenagem às milhares de pessoas, desenraizadas à força de várias partes de África e da Ásia, que foram trazidas para o Cabo e cujo trabalho contribuiu para a edificação de cidades, aldeias e explorações agrícolas na África do Sul.

«Se decidir deitar-se, ficará deitado. Mas cabe-lhe a si decidir erguer-se – e eis as histórias das pessoas que se ergueram. São histórias de esperança.»                                                                                                                                                                                                                                                   Arcebispo Emérito Desmond Tutu

Melodia da água,
Meus pés descalços vão pelos trilhos,
Marron renasço

Uma criação em residência de Geneviève Alaguiry

A residência de criação em Villèle, que arrancou na segunda-feira dia 16 de outubro de 2023, resulta da vontade de realizar uma obra escultural centrada na personagem do marron (escravo fugitivo) e será apresentada no âmbito da manifestação anual Gran 20 Dessanm no sítio do Museu de Villèle.

A artista Geneviève Alaguiry, foi a pessoa convidada para realizar este projeto. No passado, as suas obras em pasta de papel cativaram a atenção, sobretudo devido ao resultado especial do seu trabalho nos últimos anos.

Na verdade, esta residência de criação tinha um duplo objetivo, por um lado o de criar uma obra original sobre a figura do marron e, por outro, envolver os jovens do curso 31 da Académie des Dalons¹ no processo de criação artística, permitindo-lhe descobrir o ofício de artista plástico e apreender a arte e a criação em geral.

Os jovens da Academie des Dalons trabalham no esqueleto da escultura

A escultura realizada em pasta de papel evoca os maronèr è maronèz (escravos e escravas em fuga): figuras emblemáticas da liberdade na Reunião. Consiste em cinco bustos de homens, mulheres e crianças que emergem das vertentes das montanhas do interior da ilha, representando algumas etnias de relevo oriundas de Madagáscar, da Índia ou, até, crioulos nascidos na ilha, que contribuíram, em parte, para a formação da população reunionense atual.

Geneviève Alaguiry desejou realçar não o sofrimento, mas a esperança e os sonhos dos maronèr è maronèz, tornados realidade para alguns deles, representando os rostos tranquilos, com os olhos fechados, personagens sorridentes, a cabeça levantada na direção desse ideal de vida livre, de um futuro a construir. As suas cabeças emergem e ocupam literalmente um lugar de destaque nas duas cadeias montanhosas separadas pelo rio, o fio vermelho que atravessa o seu percurso, símbolo da vida.

Melodia da água, Meus pés descalços vão pelos trilhos, Marron renasço. Escultura de Geneviève Alaguiry. 2023

Não só emergiram das montanhas como também as formaram. Foram eles, os nossos Cimandef, Marianne, Anchaing, Héva, Mafate etc., os primeiros a descobrirem o interior da ilha, os lugares mais recônditos e os cumes mais altos. Foram eles que se apropriaram do que o território tinha de mais rude, aspeto esse que não era desconhecido, mas a artista mostra que o domaram. Os trilhos são revelados por folhas de ouro, cor de luz e de perfeição. A luz, por comparação com a vida, fala-nos de pessoas do passado, da morte social e da invisibilidade dos humanos escravizados. A vida, uma vida livre em fuga. O marron passa da asfixia da condição à qual estava subjugado para a perfeição, através de uma liberdade adquirida arduamente: «(…) Marron renasço».

Geneviève Alaguiry é uma artista plástica nascida em 1986 na ilha da Reunião. Em 2011, obteve o diploma nacional superior de expressão plástica na Escola Superior de Belas-artes da Reunião, e desde há muito tem vindo a desenvolver a pesquisa sobre a condição humana, tema que leva a questionar o contexto social do século XXI, enraizado na mercantilização dos indivíduos e do mundo.

Artista pluridisciplinar, Geneviève Alaguiry navega entre o desenho, a escrita, a performance, a instalação, o vídeo/a animação, a escultura e a fotografia, tendo participado em diversas exposições coletivas e efetuado residências em Paris, Maurícias e Reunião.


¹ Da Académie des Dalons é um dispositivo experimental de inserção social e profissional iniciada pelo Departamento da Reunião, destinado a alunos voluntários e motivados com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos

Em Destaque
Os efeitos da escravatura colonialista na função paterna na Ilha da Reunião

Um artigo redigido por  David GOULOIS, Doutor em Psicologia, psicólogo clínico, psicopatologista.

 

18- Saint-Denis de la Réunion – Rivière des Pluies – uma palhota à sombra de coqueiros. Década de 1950. Fotografia. Col. Museu Léon Dierx, Acervo Hibon de Frohen, ME.2020.1.50.13

O presente artigo debruça-se sobre a função paterna na ilha da Reunião. Consideramos que o contexto de sociedade do passado e do presente originou um “ser pai”, facto que acarreta consequências psicopatológicas para a vida familiar: a escravatura terá levado à ausência do pai e da sua autoridade, causa e consequência da matrifocalidade transmitida através das gerações. Propomos aqui uma leitura desta problemática segundo a perspetiva etnopsicanalítica.


Palavras chave:
escravatura – paternidade – matrifocalidade – violência – Ilha da Reunião – etnopsicanálise

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Colóquio «O escravo, o ser humano»
de 22 a 25 de novembro de 2023

O ano de 2023 marca o tricentenário das Cartas Patentes de dezembro de 1723 (Código Negro). Para assinalar a ocasião, a Associação Histórica Internacional do oceano Índico (AHIOI), em parceria com o Departamento da Reunião, dedica a Semana da História do oceano Índico ao colóquio internacional «O Escravo, o Ser Humano».
O colóquio contará com a presença de investigadores de várias áreas e realizar-se-á de 22 a 25 de novembro de 2023.

 

1723. Um ano marcante para a ilha Bourbon em termos de organização judiciária e de codificação da escravatura.

 

A criação do Conselho Provincial na Ilha de França e a substituição do da Ilha Bourbon por um Conselho Superior pelo édito de novembro de 1723, não alterou a legislação aplicável por ambos os tribunais que continuou a ser a das ordens reais de 1667 e 1670. No entanto, tal como o édito de março de 1711, o édito de novembro de 1723 não mencionava medidas especificamente destinadas aos escravos.
Durante as suas reuniões de novembro de 1718, o Conselho Provincial redigiu um decreto à semelhança das práticas vigentes na Martinica. Um excerto desse documento dedicado aos castigos estipula que «os escravos condenados por rebelião seriam supliciados vivos e deixados a morrer na roda». Não eram tempos de compaixão para com aqueles que perturbavam a ordem social.
Em dezembro de 1723, o rei Luís XV assentiu às pretensões da Companhia Francesa das Índias Orientais de dispor de um texto exaustivo relativo ao estatuto dos escravos, emitindo cartas-patente sobre o estatuto, a condição e a qualidade dos escravos, com base no Código Negro de 1685 criado para as Antilhas.

 

2023. Este ato legislativo, redigido no início do Século das Luzes, que define o ser humano conhecido como escravo como um móvel com alma, já suscitou inúmeras análises, incluindo a de Louis Sala-Molins, minuciosa e sem rodeios, que três séculos mais tarde, merece ser novamente objeto de debate.

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Em Destaque
Um outro olhar sobre os escravos resistentes durante o último século da escravatura (1750-1848)

Um artigo redigido por o historiadora Audrey Carotenuto

Durante o último século em que o regime da escravatura vigorou, os trabalhadores forçados da Reunião continuavam sem se submeter, sem esperar pacientemente por uma hipotética emancipação numa sociedade que se tornaria branda para com eles. A violência colonial que viviam era uma realidade diária contra a qual procuravam possíveis formas de preservação.

A evasão. Tony de B., del.; Félix, sc. Estampa. In Les marrons de Louis Timagène Houat. Ebrard, 1844.
Col. Arquivos departamentais da Reunião. Biblioteca administrativa e histórica, inv. BIB2896.12

Embora não fosse espetacular, o seu heroísmo consistia na adaptabilidade face à coerção feroz do sistema repressivo. Desta forma, perpetuaram os modos de resistência existentes desde o início desse regime, num processo permanente de ajustamento.
Serão utilizados três exemplos extraídos de arquivos judiciais para destacar os três modos dominantes de oposição servil e proporcionar a oportunidade para apresentar alguns dos resultados quantificados e comparados ao longo dos últimos cem anos da escravatura.

A primeira grande família de oposição é a da resistência de preservação. Os escravos partilhavam uma história comum de desenraizamento cultural: cada pedaço de tradição preservado, quer fosse a dança, o canto ou os contos, era uma vitória contra a destruição da sua identidade. Algumas mulheres, através da supressão dos nascimentos, recusavam-se a dar à luz a violência. Mas é a preservação material que mais se destaca nos arquivos, pois dava origem a ações ilegais.

A segunda família de oposição é a da resistência-rutura: o marronnage é a forma de negação que melhor se adaptava à geografia da ilha, pontuada por colinas hostis e desabitadas; marcando a inadaptação dos novos Negros ou a nostalgia dos malgaxes, a fuga pode ser impulsiva, de curta duração ou permanente. A maioria dos malgaxes fugia por mar, refletindo o seu sonho de regressar à terra dos seus antepassados.

Por fim, a resistência-agressão, que consistia na deterioração e destruição dos bens de produção ou que visava diretamente os colonos, e que englobava todas as formas de violência através das quais os escravos tentavam quebrar as suas correntes, incluindo contra si próprios.

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Inauguração do Museu Intercontinental da Escravatura em Port-Louis (Maurícias)

O Museu Intercontinental da Escravatura abriu as suas portas ao público a 4 de setembro de 2023 em Port-Louis (Maurícias), doze anos após os trabalhos da Comissão Justiça e Verdade para reconciliar a população das Maurícias com a sua história.

Este novo museu dedicado à escravatura encontra-se instalado no antigo hospital militar de Port-Louis, um dos primeiros grandes edifícios da antiga colónia francesa, construído em 1740 por Mahé de Labourdonnais, governador da ilha de França.

Vista de Port-Louis Oeste. 1859. Col. Museu Blue Penny

Construído por escravos, este local está repleto de significado, guardando em si uma história dolorosa da ilha. O seu restauro resultou de um projeto que durou vários anos financiado pelo Governo das Maurícias, por donativos da lotaria do património, bem como por contribuições de França, do Japão e dos Estados Unidos. Investigadores e estudantes da Universidade de Nantes e do Museu d’Aquitaine de Bordéus contribuíram com os seus conhecimentos para a conceção dos diversos espaços do museu.

A cenografia tem por desafio fazer com que os visitantes mergulhem na atmosfera, permitindo-lhes sentir as emoções fortes ligadas a esta história. A intenção é dar voz aos escravos, mostrar em que condições resistiram mais do que em que condições físicas viviam.
A experiência é multissensorial, encontrando-se expostos documentos sobre a cultura e a música dos escravos. Numa das salas estão dispostos altifalantes que transmitem as primeiras melodias séga jamais conservadas em partituras e, noutra sala, pode ver-se um exemplar original do Code noir (Código Negro), emprestado pela biblioteca Carnegie de Curepipe. Esse documento, redigido durante o reinado de Luís XIV, regia o estatuto das pessoas escravizadas. As peças expostas incluem objetos que pertenceram a escravos, descobertos durante escavações arqueológicas num antigo cemitério de Albion em 2021 e 2022: botões, ferramentas de osso, brincos e um rosário.

Os visitantes poderão descobrir, sobretudo, uma imagem perturbadora e comovente: sessenta e três bustos etnográficos realizados por Eugène de Froberville em 1846 numa plantação das Maurícias. Estes rostos de gesso foram moldados em escravos africanos provenientes de Moçambique, da Tanzânia e das Comores. Os bustos, que pertencem ao município de Blois, em França, e que se encontram no castelo, estão atualmente apresentados em formato digital. A ISM Mauritius Ltd e a cidade de Blois assinaram um acordo para que os bustos sejam expostos em Port-Louis assim que todas as condições de conservação no museu estejam reunidas.

Atualmente em exibição, a exposição está numa fase de prefiguração que estabelece as bases do que será o museu quando estiver totalmente pronto.

 

 

Em destaque
Igreja, Estado e Escravatura

As famílias vendidas como «bens nacionais» na ilha da Reunião durante a Revolução Francesa

Um artigo redigido por  Nathan Elliot Marvin, historiador na Universidade do Arkansas em Little Rock.

Em 1789, a Assembleia nacional constituinte em Paris tomou posse dos bens da igreja católica em França. Nas colónias, esses bens incluíam milhares de escravos que viviam nas propriedades pertencentes às instituições religiosas ou por elas geridas.

Álbum da Reunião. Igreja do bairro de Saint-Leu. Louis Antoine Roussin. 1880. Litografia.
Col. Museu Léon Dierx, inv. Museu Léon Dierx, inv. 1984.07.04.14

Em 1793, na ilha da Reunião, mais de 300 escravos de padres lazaristas foram repertoriados como «bens nacionais» e vendidos em hasta pública, sob a direção de um comissário civil enviado pela Primeira República.

O presente artigo analisa as vivências dessas pessoas, trazendo à luz as suas vidas quotidianas nas «propriedades eclesiásticas» antes do período revolucionário, os seus atos de resistência, bem como os seus esforços para conservar os laços familiais não obstante as vendas forçadas.

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Em destaque
Maison Rouge em Saint-Louis: da família Desforges-Boucher à família Bénard (1722-1971)

Um artigo redigido por Bernard Leveneur, curador territorial do património

A Maison Rouge é uma grande propriedade rural antiga situada no sul da Reunião (outrora denominada Île Bourbon) que, como era frequente na ilha, deu o nome a um bairro da comuna de Saint-Louis. É um testemunho da evolução da economia da plantação desde as suas origens até aos anos setenta.

Inicialmente pertencente à família Desforges-Boucher, a propriedade partilha a sua história com a de outras propriedades Desforges-Boucher que, através da cultura do café e da produção de géneros alimentícios, encarnavam as opções económicas efetuadas pela Companhia das Índias.
Nessa altura, já existia uma casa senhorial com pátio e dependências, incluindo um acampamento de escravos, na fronteira entre a savana e os campos cultivados.

A propriedade Maison Rouge. Fotografia de Mickaël Gresset. Todos os direitos reservados

Quando a propriedade passou para a posse dos Murat e, depois, dos Hoareau no século XIX, a atividade cafeeira desvaneceu-se, dando lugar à produção de açúcar. De 1834 (ano da criação da fábrica de açúcar) a 1897 (ano do seu encerramento), esta mudança de programa de cultivo conferiu à herdade uma dimensão industrial. A cana e o açúcar passaram, então, a pautar a vida quotidiana desta antiga propriedade colonial.

Última família notável da Maison Rouge, os Bénards mantiveram o esplendor da propriedade até à morte de Fernande Bénard em 1971. Nos anos 70 e 80, a propriedade foi sendo desmantelada e o município adquiriu a casa e as savanas circundantes com vista a explorar o seu valor cultural.

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Em destaque
Os testamentos da Senhora Desbassayns

Um artigo redigido por Albert JAUZE, historiador

Os testamentos redigidos pela Senhora Desbassayns em 1807 e 1845 são, antes de mais, um assunto privado. O seu estudo é tanto mais pertinente por revelar aspetos da sociedade colonial do século XIX ligados a uma figura emblemática. Os dois atos são independentes um do outro.

Em 1807, o primeiro testamento recompensa os seus escravos mais merecedores que, embora não fossem emancipados, receberam terras, casas e pensões vitalícias, chegando a doar-lhes escravos para os servirem. Alguns podiam até escolher o seu Senhor.

Em 1845, redige um segundo testamento no qual lega os seus bens aos descendentes.

Árvore genealógica da família Desbassayns. Jehan de Villèle, pintor. 1989. Aguarela; Lápis preto.
Coleção Museu Histórico de Villèle, inv. 1990.203

O montante total é superior a 1,6 milhões de francos, do qual a mão de obra escrava constitui uma parte considerável. As suas numerosas terras em Saint-Paul, Saint-Gilles e Le Bernica foram medidas e descritas, bem como os respetivos edifícios, refinarias de açúcar, bombas a vapor, máquinas hidráulicas, animais de tração etc.
Saint-Gilles, a propriedade mais opulenta, dividida em vários lotes, ocupa mais de 316 ha, e a de Bernica mais de 200 ha. As terras eram plantadas com cana-de-açúcar, culturas alimentícias e pastagens. As propriedades de Saint-Paul continham diversas terras (com casas), um arrozal, parcelas para plantio de cana e culturas alimentares.
Com 406 escravos distribuídos pelas suas propriedades, a Senhora Desbassayns era a principal proprietária da ilha. A maioria dos homens e mulheres da classe servil trabalhavam nas terras. Alguns tinham funções específicas (criadas domésticas, cozinheiros, enfermeiras, parteiras etc.). A grande maioria, crioulos de nascimento, tinha um nome convencional (cristão).
A capela construída na sua propriedade de Saint-Gilles também foi objeto da sua generosidade, já que deixou instruções para que ali se celebrassem missas a título perpétuo e os pobres e os escravos fossem acolhidos gratuitamente.

Lembrança da Ilha Bourbon, N°. 41. Capela de Desbassayns. (Saint-Gilles).
Louis Antoine Roussin. 1847. Litografia.
Coleção Arquivos Departamentais da Reunião, inv. 99FI44

O segundo testamento não descreve os interiores (mobiliário, pratas etc.), pelo que nos baseamos no inventário após a sua morte, a 23 de março de 1846.
Os leitores encontrarão no testamento de 1845 topónimos conhecidos, que até hoje perduram.

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Em destaque
Entre o esquecimento e o abuso da memória, o que pode a história fazer?

Um artigo escrito por o historiadora Reine-Claude Grondin

 

O reconhecimento oficial da escravatura na Reunião, em 1983 e 135 anos após a sua abolição, veio reforçar a ideia de que o silêncio em torno deste passado resulta de uma política deliberada de amnésia coletiva orquestrada pelos antigos proprietários e seus descendentes.

 

 

Com efeito, escrita exclusivamente por esses protagonistas, a história da escravatura difundiu uma representação suavizada da escravatura e criou o mito de uma colónia modelo invisibilizando a violência do sistema servil para o público letrado. Foi esta narrativa da história instrumentalizada ao serviço da expansão colonial francesa que se impôs a um público limitado até meados do século XX. Na ausência de uma elite composta pelos alforriados de 1848, não se produziu uma narrativa alternativa à memória aristocrática.

A falta de reconhecimento oficial, todavia, não impediu a sobrevivência de memórias privadas e familiares, dinâmicas e heteróclitas tal com uma manta de retalhos. A mobilização desta memória a partir da terceira geração de descendentes de alforriados impôs ao presente este passado privado de uma narrativa até aos anos 1970 e 1980.

 

 

Esta década marcou o início da apropriação coletiva do facto servil, mas permanece o conflito das memórias que é sustentado por uma visão segmentada do passado da Reunião, à imagem dos lugares de memória. No entanto, o facto servil teve um impacto em todo o edifício social, provocando uma transformação antropológica e tornando todos os Reunionenses herdeiros de um sistema socioeconómico. Cabe, portanto, aos historiadores trabalhar na escrita deste passado do qual cada um retira elementos da sua própria genealogia.

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Inscrição dos registos da escravatura do império colonial francês na lista do Património Mundial da UNESCO

Dia 18 de maio de 2023, os Registres identifiants les personnes en esclavage dans les anciennes colonies françaises (1666-1880) foram inscritos no registo internacional do programa «Memória do Mundo» da UNESCO. Estes documentos incluem acervos conservados pelos Arquivos Departamentais da Reunião.

Desde 2021, o Departamento da Reunião apoia oficialmente o pedido de inscrição apresentado pela Fundação para a Memória da Escravatura (FME) e congratula-se com a conclusão deste processo.

 

 

 

O registo «Memória do Mundo» da UNESCO visa simultaneamente salvaguardar o notável património documental da humanidade e facilitar o acesso ao mesmo. Sob a égide da FME, a França e o Haiti propuseram conjuntamente um corpus emblemático, documentos que identificam nominalmente as pessoas escravas nas antigas colónias francesas (século XVII – 1848), assumindo diversas formas: certidões católicas, registos de alforria, recenseamentos e registos de fugitivos.

O sistema esclavagista negava a existência civil dessas pessoas: estes registos são os raros vestígios escritos que lhes restituem uma réstia de individualidade e de humanidade. O seu interesse histórico é inegável, tal como o seu interesse social, num contexto de crescentes pesquisas familiares e de procura de identidade.

A inscrição no registo da «Memória do Mundo» consagra o reconhecimento internacional do valor patrimonial destes documentos e do trabalho realizado pelas instituições.

 

 

 

 

 

 

 

Nas últimas décadas, os Arquivos Departamentais da Reunião têm vindo a trabalhar no sentido de classificar, restaurar, digitalizar e promover essas coleções: os registos de alforria mantidos desde 1832 e os registos especiais de 1848 estão disponíveis online e acessíveis a toda a gente, tendo sido apresentados fisicamente ao público em diversas exposições (1998: Regards croisés sur l’esclavage, 1794-1848; 2013 : Les Noms de la liberté, 1664-1848: de l’esclave au citoyen ;
e 2019: Le jour de l’abolition. Dissiper la brume).

 

 

 

 

Através deste projeto a longo prazo, o Departamento da Reunião demonstra o seu empenho inabalável em tornar acessível a todos este património complexo ligado à memória da escravatura.

Em destaque
Transmissão intergeracional da violência nas relações filiais

Perspetivas psicodinâmicas e antropológicas do trauma histórico da escravatura na Ilha da Reunião

Um artigo escrito por Émilie FONTAINE, Doutora em Psicologia

 

O objetivo desta investigação é apresentar uma nova reflexão sobre o trauma histórico da escravatura na Reunião, bem como o respetivo impacto psicológico na população local.

O propósito será analisar a forma como o indivíduo da Reunião reinterpreta esta história e reconstrói uma identidade individual e coletiva através da herança intergeracional e das revivescências presentes no inconsciente coletivo

Como apreender, numa perspetiva psicodinâmica e antropológica, a expressão da violência intergeracional nos laços filiais, constatando, eventualmente, a emergência de patologias que lhe estariam associadas, num dado contexto cultural, bem como compreender o sujeito na sua globalidade, integrando a sua historicidade.

Leia o artigo

 

Palavras-chave: violência, trauma, transmissão transgeracional, escravatura, filiação

“EDMOND…”
Exposição no Museu Villèle
a partir de 19 de dezembro de 2022

Concebida pelos Arquivos departamentais da Ilha da Reunião e pelo Museu Histórico de Villèle, esta exposição é dedicada a uma das figuras mais ilustres da Reunião, Edmond Albius, apresentando informações inéditas sobre a sua vida.

 

 

 

 

 

 

Escravo de Pierre Ferréol Edme Bellier de Beaumont, que lhe deu a conhecer a horticultura e a botânica, Edmond descobriu, em 1841, aos 12 anos de idade, o processo de fecundação artificial da flor de baunilha, contribuindo assim para o desenvolvimento de um sector económico que, tal como o do café, tornaria a ilha famosa.

Há poucos documentos sobre a sua vida, sendo a maioria das informações a seu respeito provenientes da correspondência de Mézières-Lepervanche e Féréol Bellier, bem como de alguns documentos de arquivo.

Esta exposição pode ser vista nos jardins do museu Villèle, a partir de 19 de dezembro de 2022, encontrando-se também disponível online, traduzida em inglês, português e crioulo da Reunião.

 

Descubra a exposição

10 de maio de 2023.
O Museu Histórico de Villèle participa no Tempo das memórias

Por ocasião do 18.º Dia Nacional da Memória da Escravatura, do Tráfico de Escravos e respetivas Abolições, e em parceria com a Fundação para a Memória da Escravatura, o Museu Histórico de Villèle acrescenta às suas coleções 25 criações visuais de Karl Kugel concebidas no âmbito da segunda edição francesa do romance de Gustave Oelsner-Monmerqué, Schwarze und Weiße. Skizzen aus Bourbon (Negros e Brancos. Esquiços de Bourbon), uma coedição do Museu de Villèle e da Universidade da Reunião em 2017.

 

 

 

 

 

Jornalista franco-alemão, abolicionista convicto e observador atento da sociedade crioula que descobriu em Bourbon entre 1842 e 1845, Gustave Oelsner-Monmerqué deixou-nos um romance em que a ficção narrativa se mistura com a realidade de uma época marcada pela questão da escravatura.

Karl Kugel, fotógrafo e artista visual, mergulhou nas entrelinhas e palavras do livro, aceitando o desafio de traduzir em imagens esta dupla leitura do romance.

 

 

 

Descubra a exposição de Black and White, Sketches of Bourbon

“Os museus face à escravatura: o desafio de reconciliar as narrativas sobre uma herança comum”
Simpósio, de 12 a 16 de abril de 2023

Kartyé Lib Mémoire & Patrimoine Océan Indien, juntamente com os parceiros, o Alto Comissariado para os Direitos Humanos, o Fórum de reflexão Afrospectives, o Museu das Civilizações Negras e a Coalizão Internacional dos Sítios de Consciência, organizam um simpósio internacional sobre o tema “Os museus face à escravatura”: o desafio de reconciliar as narrativas sobre uma herança comum” na Ilha da Reunião de 12 a 15 de abril no auditório da Médiathèque Auguste Lacaussade em Saint-André e dia 16 de abril no Centre et Cie Ismaël Aboudou em Saint-Denis.

 

Realizado no âmbito da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024) proclamada pelas Nações Unidas, este simpósio reunirá investigadores, profissionais de museus e património, diretores de sítios e lugares de memória, educadores e criadores oriundos de várias regiões do mundo.

O simpósio visa transmitir uma melhor compreensão do impacto de Toussaint Louverture e da Revolução Haitiana nas diversas regiões do mundo, em especial no oceano Índico, trocar experiências e práticas em matéria de interpretação e de representação da escravatura nos museus, debater novas abordagens para desenvolver narrativas congregadoras relativas a esta herança comum, bem como explorar as oportunidades e as modalidades de colaboração e de parceria entre os museus.

As mesas redondas sobre os museus estruturar-se-ão em torno dos três eixos seguintes:
– Silêncios, desconhecimentos e conhecimentos sobre a escravatura;
– Análises críticas das experiências e práticas existentes no que toca às representações e interpretações da escravatura;
– Os museus enquanto lugar de reconciliação: novas abordagens e práticas museais.

 

A participação nestas mesas redondas contemplará associações e particulares da especialidade que a solicitem no limite das vagas disponíveis. Uma restituição dos trabalhos será imediatamente proposta ao público em geral no final do evento.

O «Portail Esclavage» em crioulo da Reunião

A fim de valorizar a língua crioula e permitir a todos os Reunionenses apropriarem-se do Portail Esclavage (Portal da Escravatura), o museu Villèle, em estreita colaboração com Lofis la lang kréol, deu início ao projeto de tradução do seu conteúdo.

Por questões de acessibilidade, disponibilizamos também aos visitantes uma versão áudio dos textos redigidos por pesquisadores.

Este ano, apresentar-vos-emos os artigos publicados na rubrica “Sociedade de Plantação” traduzidos em crioulo.
Esta empreitada continuará ao longo de 2023.

A Lofis la lang kréol La Rényon foi criada em 2006 com o objetivo de «trabalhar pelo reconhecimento, a observação e a valorização da língua crioula da Reunião no quadro de um bilinguismo francês-crioulo harmonioso.» Desde então tem levado a cabo ações de promoção da nossa língua reunionense, por meio de encontros, exposições e eventos culturais. A nossa associação também realiza um grande trabalho de enriquecimento da língua através das suas pesquisas e publicações sobre a grafia, a gramática e o léxico do kréol rényoné.

Nesta perspetiva, a Lofis la lang kréol respondeu afirmativamente ao pedido do Conselho departamental que ambiciona oferecer aos Reunionenses a tradução na sua língua das publicações dos seus museus: antes com o folheto de apresentação dos três Museus de França presentes na ilha e agora com os textos do Portail Esclavage Réunion do museu de Villèle.

Edição 2022

Mais uma vez, tudo indica que este 20 Désanm 2022 será um Gran 20 Désanm!

Tal como desde 2018, o Departamento deseja celebrar a abolição da escravatura:
– reunindo os Reunionenses em torno desta grande efeméride da sua história, num local emblemático do sistema esclavagista, no mesmo lugar onde dentro de alguns anos será inaugurado um museu Villèle cujo propósito terá sido renovado e que contará a história da escravatura e da propriedade e;
– acolhendo personalidades e peritos vindos de França e dos países do oceano Índico a fim de partilhar este momento de comemoração.

 

 

 

 

 

 

O programa de 2022 é rico e denso. Será uma oportunidade para mostrar os progressos do projeto do futuro museu (sítio arqueológico), para divulgar novos conhecimentos históricos (este ano prestamos homenagem a Edmond Albius), para valorizar os legados do período da escravatura (a língua crioula, a maloya, a gastronomia…) e simplesmente para partilhar a celebração da liberdade. O Gran 20 Désanm arrancou antes do grande dia com o evento Dia da História, a organização do Trail de Villèle, a entrega de troféus no âmbito das corridas dedicadas ao marronnage… enquanto aguardamos a apoteose nos dias 19 e 20 de dezembro.

Que esta 5ª edição seja tão bem sucedida como as anteriores, tanto solene como fraterna!

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho departamental

 

 


Descubra o programa

Seminário “História e Legados da Escravatura”
5 e 6 de dezembro de 2022

A Fundação pela Memória da Escravatura, em parceria com a Academia da Ilha da Reunião, propõe um seminário denominado “História, Memória e Legados da Escravatura” dias 5 e 6 de dezembro.

Conferências, exposições, recursos documentais e ferramentas pedagógicas serão apresentados a professores de todas as disciplinas que se tenham inscrito neste seminário expressamente interdisciplinar: a escravatura será estudada de acordo com várias perspetivas, tanto históricas como artísticas, incluindo música, artes plásticas e banda desenhada. A riqueza do programa permitirá cruzar estas visões e alargar o tema à questão do trabalho contratado.

 

 

O seminário terá lugar em locais patrimoniais e culturais disponibilizados pelos nossos parceiros da Região e do Departamento: nos Arquivos Departamentais em Saint-Denis, no primeiro dia, e nos museus de Villèle e Stella Matutina, situados no oeste da ilha, no segundo dia.

Ver o programa do seminário

 

 

Colóquio “Escravatura. Novas abordagens
26 de Novembro de 2022 – Museu de Villèle

A edição de 2022 da Semana da História do oceano Índico, que começou em 21 de novembro na mediateca de Saint-André, terminará no sábado, dia 26 de novembro, na Chapelle Pointue do Museu Histórico de Villèle.

 

 

 

 

 

Este último dia, dedicado ao simpósio “Escravatura. Novas abordagens” e organizado pela Associação Histórica Internacional do Oceano Índico (AHIOI) em parceria com o Departamento da Reunião, é a marca científica do Gran 20 desanm 2022.

Será uma oportunidade para os especialistas em história das ilhas do oceano Índico (Reunião, Madagáscar e Maurícias) fazerem um balanço da investigação sobre a escravatura na região.

 

Descubra o programa do dia

Exposição “Arqueologia da escravatura colonial” no museu de Villèle

O Museu Histórico de Villèle acolhe a exposição “arqueocápsula” denominada “Arqueologia da Escravatura Colonial”. Será apresentada no primeiro andar da casa senhorial de 17 de setembro a 30 de novembro de 2022, em consonância com os trabalhos de escavação arqueológica previstos no complexo museológico a partir de meados de outubro de 2022.

Com o objetivo comum de partilhar e transmitir conhecimentos arqueológicos, bem como o seu contributo para a história, o Inrap (Instituto nacional de pesquisa arqueológica e prevenção) e a DAC (Direção para os Assuntos Culturais) da Reunião mutualizam os seus recursos e competências para divulgar a “arqueocápsula” sobre a escravatura colonial. Esta exposição, concebida pelo Inrap, é distribuída pela DAC em toda a Ilha da Reunião a fim de sensibilizar o público.

 

 

A arqueologia desempenha agora um papel fundamental na história da escravatura. Das margens do oceano Atlântico às do oceano Índico, escavações e investigações nas Antilhas, Guiana Francesa, Ilha da Reunião, África e França Metropolitana renovaram profundamente o estudo da escravatura das Idades Moderna e contemporânea. Nos últimos trinta anos, os dados recolhidos pela arqueologia preventiva em sítios em desenvolvimento provaram ser uma fonte sem paralelo para estudar e documentar o sistema esclavagista que propiciou a prosperidade e moldou a identidade de muitas sociedades modernas. Fornecem também novas informações, complementares às fontes escritas oriundas principalmente do Estado, de comerciantes e proprietários e que são, portanto, incompletas, unívocas e parciais.

 

 

A arqueologia contribui para todos os campos da história da escravatura: a saúde das populações e as condições de vida dos escravos, o alojamento e a vida quotidiana nas explorações agrícolas (amiúde de açúcar), a produção doméstica (cerâmica, pipas, etc.), a inumação e as práticas religiosas e culturais. Até a resistência e o fenómeno de marronnage, a fuga de escravos de espaços controlados pelo senhor, encontram-se documentados graças à arqueologia.

O «vale secreto»: o primeiro sítio arqueológico de marronnage comprovado na Reunião. Fotografia Anne-Laure Dijoux,(direitos reservados)

A exposição “Arqueologia da Escravatura Colonial” apresenta uma seleção de 8 exemplos de descobertas arqueológicas relativas à escravatura, destacando as questões sociais a ela inerentes.

Esta exposição inclui também os três kakemonos “Disse arqueologia?”, “Atenção património frágil” e “O património arqueológico: um bem comum a ser preservado” que constituem uma adaptação ao oceano Índico, pelo serviço regional de arqueologia do DAC, de uma exposição concebida pela subdireção de arqueologia do Ministério da Cultura com vista a explicar a arqueologia ao público em geral.

Ler o artigo de Anne-Laure Dijoux “A arqueologia do marronnage na ilha da Reunião”

Colóquio internacional “Escravaturas”. Dos tráficos de escravos à emancipação, trinta anos de investigação histórica”

O ano 2022 celebra o 30º aniversário da exposição Anneaux de la Mémoire no Château des Ducs de Bretagne.

 

Este evento teve um grande impacto e contribuiu para o estabelecimento de uma dinâmica geral de reconhecimento e reflexão sobre o passado dos portos comerciais e, mais amplamente, sobre a participação da França no tráfico de escravos e na escravatura colonial. A lei Taubira de 2001 constituiu um passo importante neste reconhecimento, tal como a conferência de Durban organizada pela UNESCO no mesmo ano.

Concebida numa perspetiva resolutamente histórica, a exposição de 1992 tirou partido da perícia de muitos investigadores que trabalhavam nestas questões e foi capaz de se basear nos resultados de um grande colóquio internacional organizado em julho de 1985 na Universidade de Nantes por Serge Daget.

Nos últimos trinta anos, a investigação científica nos domínios dos tráficos de escravos, das escravaturas e das suas abolições progrediu imenso. A bibliografia sobre estes assuntos é considerável. Chegou o momento de propor um balanço desta literatura, sem deixar de mencionar as tendências atuais da investigação e as perspetivas que esboçam.

Esta é a ambição deste colóquio internacional, organizado pelo CRHIA e pela associação Nantes Les Anneaux de la Mémoire.

 

De 11 a 13 de Maio de 2022
Salons Mauduit, 10 rue Arsène Leloup, 44100 NANTES
Entrada livre e gratuita.
Inscrição recomendada (formulário online): https://urlz.fr/hvv7
Colóquio acessível online através da plataforma Zoom: inscrição obrigatória até dia 10 de maio:  https://urlz.fr/hvv7

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Um património da Reunião inédito
Lazer. Notícias de Bourbon por Auguste Logeais

Adquirida em 2020 pela Biblioteca departamental da Reunião, esta coleção de contos é um testemunho precioso sobre a sociedade de Bourbon durante os anos que precederam a abolição da escravatura.

 

 

Há poucas referências a este livro impresso em apenas 50 exemplares. O mesmo se aplica ao seu autor. Sabemos que contribuiu para um jornal de Laval, L’Echo de la Mayenne, e que provavelmente viveu em Bourbon entre 1840 e 1850: o seu nome aparece no censo de proprietários de escravos em Saint-Benoit em 1847-48.

O tipógrafo, cujo prefácio alerta para a natureza confidencial da publicação, enriqueceu os textos com ornamentos tipográficos executados com grande minúcia. Embora o autor transmita um certo número de preconceitos em voga na altura, esta obra tem um carácter precursor adicional, uma vez que alguns dos diálogos das histórias são escritos em crioulo.

Composto por um frontispício representando Bras-Canot, por sete contos que tratam essencialmente do marronnage (fuga de escravos), bem como cinco cartas do autor nas quais conta as suas peregrinações na sociedade e na natureza de Bourbon, este livro revela um conjunto de criações literárias e testemunhos históricos inéditos publicados alguns anos antes da abolição da escravatura, e parcialmente publicados na imprensa metropolitana.

Consultar o livro

 

 

 

Esta aquisição deu origem, na quinta-feira 4 de fevereiro de 2021, a uma conferência apresentada por Prosper Eve, professor universitário e membro da Comité Científico da Fundação para a Memória da Escravatura.
Novidades sobre a escravatura na Ilha de Bourbon ou a Visão de Auguste Logeais sobre a escravatura na ilha de Bourbon no início dos anos 1840
Replay da conferência

 

Homenagem a uma grande voz de maloya: Françoise Guimbert (1945-2022)

A cantora de maloya Françoise Guimbert faleceu a 25 de março de 2022 aos 76 anos na sua casa em Saint-Benoît.

A sua vida foi um modelo de perseverança.
Aquela que é conhecida como a madrinha do maloya nasceu numa família pobre em Saint-Benoît. Deixou a escola na quarta classe, aos 12 anos, para trabalhar como empregada doméstica.

Autora, compositora, intérprete, percussionista, dotada e determinada, teve o seu primeiro êxito musical com “Tantine Zaza” em 1978. Gravou esta canção no estúdio Royal em Saint-Joseph com René Lacaille.

“Tantine Zaza”: uma entrevista com Françoise Guimbert conduzida por Laurent Pantaléon em 2018

 

Criou então o grupo Voulvoul, composto por dezoito músicos e bailarinos. Foi a primeira mulher a criar um grupo de maloya, uma vez que o meio artístico de sega e maloya era, nessa altura, em grande parte masculino.

Ao gravar o álbum Paniandy, em 2001, Françoise Guimbert ficou conhecida para além da Ilha da Reunião.

Foi distinguida com a ordem de Chevalier de la Légion d’honneur em 2014 juntamente com Firmin Viry.

Em 2016, Françoise Guimbert celebrou os seus 45 anos de carreira na Cité des Arts.

4ª edição do Gran 20 Désanm

Como todos os anos desde 2018, no próprio website do nosso museu de história. Como todos os anos, solene e cultural, festivo e popular.

Desde as manifestações permanentes (o Kan, os concertos na capela, o palco de kabar…) às novidades (o destaque dos tambores, um mapeamento África do Sul – Reunião, etc.) o programa 2021, que continua a reunir muitos artistas, associações, historiadores… é um convite a mergulhar na história e na memória da escravatura na Reunião, em particular o seu património artístico, cultural e culinário.

E porque este evento nasceu da vontade do Departamento de dotar a Reunião do único estabelecimento cultural da Reunião dedicado ao mundo da propriedade e à história da escravatura – cada Gran 20 Désanm é uma oportunidade para o Conselho Departamental apresentar um relatório de progresso deste grande projeto.

No primeiro andar da antiga casa senhorial, que se tornou a casa do projeto, apresentar-se-á uma nova versão do esquisso selecionado pelo júri do concurso em 2020 e a maqueta do futuro museu.

O público também poderá descobrir a preparação dos conteúdos com a produção efetiva do Atlas da Reunião e da Escravatura, a nova versão do Portal Escravatura – Reunião agora traduzida em português, os últimos objetos de coleção adquiridos pelos estabelecimentos culturais, uma residência artística que arranca com o maloya…

E como prelúdio do que será este lugar de história, memória e cultura, prosseguimos o nosso longo trabalho de construção de parcerias de todos os tipos, locais, nacionais e internacionais.

Entretanto, celebremos a liberdade, celebremos o Gran 20 Désanm de toda a Ilha da Reunião.

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho Departamental da Ilha da Reunião

 

 

Sobre o programa do evento

 

UM MUSEU PARA O AMANHÃ
A MIZÉ POU TANTO, POU TALÈR, POU DOMIN

No primeiro andar da antiga casa senhorial, vários aspetos do projeto do museu serão apresentados e tornados acessíveis ao público. Estão em fase de elaboração, de enriquecimento contínuo, permitindo, todos eles, compreender os objetivos do projeto do departamento.

“Un mizé pou tanto, pou talèr, pou domin”

Maqueta do projeto do museu

Após a apresentação do esquisso retido pelo júri em 2019, este Gran 20 désanm apresenta a maqueta. Evolutiva, aperfeiçoará ainda mais a divulgação de informação ao público em geral.

 

“Nou fé lo plan, nou prépar nout zarlor”

Na perspetiva de apresentar, do modo mais abrangente possível, a história da escravatura no futuro museu, o Departamento está a dinamizar a sua política de enriquecimento das coleções aferentes.
Em 2021, apresentará as suas últimas aquisições: um livro antigo, peças numismáticas e também uma medalha do Museu Stella Matutina (Conselho Regional) e tambores do museu Saranghi.

Índia francesa, Luís XV: símbolo da segunda India Company. 1723. Cobre.
Coleção Museu Villèle

 

EXPOSIÇÃO DA OBRA
“Povo infinito”

No espaço de três séculos e meio, a História reuniu no solo da nossa ilha populações vindas da Europa, África, Madagáscar, Ásia e outras ilhas do oceano Índico que trouxeram consigo tradições fortes e antigas. A sociedade contemporânea da Reunião pretende ainda ser uma terra de acolhimento e de encontro de civilizações milenares associadas na mesma comunidade de destino.
Resultado de uma residência artística organizada pela Iconothèque Historique de l’océan Indien, este trabalho de interpretação realizado pelo artista Lionel Lauret baseia-se em retratos e imagens antigas que ilustram o povoamento da Ilha da Reunião.
A Ico-nomade destaca fontes iconográficas ricas e diversas desta história do povoamento da Reunião num turbilhão sonoro orquestrado por Rodolphe Legras e Doc Legs.
Este dispositivo imersivo mergulha numa história através de imagens que ganham vida com a ajuda de processos de animação contemporâneos.

Projeção em vários grandes ecrãs modulares

 

EXPOSIÇÃO
“Tambour battant” por Jack Beng-Thi

La Réunion tambour battant
“As erupções do Piton de la Fournaise aumentam o território com lava que escorre e depois se crispa.
O oceano Índico erode-o com um pulsar contínuo. O mar perfura o recife de coral e as falésias, aliza, repetidamente, as praias de areia ou seixos que se esbarram entre eles.
Os ciclones esburacam as encostas, as chuvas ferem os telhados, crepitam na caixa-clara das chapas metálicas, por vezes mal crepitando, engolindo por fim os humanos com a sua massa de água: é o som abafado de um imenso tambor.”

“Alguns dos músicos de Maloya: Granmoun Lélé, Granmoun Bébé, família Baba, o Rwa Kaf, Firmin Viry, família Gado, família Ramouche, os Batis kabaré, Mamo, Simon Lagarrigue, Nathalie Natiembé, Françoise Gimbert, Alain Péters, Christine Salem, Danyèl Waro, Ann O’Aro, e todos os demais, nos pátios, nas casas…”

“Os rufos irredutíveis venceram os tempos obstinados”.
Excerto do texto de apresentação do artista

 

CARTOGRAFIA NA FACHADA DO MUSEU
“Reunião – África do Sul”

Uma das fachadas da antiga casa senhorial acolhe uma criação de cinco minutos inspirada numa combinação de imagens e mensagens tiradas de documentos históricos da Ilha da Reunião e da África do Sul.
Uma obra de Frédéric Brun-Picard.

 

A LOJA
Foco nas novidades! 

 

 

 

Journal d’habitation de Madame Desbassayns tenu en son absence par un employé : 1815‑1817 (Diário da propriedade de Madame Desbassayns – mantido na sua ausência por um empregado: 1815-1817)/ transcrição do manuscrito por Christel de Villèle; notas e anexos de Alexis Miranville. – Les éditions de Villèle, 2021.
Livro publicado pelas associações Cercle des Muséophiles de Villèle e Kan Villèle

 

 

 

 

 

 

 

Vali pour une reine morte / Boris Gamaleya. – Les éditions Wallada, 2021.

 

 

 

 

 

DIA DA ESCRAVATURA DA SEMANA DA HISTÓRIA

 

 

 

Organização: Associação Histórica Internacional do Oceano Índico
Presidente: Prosper ÈVE
Tema: “A Escravatura”
Local: Museu Villèle
● Presença dos contribuidores – abertura ao público – com intervenientes
externos
● Retransmissão no website do Portal História e Memória da Escravatura
Uma manifestação intelectual

Um portal digital multilíngue para se abrir ao mundo

Já disponível em francês e inglês, este site único sobre o tema da escravatura estará disponível em português a partir de 2021.

O Museu Histórico de Villèle é um local emblemático de um período particular da história da Ilha da Reunião, o da sociedade de plantação marcada pelo cultivo de café, algodão e cana-de-açúcar.

Criado no final do século XVIII pelo casal Panon-Desbassayns, a propriedade de Villèle evoca um modo de vida em que a prosperidade dos senhores se baseava no trabalho dos escravos.

De acordo com o seu projeto científico e cultural, o Museu de Villèle define-se agora como o museu da história da propriedade e da escravatura na Ilha da Reunião. Como tal, oferece aos visitantes uma experiência de imersão na vida de uma propriedade colonial do século XIX, bem como ferramentas para compreender a época da escravatura.

Na era digital, o museu criou um website dedicado a estes temas que foi inaugurado a 20 de dezembro de 2018, por ocasião do 170.º aniversário da abolição da escravatura na Ilha da Reunião.

Este sítio internet vem completar a oferta cultural do museu e funciona como um centro de recursos especializado. Contém atualmente 52 artigos escritos por investigadores (historiadores, antropólogos, arqueólogos, etnólogos, economistas e juristas).
Trata-se de uma ferramenta viva de conhecimento, regularmente enriquecida com novas contribuições. Para este fim, pede-se todos os anos aos especialistas que desenvolvam novos conteúdos.

A fim de ligar o Museu de Villèle a lugares e estabelecimentos que evocam a história da escravatura e do tráfico de escravos no mundo, lançámos a versão inglesa do nosso site em 2019.

A 20 de dezembro de 2021, publicamos a versão portuguesa e assim abrimos o “Portal da Escravatura” ao mundo lusófono.

Indemnizações pagas aos proprietários de escravos registadas numa base de dados

No âmbito do projeto de investigação “Reparações”, uma equipa do Centro Internacional de Investigação sobre Escravatura e Pós-Escravatura do CNRS traçou a atribuição e circulação de títulos de indemnização no século XIX nas antigas colónias esclavagistas francesas, informações publicadas sob a forma de uma base de dados, a primeira do género.

“Após abolir a escravatura pela segunda vez a 27 de abril de 1848, em 1849, a França concedeu uma indemnização aos antigos proprietários de escravos do império colonial, na Reunião, Martinica, Guadalupe, Guiana, Senegal e Nosy Bé e Sainte-Marie de Madagáscar. Através desta medida controversa, o Estado tentou salvaguardar os seus interesses económicos nas colónias cuja posse estava em perigo, uma vez que os colonos ameaçavam abandonar esses territórios. 126 milhões de francos de ouro ser-lhes-iam atribuídos sob a forma de um pagamento imediato em dinheiro (6 milhões) e de uma anuidade anual de 6 milhões durante 20 anos, com montantes diferentes para cada colónia: um valor que representava uma proporção significativa das despesas públicas (o rendimento nacional na altura era da ordem dos 10 mil milhões de francos de ouro, 126 milhões representavam, portanto, 1,3% do rendimento nacional. Atualmente, o rendimento nacional é de cerca de 2100 mil milhões de euros e, aplicando a mesma proporção, a compensação representaria 27 mil milhões de euros.

Este trabalho permitiu demonstrar que as indemnizações não estavam reservadas apenas aos grandes proprietários de terras: mais de 30% dos beneficiários eram pessoas de cor que possuíam alguns escravos (nestas sociedades, o trabalho assalariado não existia). Além disso, alguns títulos mudaram de mãos, a fim de saldar as dívidas dos antigos proprietários: deste modo, era possível alguém tornar-se detentor de tais títulos como credor, sem ter sido proprietário de escravos. Esta base de dados, fruto de dois anos de trabalho com base em várias dezenas de milhares de documentos de arquivo, pretende ser evolutiva e colaborativa: deve ser completada no decurso de investigações futuras, ou por utilizadores que desejem apresentar fontes passíveis de enriquecer os dados biográficos e genealógicos.

Consulte a base de dados

Atlas da propriedade e da escravatura da Ilha da Reunião

Dotado de novos edifícios e recursos reforçados, no final do grande projeto de reestruturação lançado desde 2018, o museu poderá posicionar-se como centro de referência e conhecimento científico e documental sobre os seus temas favoritos.
É nesta perspetiva que lança um projeto de mapeamento: o Atlas da propriedade e da escravatura da Reunião.

Este projeto vai levar vários anos. Os visitantes do museu podem acompanhar o seu progresso graças aos mapas apresentados no primeiro andar da casa senhorial e que serão regularmente enriquecidos.

Inicialmente disponível em versão digital, poderá a prazo ser objeto de uma edição em papel.

O atlas: uma ferramenta para o conhecimento, um modo de contar a história

O objetivo é reunir todo o conhecimento sobre o assunto, transcrever os dados e representar, através de mapas, a forma como a propriedade e a escravatura, intimamente ligadas, moldaram o território da Reunião, através das suas paisagens, dos seus edifícios e da sua organização social.

Escravatura: um sistema de subjugação e exploração

Considerados no Code Noir (Código Negro) como bens móveis, os escravos representam um grupo social sujeito a um regime político e económico que os priva da sua liberdade, e os força a exercer funções económicas sem qualquer outra contrapartida que não o alojamento e a alimentação.

Em Bourbon/Reunião, na altura em que era uma colónia, a escravatura foi simultaneamente o fator determinante e a consequência do desenvolvimento da sociedade de plantação e da economia que deu origem às propriedades.

Propriedade: espaço de produção e servidão

Denominada plantação nas Antilhas, hacienda nas antigas colónias espanholas ou fazenda no Brasil, a propriedade era, em Bourbon/Reunião, uma estrutura de produção agrícola ou agroindustrial colonial rural.

Em Bourbon / Ilha da Reunião desenvolveram-se vários tipos de propriedade, designadamente:
-Propriedades de subsistência (produção de alimentos)
-Propriedades cafeeiras (produção especulativa de café)
– Propriedades de produção de cana (cultivo de cana-de-açúcar)
-Propriedades açucareiras (cultivo de cana e fabrico de açúcar)

Para funcionar, estas propriedades precisavam de mão-de-obra, que até 1848 consistia principalmente em escravos.

O mapa abaixo mostra todas as propriedades de açúcar que existiram entre 1785 e 1848. Foram estas últimas, de facto, que concentraram o maior número de escravos.

Ilha da Reunião – Mapa das propriedades de açúcar. Xavier Le Terrier. 2021.
Todos os direitos reservados – reprodução proibida

Homenagem ao historiador Marcel Dorigny (1948-2021)

O historiador Marcel Dorigny, especialista no tráfico negreiro transatlântico, na escravatura colonial e nos movimentos abolicionistas, faleceu na quarta-feira, dia 22 de setembro de 2021, aos 73 anos.

 

 

Professor emérito, Marcel Dorigny ensinou no departamento de história da Universidade Paris-VIII.
A sua investigação centrou-se nas correntes do liberalismo francês no século XVIII e na Revolução Francesa, principalmente nos domínios coloniais: o lugar da escravatura nas doutrinas liberais do século XVIII e da primeira metade do século XIX, bem como nas correntes antiesclavagistas e abolicionistas da Sociedade dos Amigos dos Negros.

Secretário-geral da Sociedade dos estudos de Robespierre de 1999 a 2005, diretor da revista Dix-huitième siècle, membro do Comité dos trabalhos históricos e científicos, membro do Comité de reflexão e de proposta para as relações franco-haitianas, presidido por Régis Debray, foi igualmente membro do Comité para a memória da escravatura.

O portal digital Sociedade de plantação, história e memórias da escravatura na Reunião, para o qual ele contribuiu, presta-lhe homenagem.

 

Ler o artigo de Marcel Dorigny publicado no sítio web:

20 de dezembro de 1848: a abolição da escravatura na Reunião

 

Bibliografia:

L’esclavage : illustrations et caricatures, 1750-1870 / Philippe Altmeyerhenzien, Marcel Dorigny. – La Crèche : Geste éditions, 2021. – : 1 vol. (184 p.) ; 26 cm.

Grand Atlas des empires coloniaux : premières colonisations, empires coloniaux, décolonisations, XVe – XXIe siècles / Marcel Dorigny, Jean-François Klein, Jean-Pierre Peyroulou…[et al.] ; cartographie Fabrice Le Goff. – Deuxième édition. – Paris : Éditions Autrement, 2019. – 1 vol. (287 p.) ; 28 cm . – (Autrement. Série Atlas. Mémoires, ISSN 1254-5724)

Les abolitions de l’esclavage : 1793-1888 / Marcel Dorigny. – Paris : Que sais-je ?, DL 2018. – 1 vol. (126 p.) : ill. ; 18 cm

Arts & lettres contre l’esclavage / Marcel Dorigny. – Paris : Éditions Cercle d’art, impr. 2018. – 1 vol. (239 p.) : ill. en coul. ; 25 cm + 1 livret

Atlas des esclavages : de l’Antiquité à nos jours / Marcel Dorigny, Bernard Gainot ; cartographie Fabrice Le Goff. – Paris : Autrement, impr. 2013. – 1 vol. (96 p.) : cartes et ill. en coul., tableaux, graph., couv. ill. en coul. ; 25 cm. – (Collection Atlas-mémoires, ISSN 1254-5724)

Atlas des premières colonisations : XVe – début XIXe siècle : des conquistadores aux libérateurs / Marcel Dorigny ; cartographie Fabrice Le Goff. – Paris : Le grand livre du mois, 2013. – 1 vol. (96 p.) : cartes et ill. en coul., tableaux, graph., couv. ill. en coul. ; 25 cm

Anti-esclavagisme, abolitionnisme et abolitions : débats et controverses en France de la fin du XVIIIe siecle aux années 1840 / Marcel Dorigny. – Sainte-Foy [Québec] : Presses universitaires de Laval, 2008. – 1 vol. (39 p.) ; 15 cm. – (Mercure du Nord. Verbatim)

Révoltes et révolutions en Europe et aux Amériques : 1773-1802 / Marcel Dorigny. – Paris : Belin, 2004. – 173 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Belin sup. Histoire)

La Société des amis des noirs, 1788-1799 : contribution à l’histoire de l’abolition de l’esclavage / Marcel Dorigny, Bernard Gainot. – Paris : Éd. Unesco : Edicef, 1998. – 429 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Mémoire des peuples)

Couleurs, esclavages, libérations coloniales, 1804-1860 : réorientation des empires, nouvelles colonisations, Amériques, Europe, Afrique / sous la direction de Claire Bourhis-Mariotti, Marcel Dorigny, Bernard Gainot… [et al.]. – Bécherel : les Perséides éditions, DL 2013. – 1 vol. (413 p.) ; 23 cm. – (Le monde atlantique)

Les mondes coloniaux à Paris au XVIIIe siècle : circulation et enchevêtrement des savoirs / Anja Bandau, Marcel Dorigny et Rebekka v. Mallinckrodt, éd.. – Paris : Éd. Karthala, impr. 2010. – 1 vol. (297 p.-[8] p. de pl.) : ill. en coul., couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Hommes et sociétés)

Les traites négrières coloniales : histoire d’un crime / sous la direction de Marcel Dorigny et Max-Jean Zins ; présentation, Daniel Voguet. – Paris : Éd. Cercle d’art, impr. 2009. – 1 vol. (263 p.) : ill. en noir et en coul., couv. ill. ; 27 cm

Les Lumières, l’esclavage, la colonisation / Yves Benot ; textes réunis et présentés par Roland Desné et Marcel Dorigny. – Paris : Éd. la Découverte, 2005. – 1 vol. (326 p.) : couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Textes à l’appui. Histoire contemporaine)

1802, rétablissement de l’esclavage dans les colonies françaises : aux origines d’Haïti : ruptures et continuités de la politique coloniale française, 1800-1830 : actes du colloque international tenu à l’Université de Paris VIII les 20, 21 et 22 juin 2002 / organisé par l’Association pour l’étude de la colonisation européenne et placé sous le patronage du programme La route de l’esclave de l’UNESCO ; sous la dir. de Yves Bénot et Marcel Dorigny. – Paris : Maisonneuve & Larose, 2003. – 591 p. : ill., couv. ill. ; 24 cm

Haïti, première république noire / sous la dir. de Marcel Dorigny. – Saint-Denis : Publications de la Société française d’histoire d’outre-mer ; Paris : Association pour l’étude de la colonisation européenne, 2003. – 264 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm

La France et les Amériques au temps de Jefferson et de Miranda / ouvrage dir. par Marcel Dorigny, Marie-Jeanne Rossignol. – Paris : Société d’études robespierristes, 2001. – 173 p. : couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Collection Études révolutionnaires ; 1)

Grégoire et la cause des Noirs : combats et projets, 1789-1831 / sous la dir. d’Yves Bénot et Marcel Dorigny ; dossier thématique préparé en collab. avec l’Association pour l’étude de la colonisation européenne. – Paris : Société française d’histoire d’outre-mer, 2000. – 398 p. : couv. ill. ; 24 cm

Esclavage, résistances et abolitions : [actes du 123e Congrés national des sociétés historiques et scientifiques, Section d’histoire moderne et contemporaine, Fort-de-France, 6-10 avril 1998] / [organisé par le] Comité des travaux historiques et scientifiques ; sous la dir. de Marcel Dorigny. – Paris : Éd. du CTHS, 1999. – 1 vol. (575 p.) : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm

De l’esclavage aux abolitions : XVIIIe-XXe siècle / Jean Métellus, Marcel Dorigny. – Paris : Cercle d’art, cop. 1998. – 175 p. : ill. en noir et en coul., jaquette ill. en coul. ; 30 cm

Léger-Félicité Sonthonax : la première abolition de l’esclavage : la Révolution française et la Révolution de Saint-Domingue : [colloque de Paris, 7-8 septembre 1990] / [organisé par l’association Mémoire de Léger Félicité Sonthonax] ; textes réunis et présentés par Marcel Dorigny. – Saint-Denis : Société française d’histoire d’outre-mer ; Paris : Association pour l’étude de la colonisation européenne, 1997. – 173 p. : couv. ill. en coul. ; 24 cm. – (Bibliothèque d’histoire d’outre-mer. Nouvelle série. Études ; 16)

Les abolitions de l’esclavage : de L. F. Sonthonax à V. Schoelcher : 1793-1794-1848 / actes du colloque international tenu à l’université de Paris VIII les 3, 4 et 5 février 1994 ; organisé par l’Association pour l’étude de la colonisation européennne… ; textes réunis et présentés par Marcel Dorigny. – Saint-Denis : Presses universitaires de Vincennes ; Paris : UNESCO, 1995. – 415 p. : ill., couv. ill. en coul. ; 24 cm

20 anos da lei Taubira. O Conselho departamental da Reunião anuncia um atlas da escravatura para 2023

O Conselho departamental anunciou o lançamento de um atlas da escravatura, na ilha da Reunião, por ocasião do 20.º aniversário da lei de 21 de maio de 2001 sobre o reconhecimento do tráfico de escravos e da escravatura como um crime contra a humanidade e como prelúdio para o futuro museu Villèle.

 

Apresentação

• Não existe um atlas consagrado à escravatura na Reunião. No entanto, tal ferramenta é necessária para compreender a forma como a escravatura afetou, em vários campos, o território, as pessoas e a sua memória.

Porquê um atlas?

• Um atlas é uma coleção de mapas que permite localizar e fornecer uma leitura espacializada dos acontecimentos históricos, dando-nos a possibilidade de compreender como evoluíram cronologicamente e geograficamente.

Informação completa

O atlas:
• Mapeará os lugares físicos e simbólicos relacionados com a escravatura:
– As antigas “habitações” (propriedades)
– Os lugares de marronage (fuga de escravos)
– Os lugares e objetos da memória
– O património material e imaterial
– Os topónimos ou a escravatura na paisagem
– Os serviços públicos de investigação e cultura (arquivos, universidades, museus, centros de recursos, etc.)

• Detalhará todas as informações disponíveis e identificadas relativamente a cada local.

Uma ferramenta moderna e acessível

O atlas:
• Será digital, disponível gratuitamente online, de uma forma dinâmica, intuitiva e interativa.
• Será enriquecido à medida que o conhecimento avança.
• Poderá ser publicado como um atlas físico.

Um projeto unificador e colaborativo

• A implementação de um projeto deste tipo é complexa. Requer a colaboração científica, cultural, técnica e material de um grande número de parceiros (mundo da investigação, sociedades eruditas, associações…).
• Também precisa de apoio popular.
• E em todas estas áreas, necessita do apoio do Estado, das autarquias locais, das instituições científicas e culturais, das fundações e empresas privadas através do patrocínio.

Calendário

2021: inventário, constituição do corpus documental
2022: desenvolvimento da cartografia
2023: lançamento online/inauguração dos primeiros conteúdos.

Furcy, o julgamento da liberdade

Pesquisa, livro, exposição, peças de teatro, filme… a história do escravo Furcy, que foi alforriado e que reivindicou toda a sua vida o estatuto de homem nascido livre, inspira cada vez mais os nossos contemporâneos.

 

Em 2019, no final do ano comemorativo do 170.º aniversário da abolição da escravatura, o Departamento da Reunião apresentou no Museu Villèle, o museu da história da “habitação” (propriedade) e da escravatura, uma exposição inédita que recebeu a distinção de exposição de interesse nacional: «A estranha história de Furcy Madeleine 1786-1856».

Em 2021, foi lançado um filme de 52′, escrito e realizado por Pierre Lane: Furcy, le procès de la Liberté. Foi transmitido no dia 13 de maio, no portal Outre-mer 1ère, no âmbito do Dia Nacional em Memória do Tráfico de Escravos, da Escravatura e sua Abolição e por ocasião do 20.º aniversário da Lei Taubira.

Uma batalha judicial de 27 anos

Em 1817, na Ilha Bourbon, o escravo Furcy atreveu-se a desafiar o seu senhor, Lory, pelo seu estatuto de escravo, afirmando ter nascido livre de uma mulher de origem indiana, Madeleine, que deveria ter sido alforriada anos antes, aquando de uma viagem a França. .

Por mais de um quarto de século, de 1817 a 1843, Furcy lutou para que o seu estatuto de homem nascido livre lhe fosse reconhecido. Esta longa batalha levou-o primeiro à prisão em Bourbon, depois à Maurícia, inicialmente como escravo e posteriormente como alforriado, e por fim a Paris onde as suas reivindicações foram finalmente reconhecidas pela justiça francesa.

Como é que isto foi possível? Que tipo de homem era Furcy?

Este documentário retrata o itinerário deste homem fora do comum. A história desenrola-se a partir de documentos de arquivo (cartas, memórias, atas), testemunhos de historiadores e desenhos animados.

Passando pela Ilha da Reunião, por Maurícia e Paris, reconstrói-se gradualmente, como um puzzle, a trajetória de uma vida inimaginável: com as suas aventuras, os seus dramas, os seus mistérios, bem como as suas ambiguidades. .
É a história de um homem solitário, no meio da tormenta esclavagista que esmagou milhões de pessoas. É a história de um homem inabalável na sua convicção: ele quer justiça. É a história de um homem que afirma a sua pertença à raça humana, a sua emancipação, a sua singularidade como ser humano. É a história de um escravo chamado Furcy, que depois de tantas provações, encontrou através do seu novo patronímico: Furcy Madeleine, a dignidade que lhe tinha sido negada durante tanto tempo.


FURCY, LE PROCÈS DE LA LIBERTÉ
Escrito e realizado por Pierre Lane
Produzido por Fabienne Servan Schreiber e Estelle Mauriac (Cinétévé)
Em coprodução com Gao Shan Pictures e France Télévisions
O filme está disponível para replay em France.tv até 12/06/2021

 

Saiba mais

Homenagem ao historiador Hubert Gerbeau (1937-2021)

O historiador Hubert Gerbeau, pioneiro da investigação sobre a escravatura na Ilha da Reunião, faleceu a 3 de abril de 2021. O Departamento da Reunião presta-lhe homenagem.

 

 

Hubert Gerbeau, historiador, eminente especialista na história da escravatura em Bourbon, acaba de falecer. Em meu nome e em nome de todos os conselheiros do departamento, gostaria de prestar homenagem à sua memória e expressar o nosso mais profundo pesar à sua família.

Na Universidade da Reunião, onde contribuiu para a formação intelectual de várias gerações de estudantes, e mesmo depois de a ter deixado, ao longo da sua carreira docente e muito depois de a ter terminado, Hubert Gerbeau dedicou um trabalho incansável de investigação e escrita à compreensão da questão da escravatura na nossa Ilha.

O seu trabalho pioneiro, rigoroso e científico – como evidenciado em numerosos livros e que a sua tese sobre a Escravatura em Bourbon nos séculos XIX e XX consagrou em 2005 – continuará certamente a ser uma referência.

A Assembleia departamental teve trocas enriquecedoras e confiantes com Hubert Gerbeau. Neste contexto, fez parte da comissão organizadora do 150.º aniversário da abolição da escravatura em 1998, e em 2018 aceitou o convite para ser membro honorário do Comité Científico do futuro Museu Villèle, o museu da habitação (propriedade) e da escravatura.

O portal digital Histoire et mémoires de l’esclavage à La Réunion (História e memórias da escravatura na Ilha da Reunião), para o qual contribuiu, presta-lhe agora homenagem.”

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho departamental da Reunião

 

 

Leia o artigo de Hubert Gerbeau publicado no sítio :

O comércio ilegal de escravos em Bourbon, no século XIX

 

Bibliografia :

Trabalhos científicos :

Martin Luther King / Hubert Gerbeau. – Paris : Éditions universitaires, 1968. – 166 p., 20 cm

Les esclaves noirs : pour une histoire du silence / Hubert Gerbeau. – Paris : A. Balland, impr. 1970. – 1 vol. (216 p.) ; 23 cm

Brèves réflexions sur le sort de la femme esclave à l’île de La Réunion au 19e siècle / Hubert Gerbeau. – Saint-Denis : [s.n.], 1973. – 1 vol. (19 p.) ; 30 cm

Des minorités mal connues : esclaves indiens et malais des Mascareignes au XIXème siècle / Hubert Gerbeau. – [Aix-en-Provence] : IHPOM, 1978. – 1 vol. (84 f.) ; 30 cm

La traite esclavagiste dans l’océan Indien : problèmes posés à l’historien, recherches à entreprendre / Hubert Gerbeau.
– [S.l.] : [s.n.], 1978. – P. 193-217 ; 30 cm

Presse et esclavage à l’île de La Réunion au temps de l’émancipation / Hubert Gerbeau ; [textes réunis par]Jean Antoine Gili et Ralph Schor . – Paris : publications de la Sorbonne, 1988. – P. 41-49 : couv. ill. en noir et en coul. ; 30 cm

Les esclaves noirs : pour une histoire du silence : 1848-1998, 150e anniversaire de l’abolition de l’esclavage, Île de la Réunion / Hubert Gerbeau. – [Saint-Denis] : Conseil général de la Réunion ; Saint-André : Océan éd., 1998. – 195 p. ; 22 cm. – (Collection 20 désanm)

De l’esclavage / Hubert Gerbeau, Issa Asgarally, Jean-François Reverzy. – Saint-Denis (La Réunion) : Grand Océan, 2005.
– 1 vol. (104 p.) ; 21 cm

L’esclavage et son ombre : l’île de Bourbon aux XIXe et XXe siècles / Hubert Gerbeau ; sous la direction de Gérard Chastagnaret. – Université de Provence 2005. – Thèse de doctorat d’État Histoire

Les esclaves noirs : pour une histoire du silence / Hubert Gerbeau. – Paris : les Indes savantes, impr. 2013, cop. 2013. – 1 vol. (203 p.) : couv. ill. ; 24 cm

 

Obras literárias :

Swèdjana (le fou d’Afrique). – Paris : Flammarion, 1980. – 157 p.

Nostalgies de couleurs : suite de textes / sur des dessins de Raphaël Ségura ; préface de Gilbert Aubry. – Saint-André (Réunion) : Océan Editions, 1990. – 108 p.

Visions et visages : suite de textes accompagnant l’exposition de 40 tableaux de Jean-Jacques Martin organisée dans les locaux du Port Autonome de Marseille (2001).

Le Voyageur : conte. –  In La Corne de Brume, n° 2, 2003, p. 70-84.

Noc. –  Paris :  Editions Le Bretteur, 2004. – 228 p.

LIA. D’un paradis l’autre. –  Paris, Les Indes savantes,  2006. –  352 p. – (Collection du cannibale)

La Négresse de paradis. –  Paris : Les Indes savantes, 2011. –  216 p. – .  (Collection du cannibale)

Foutu foot. – Saint-Denis : Édilivre, DL 2015. – 1 vol. (107 p.) ; 21 cm

 

Publicações na Internet :
http://classiques.uqac.ca/contemporains/gerbeau_hubert/gerbeau_hubert.html

L’Océan Indien n’est pas l’Atlantique. La traite illégale à Bourbon au XIXe siècle.” Um artigo publicado em Outre-Mers, revue de la société française d’Histoire d’Outre-mer, n° 336-337, Dezembro de 2002, Paris, p. 79-108 (coordenação do dossiê temático “Traites et esclavages: vieux problèmes, nouvelles perspectives ?” por Olivier Pétré-Grenouilleau, p. 1-282).

Maladie et santé aux Mascareignes: une histoire aux prises avec l’idéologie”. Um artigo publicado emo livro sob a direção de Jean-Luc Bonniol, Gerry L’Étang, Jean Barnabé e Raphaël Confiant, Au visiteur lumineux. Des îles créoles aux sociétés plurielles. Mélanges offerts à Jean Benoist, pp. 557-574. Petit-Bourg, Guadeloupe: Ibis Rouge Éditions, GEREC-F/Presses universitaires créoles, 2000, 716 pp.

La famille Mabit dans les Hauts de la Réunion. Une contribution au mythe insulaire”. Um artigo publicado em De la tradition à la post-modernité. Hommage à Jean Poirier, pp. 257-265. Textos recolhidos por André Carénini e Jean-Pierre Jardel. Paris: Les Presses universitaires de France, 1996, 1ª edição, 487 pp.

LES INDIENS DES MASCAREIGNES. Simples jalons pour l’histoire d’une réussite (XVIle-XXe siècle)”. Um artigo publicado em l’Annuaire des pays de l’Océan indien, XII, 1990-1991, pp. 15-45. Éditions du CNRS / Presses universitaires d’Aix-Marseilles, 1992.

La liberté des enfants de Dieu. Quelques aspects des relations des esclaves et de l’Église à la Réunion”. Um artigo publicado em Problèmes religieux et minorités en Océan indien. Table ronde IHPOM, CHEAM, CERSOI. Sénanque, mai 1980, pp. 45-95. Institut d’histoire des pays d’outre-mer, Université de Provence. Études et documents, no 14, 1981.

Des minorités mal connues: esclaves indiens et malais des Mascareignes au XIXe siècle”. Table ronde sur “Migrations, minorités et échanges en Océan Indien, XIXe-XXe siècle”, Sénanque, 1978, Études et Documents, Aix-en-Provence, IHPOM (Institut d’Histoire des Pays d’Outre-Mer), Université de Provence, n° 11, 1979, p. 160-242.

 

 

Gran 20 desanm numérik (Um grande 20 de dezembro digital) no Museu Villèle

A atual crise sanitária pôs em evidência a necessidade de manter a ligação entre os cidadãos, oferecendo cada vez mais conteúdos acessíveis, em qualquer lugar em que a pessoa se encontre. Como tal, o Departamento da Reunião propõe celebrar o GRAN 20 DESANM 2020 (Grande 20 de dezembro 2020) através de um programa que recorre à utilização de ferramentas digitais.

 

 

 

 

 

 

Kabar la parole (cerimónia da palavra)
Um debate público a fim de recolher as expetativas do povo da Reunião para o novo museu Villèle.

 

 

 

O Museu Villèle define-se agora como o museu da propriedade e da escravatura na Ilha da Reunião. Esta nova orientação reflete-se na reestruturação do sítio do museu e na transformação da sua museografia.

A 20 de dezembro, no próprio local do museu, uma operação denominada “Kabar la parole” terá como objetivo recolher as expetativas dos visitantes relativamente ao futuro museu, à sua organização, ao seu conteúdo, etc. Esta coleção tomará a forma de gravações áudio e vídeo de narrações.

O público também poderá exprimir a sua opinião no website efémero dedicado a esta operação, de 20 de dezembro de 2020 a 31 de janeiro de 2021. www.kabarlaparole.re

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Exposição “Escravatura em Bourbon

Por ocasião do Gran 20 desanm 2020, o Museu Villèle acolhe a exposição “A escravatura em Bourbon” concebida e realizada pelos Arquivos Departamentais da Ilha da Reunião.
Esta exposição, que retrata a história da escravatura na Reunião, é dirigida às escolas e ao público em geral.

Descubra a exposição

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Exposição “Kosa i lé le Kan?” (O que é o acampamento?)

Uma exposição concebida por Prosper Eve, com a colaboração de Alexis Miranville e da Associação Kan Villèle, para aprender tudo sobre o “acampamento” – o lugar onde os escravos eram alojados nas propriedades.

Leia mais

 

 

 

 

 

 

Colóquio “Escravatura. Novas abordagens”. Museu Villèle – 28 de dezembro de 2020

No âmbito da semana de História do Oceano Índico, a Associação Histórica Internacional do Oceano Índico, em parceria com o Departamento da Ilha da Reunião, apresentou um colóquio internacional intitulado “Escravatura, Novas Abordagens” no dia 28 de novembro de 2020 no Museu Villèle, história da propriedade e da escravatura.

Veja estes momentos de trocas em replay, durante os quais investigadores das Maurícias, Madagáscar, Moçambique, Paris, Alemanha e Ilha da Reunião partilharam as suas visões e experiências sobre dois temas principais: “Escravatura nos países do tráfico de escravos” e “Abolição, reparação e património”.

Primeira parte da conferência
Segunda parte da conferência

 

 

 

 

 

 

 

 

Lazer. Notícias de Bourbon de Auguste Logeais

As coleções da Biblioteca departamental da Reunião foram enriquecidas este ano por uma coleção de contos publicados em 1845 pela tipografia de P.A. Genesley-Portier (Laval).

 

 

Há poucas referências a este livro impresso em apenas 50 exemplares. O mesmo se aplica ao seu autor. Sabemos que contribuiu para um jornal de Laval, L’Echo de la Mayenne, e que provavelmente viveu em Bourbon entre 1840 e 1850: o seu nome aparece no censo de proprietários de escravos em Saint-Benoit em 1847-48.
O tipógrafo, cujo prefácio alerta para a natureza confidencial da publicação, enriqueceu os textos com ornamentos tipográficos executados com grande minúcia. Embora o autor transmita um certo número de preconceitos em voga na altura, esta obra tem um carácter precursor adicional, uma vez que alguns dos diálogos das histórias são escritos em crioulo.
Composto por um frontispício representando Bras-Canot, por sete contos que tratam essencialmente do marronnage (fuga de escravos), bem como cinco cartas do autor nas quais conta as suas peregrinações na sociedade e na natureza de Bourbon, este livro revela um conjunto de criações literárias e testemunhos históricos inéditos publicados alguns anos antes da abolição da escravatura, e parcialmente publicados na imprensa metropolitana.

Consultar o livro

 

 

 

 

 

FET KAF, o espetáculo ao vivo da Fundação para a Memória da Escravatura

Por ocasião da Fèt Kaf (Festa Cafre), o feriado da abolição da escravatura na Ilha da Reunião, a Fundação para a Memória da Escravatura convida-nos para um espetáculo excecional ao vivo apresentado por Sébastien Folin este domingo às 14h, hora de Paris (17h, hora da Ilha da Reunião).

Uma viagem de 1:30h através da história, cultura e sociedade da Ilha da Reunião, para compreender a marca deixada pela escravatura e pós-escravatura desde 1848.

 

Com Jacqueline Andoche, antropóloga; Jean Barbier, curador do Museu Villèle; Jérémy Boutier, investigador; Gilles Gauvin, professor de história; Mémona Hintermann-Afféjee, jornalista; Maya Kamaty, artista; Carpanin Marimoutou, professora de literatura; Michèle Marimoutou, historiadora; Ann O’aro, artista; Jean-François Rebeyrotte, investigador; Christine Salem, artista.

Encontro na conta Facebook da FME

 

 

 

«“Arcreologia Preventiva, uma homenagem a Wilhiam Zitte” Residência “Património e Criação” de Philippe GAUBERT, no Museu Villèle

Para esta exposição em homenagem a Wilhiam Zitte, o artista em residência, Philippe Gaubert, ocupa dois lugares altamente simbólicos no museu Villèle: a Chapelle Pointue (Capela Pontiaguda) e o antigo hospital de escravos. des esclaves.

Chapelle Pointue
Na Chapelle Pointue, a ideia é oferecer aos visitantes uma instalação que combine imagem e som, evocando a alma errante de Wilhiam Zitte em que a voz do artista ecoa e as suas fotografias em residência são mostradas num ecrã suspenso por cima do altar.
As fotografias tiradas por P. Gaubert, as primeiras das quais datam dos anos 90, mostram Zitte tanto na esfera privada como na pública.
A instalação é completada por uma Via Sacra concebida por W. Zitte e realizada por bordadeiras malgaxes em 2007: uma criação apoiada pela Direção Regional dos Assuntos Culturais da Ilha da Reunião e destinada à igreja de Grand îlet (Salazie). Este notável trabalho é emprestado pela diocese de Saint-Denis de La Réunion.

Antigo hospital de escravos
Neste edifício patrimonial emite-se um novo documentário intitulado “Omaz à Wilhiam Zitte. Arkréolozi préventive” (Homenagem a Wilhiam Zitte. Arcreologia preventiva) no qual os amigos do artista da Reunião testemunham. As criações vídeo realizadas durante o workshop “Homenagem a Wilhiam Zitte” pelos estudantes da École Supérieure d’Art de La Réunion são também exibidas. É apresentada uma seleção de obras originais do artista plástico, bem como reproduções de coleções públicas e privadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Exposição “Escravatura em Bourbon”
Museu Villèle, 20 de dezembro de 2020 – 28 de março de 2021

Por ocasião do Gran 20 desanm 2020 (Grande dia 20 de dezembro 2020), o museu Villèle acolhe a exposição “Escravatura em Bourbon”, concebida e realizada pelos Arquivos Departamentais da Ilha da Reunião.
Esta exposição, que retrata a história da escravatura na Reunião, é destinada às escolas e ao público em geral.

 

 

Praticada em todos os tempos e em todos os lugares, a escravatura foi-se estabelecendo gradualmente nas Mascarenhas a partir dos finais do século XVII. As cartas-patente de 1723, mais conhecidas como Code Noir (Código Negro), constituíam o quadro legislativo em vigor até 1848 no qual os escravos eram definidos como bens móveis.

As fontes do tráfico de escravos mudaram consoante as épocas. A Índia esteve envolvida ocasionalmente, tal como a costa ocidental de África, sendo as duas principais fontes Madagáscar e a costa oriental de África. Neste contexto formaram-se redes com a participação de chefes locais.

A alforria era uma generosidade por parte do senhor, geralmente como recompensa por um bom serviço prestado. Estava sujeita a condições. O homem libertado tinha de ser capaz de se sustentar a si próprio.

Uma das respostas à opressão era a fuga ou marronage (maronage). Uma infra-sociedade, uma “sociedade silenciosa”, ou até um “reino interior”, com “reis” e “rainhas”, ter-se-ia formado nas montanhas interiores.

Os senhores tinham perceções diferentes dos escravos dependendo da sua origem. Os escravos “crioulos” (nascidos na ilha, por vezes após várias gerações) eram geralmente os mais apreciados.

A primeira abolição da escravatura (1794) fracassou nas ilhas Mascarenhas, perante a resistência dos proprietários. O tráfico foi teoricamente proibido em 1817, e efetivamente em 1830.

A abolição foi decretada a 27 de abril de 1848 e oficialmente promulgada a 20 de dezembro na Ilha da Reunião pelo Comissário da República, Sarda Garriga. Mais de 62 000 indivíduos acederam assim ao estatuto de cidadãos, porém a questão da sua integração fica em suspenso.

Albert Jauze,
Doutor em história moderna, curador da exposição

 

Descubra a exposição digital

Colóquio “Escravatura. Novas abordagens”
28 de novembro de 2020 – Museu Villèle

No quadro da semana de História do oceano Índico, a Associação Histórica Internacional do Oceano Índico, em parceria com o Departamento da Ilha da Reunião, propõe um colóquio internacional no dia 28 de novembro de 2020 no museu Villèle, história da propriedade e da escravatura intitulado “Escravatura. Novas abordagens“.

 

 

Como é habitual, o último dia da semana da História do oceano Índico será dedicado ao tema da escravatura. A Associação Histórica Internacional do Oceano Índico contribui assim para a comemoração da abolição da escravatura pela França na Reunião, a 20 de dezembro de 1848.

A regra imposta aos investigadores é a de renovar os conhecimentos sobre este sistema iníquo de exploração dos seres humanos pelos seres humanos.

Este ano, os colegas de Moçambique irão abordar a questão do tráfico de escravos a partir do seu país.

O Sr. Jean-François Cany, que defendeu brilhantemente a sua tese intitulada “Religions et servitudes. Theoria, éthique, salut : origines et structure dialectique des idéologies de la servitude autour d’une île de l’océan Indien” terá a oportunidade de continuar a sua reflexão sobre este tema que lhe é caro.

Prosper Eve,
Presidente da Associação Histórica Internacional do Oceano Índico

 

 

Descubra o programa

 

 

O Parlamento Europeu reconhece a escravatura como «crime contra a humanidade»

Nesta sexta-feira 19 de junho, o Parlamento Europeu adotou com uma esmagadora maioria uma resolução simbólica na qual reconhece a escravatura como «crime contra a humanidade».

Esta proposta, apresentada pelo eurodeputado da Reunião Younous Omargee, foi integrada na resolução sobre as manifestações contra o racismo após a morte de Georges Floyd.

«É preciso reconhecer que este acontecimento é um reflexo de séculos de domínio sobre os negros nos EUA e de condições desiguais na Europa. Recordemos que a nossa história europeia sempre oscilou como um pêndulo entre a barbárie e a civilização. Que foi na Europa, não obstante a razão, não obstante o Iluminismo, que nasceram as piores teorias da hierarquia racial para justificar conquistas, para justificar a escravatura, para justificar a colonização e para justificar o Holocausto», disse Younous Omargee no seu discurso ao Parlamento Europeu.

Eis o texto adotado:
«O Parlamento Europeu apela às instituições e aos Estados-Membros da União Europeia para que reconheçam formalmente as injustiças e crimes contra a humanidade cometidos no passado contra pessoas negras e pessoas de cor; declara o tráfico de escravos um crime contra a humanidade e apela para que o dia 2 de dezembro seja designado como o Dia Europeu da Memória da Abolição do Tráfico de Escravos; incentiva os Estados-Membros a incluírem a história das pessoas negras e das pessoas de cor nos seus programas escolares».

Em França, foi a 21 de maio de 2001 que o tráfico de escravos e a escravatura foram reconhecidos como crime contra a humanidade através da lei de Taubira, com o nome da deputada guianesa Christiane Taubira, que esteve na origem do projeto de lei antes de ser a sua relatora na Assembleia Nacional.

O Parlamento Europeu também proclamou na sua resolução, aprovada por 493 votos a favor, 104 contra e 67 abstenções, que «as vidas das pessoas negras são importantes», fazendo eco do slogan «Black Lives Matter» do movimento global contra o racismo e a violência policial que começou nos Estados Unidos.

No seu texto, o Parlamento «condena veementemente a terrível morte de George Floyd nos Estados Unidos, bem como assassinatos semelhantes noutras partes do mundo». Manifesta o seu apoio às recentes manifestações contra o racismo e a discriminação e condena «o supremacismo branco em todas as suas formas».

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“A estranha história de Furcy Madeleine: 1786-1856”
exposição no Museu de Villèle

A exposição, organizada de 11 de dezembro de 2019 a 20 de abril de 2020 pelo museu histórico de Villèle, em parceria com os Arquivos do departamento da Reunião, retrata a história singular do escravo Furcy.

Em 1817, na ilha Bourbon/Reunião, o escravo Furcy, com trinta e um anos de idade, instaurou um processo contra o seu senhor, Joseph Lory, junto do tribunal de primeira instância de Saint-Denis.

Contestava o seu estatuto de escravo e reivindicava a sua “ingenuidade”, ou seja, a sua liberdade por nascimento.

Com a ajuda da sua irmã Constance Jean-Baptiste, que era livre, Louis Gilbert-Boucher, procurador do Ministério Público no Tribunal Real de Bourbon em 1817, e Jacques Sully-Brunet, jovem advogado e conselheiro no Tribunal Real de Bourbon, embarcou numa longa luta contra a justiça colonial que o levaria à prisão em Bourbon, ao exílio nas Maurícias, primeiro como escravo e depois como alforriado, e até mesmo aos tribunais em França.

Este processo, que durou vinte e sete anos, terminou a 23 de dezembro de 1843 perante o Tribunal Real de Paris: “Furcy nasceu em estado de liberdade e ‘ingenuidade’”.

A história de Furcy, estado da investigação

A exposição é o resultado de um trabalho de investigação realizado pelo antropólogo e historiador Gilles Gérard, que escreveu o cenário.
Baseia-se também nos trabalhos de Sue Peabody, historiadora e académica americana, autora de Madeleine’s Children: Family, Freedom, Secrets, and Lies in France’s Indian Ocean Colonies, e do investigador Jérémy Boutier, autor de uma tese intitulada La question de l’assimilation politico-juridique de La Réunion à la métropole, 1815-1906 (Université d’Aix-Marseille) e de vários artigos sobre Furcy.

Os desafios da exposição

A exposição visa, com base nas fontes disponíveis, apresentar uma visão da vida de Furcy, na sua dimensão singular, prodigiosa e complexa, mesmo que isso signifique restabelecer alguns factos e quebrar algumas ideias pré-concebidas: não era um militante abolicionista, sendo que até chegou a possuir escravos e terminou os seus dias em relativa opulência.

Visa também colocar a estranha história de Furcy no contexto das sociedades coloniais de Bourbon e das Maurícias e destacar uma representação de Furcy, frequentemente distorcida, na memória coletiva.

O itinerário da visita é pontuado pelos vários acontecimentos desta batalha jurídica que durou 27 anos: abuso de poder, documentos falsos, pressões exercidas sobre Furcy e a sua família…

Em cada uma das quatro secções da exposição destacam-se elementos de arquivo com vista a apoiar as afirmações dos historiadores, sendo também possível consultar as fichas informativas presentes na sala para aprofundar conceitos ou factos.

Paralelamente, há um segundo percurso intitulado “Furcy hoje”, no qual um sistema de ecrãs transmite entrevistas de vários artistas que se debruçaram sobre a história de Furcy nos últimos anos.

As personagens criadas pelo desenhador Sébastien Sailly sob a forma de silhuetas estão presentes em todas as salas para ajudar o visitante a situar todos os protagonistas da história cujo enredo se desenrola entre a Índia, Bourbon, as Maurícias e França: Furcy, de quem nenhuma representação é conhecida até à data, a sua irmã Constance, uma pessoa de cor livre, a sua mãe Madeleine, nascida em Chandernagor, Philippe Desbassayns de Richemont, filho de Ombline Desbassayns, o procurador Boucher, Joseph Lory, o proprietário de Furcy…

Personagens, lugares, documentos perdidos e achados, documentos falsificados: todos os elementos estão presentes para revelar esta estranha história ao visitante.

Furcy, ressonâncias contemporâneas

Na Ilha da Reunião, embora a história de Furcy nos tenha sido revelada pelo trabalho do historiador Hubert Gerbeau em 1990, foi, no entanto, graças a Sophie Bazin e Johary Ravaloson (cujo pseudónimo é Arius e Mary Batiskaf), e à sua criação Liberté Plastik em 1998, que Furcy se tornou um símbolo da luta pela liberdade.

A publicação do livro de Mohammed Aïssaoui, L’affaire de l’esclave Furcy, (Prix Renaudot 2010), é outro elemento a ter em conta para compreender o aparecimento nos anos 2000 do movimento coletivo Libèr nout’ Furcy (Libertem o nosso Furcy), e a emergência de várias criações de artistas daqui e de alhures: As peças de Hassane Kouyaté, Francky Lauret e Erick Isana’s L’affaire de l’esclave Furcy, Fer6, o esboço de um filme de animação de Laurent Médéa, a canção L’or de Furcy do músico Kaf Malbar, ou ainda a escultura de Marco Ah Kiem no Barachois em Saint-Denis.

Liberdade Plástica
Arius e Mary Batiskaf
1998

De maio de 1998 a maio de 1999, Arius e Mary Batiskaf (cujos verdadeiros nomes são Sophie Bazin e Johary Ravaloson) fizeram uma digressão pela Ilha da Reunião com a encenação de uma reconstituição do julgamento de Furcy, com atores a atuarem dentro de uma gaiola, uma instalação itinerante que viajou por dez locais diferentes. Uma centena de atores deram vida a este primeiro julgamento imaginado e escrito por Johary Ravaloson.
150 anos após a abolição da escravatura, a história deste Furcy revelou um herói positivo, e destacou relações de poder que nem sempre eram claras.

O processo do escravo Furcy
Mohammed Aïssaoui
2010

L’affaire de l’esclave Furcy é um ensaio histórico do escritor e jornalista francês Mohammed Aïssaoui publicado em 2010 por Gallimard. O livro recebeu vários prémios, incluindo o Prémio Renaudot do ensaio histórico em 2010 e o Prémio do livro RFO em 2010.
Esta história romanceada de Mohammed Aïssaoui revelou a história do escravo Furcy e a sua luta pela liberdade ao público em geral.

O processo do escravo Furcy
Encenado por Hassane Kassi Kouyaté
e Patrick Le Mauff. Com Hassane Kassi Kouyaté.
2013

“Hassane K. Kouyaté conta a história do processo e a investigação realizada pelo jornalista Mohammed Aïssaoui. Como ator, ele reveza-se na interpretação das personagens deste processo surpreendente, numa encenação simples e eficaz”. (Jeune Afrique)

LorDeFurcy
Kaf Malbar
2014

O cantor Kaf Malbar do bairro Cow Boy em Chaudron (Saint-Denis, Ilha da Reunião) presta homenagem à luta de Furcy numa canção. A sua popularidade, especialmente entre os jovens, ajudou a divulgar ainda mais a história de Furcy na Reunião.

O processo do escravo Furcy
Tiktak Production
2015

A empresa da Reunião Tiktak Production adquiriu os direitos para adaptar o livro L’affaire Furcy de Mohammed Aïssaoui. Realizado pelo encenador Serge Élissalde com imagens reais na Reunião que foram pintadas utilizando diferentes técnicas desenvolvidas para a ocasião. O rosto de Furcy é inspirado pelas características do ator Camille Bessière.

Fer6
Texto de Francky Lauret,
interpretado por Érick Isana
2016

O escritor Francky Lauret faz Furcy dialogar com outros escravos numa cela na prisão Juliette Dodu em Saint-Denis. Sozinho no palco, Érick Isana assume o papel de cada uma das personagens.

Escultura de Furcy
Realizada por Marco Ah-Kiem
2018

O escultor de Ilet Quinquina (município de Sainte-Clotilde, Ilha da Reunião), autor de numerosas obras sobre a escravatura, celebra a memória de Furcy com um conjunto esculpido instalado no Barachois em Saint-Denis (Ilha da Reunião).

Um acervo Furcy nos Arquivos do departamento da Ilha da Reunião

A investigação histórica sobre Furcy progrediu, em particular graças à compra em leilão do “acervo Furcy” pelo Conselho Departamental em 2005 que, de facto, corresponde aos documentos de Louis Gilbert Boucher, Procurador-geral do Tribunal Real de Bourbon, o principal apoiante de Furcy.
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Regards croisés sur l’esclavage
(Olhares cruzados sobre a escravatura)

UMA PUBLICAÇÃO DE REFERENCIA
SOBRE A ESCRAVATURA EM BOURBON/REUNIÃO

Em 1998, por ocasião do 150.º aniversário da abolição da escravatura, os Arquivos e a Biblioteca Departamentais, e os Museus Léon Dierx e Villèle apresentaram uma grande exposição acompanhada de um importante catálogo destacando documentos patrimoniais inéditos reveladores do período de escravatura na ilha. Vinte anos mais tarde, o Conselho Departamental reedita o trabalho, acrescentando atualizações científicas que nos permitem fazer o balanço dos progressos realizados e dos desafios que ainda estão por superar a fim de assumir coletivamente esta história partilhada.

Descubra o sumário

Galeria de retratos

UMA EXPOSIÇÃO DOS TRABALHOS DOS ALUNOS DO SECUNDARIO DA REUNIÃO CONCEBIDA POR LIONEL LAURET

Em 2018, foi organizado um concurso no quadro da educação para a cidadania dos estudantes, em parceria com o Conselho Departamental e a Academia da Reunião, no âmbito do 170.º aniversário da abolição da escravatura. Os alunos foram convidados a desenhar um retrato de um ou mais escravos com base nos nomes de escravos presentes no testamento da Sra. Desbassayns. 85 escolas secundárias públicas e privadas participaram no evento, tendo sido apresentada uma exposição coletiva dos seus trabalhos no Museu Villèle.

Os Indispensáveis

Esta base de dados online, consagrada à história da escravatura na Reunião, é constituída por documentos de arquivo, imagens, objetos, entre outros, pertencentes a coleções de instituições culturais do Departamento: o Museu histórico Villèle (MHV), os Arquivos departamentais da Reunião (ADR), o Museu Léon Dierx (MDL) e a Biblioteca departamental da Reunião (BdR).

 

Dança dos Negros na praça do Governo, dia 20 de dezembro de 1848. Abolição da escravatura.
Louis Antoine Roussin. 2.ª metade do século XIX. Litografia.
Coleção Museu histórico Villèle

O seu acesso é livre e ilimitado e destina-se a todos os tipos de público: escolas, mediatecas, municípios, associações, etc.

Nela poderão encontrar:
• Mais de cinquenta documentos de referência pertencentes a coleções históricas do Departamento
• Cem imagens antigas que representam cenas de vida, retratos e paisagens da época
• Uma exposição dos Arquivos departamentais da Reunião:
Les noms de la liberté (Os nomes da liberdade)
• Dois romances:
Les marrons (Os escravos fugitivos), de Louis-Timagène Houat, 1844
Matzingoro ou l’esclave Djoloff (Matzingoro ou o escravo Djoloff), de André Berthet, 1885

23 de maio, dia nacional de homenagem às vítimas da escravatura colonial

A 23 de maio de 1998, por ocasião do centenário da abolição da escravatura em 27 de abril de 1848, teve lugar em Paris, entre a Place de la République e a Place de la Nation, uma marcha silenciosa de 40 000 pessoas principalmente oriundas de Guadalupe, Martinica, Guiana e Reunião.

Contrariamente ao discurso oficial defendido até então pelo Estado francês, designadamente o destaque dado aos abolicionistas metropolitanos ligados a esta causa, os manifestantes do dia 23 de maio celebraram sobretudo a memória dos seus antepassados que foram “escravizados” durante vários séculos nos territórios ultramarinos franceses. No rescaldo deste movimento histórico, foi fundado o Comité de 23 de maio de 1998 (CM98), no final de novembro de 1999, cuja ambição consistia em reconhecer oficialmente o tráfico negreiro e a escravatura nas colónias francesas como um crime contra a humanidade. O princípio está consagrado na lei de 21 de maio de 2001. A comemoração anual de 23 de maio, um dia nacional em homenagem às vítimas da escravatura, que foi oficialmente introduzida pela circular de 29 de abril de 2008, foi promulgado, tal como a comemoração de 10 de maio, pela lei de 27 de fevereiro de 2017.

Menos mediatizada do que o dia nacional das memórias do tráfico de escravos, da escravatura e da sua abolição a 10 de maio, a comemoração do 23 de maio tem sido, no entanto, objeto de acontecimentos em toda a França continental e no ultramar nos últimos 20 anos. Os eventos, impulsionados e organizados por associações memoriais em parceria com as autoridades locais, combinam geralmente um momento de recolhimento em torno de uma estela construída para o efeito, bem como um tempo de expressão cultural. Por exemplo, a 23 de maio de 2015, cerca de 30 000 pessoas reuniram-se na Place de la République em Paris em torno de quadros genealógicos criados por ativistas da CM98 e um grande concerto de gwoka, bélé e maloya.

Para assinalar o 20.º aniversário da marcha, a comemoração nacional de 23 de maio de 2018, organizada pelo Comité Nacional para a História e Memória da Escravatura (CNMHE), teve lugar no Ministério do Ultramar na presença da Sra. Annick Girardin, Ministra do Ultramar e do Sr. Jean Marc Ayrault, antigo Primeiro-Ministro e Presidente do GIP (Grupo de Interesse Público) da Missão da Memória da Escravatura e do Tráfico de Escravos e sua Abolição. Liderada pelo Sr. Frédéric Régent, Presidente do CNMHE, a cerimónia começou com a plantação de uma “árvore da liberdade” no pátio do Ministério do Ultramar na presença dos convidados, seguida da atribuição do prémio de tese e de uma mesa redonda sobre o tema “São os descendentes de escravos ainda vítimas da escravatura?”

Para este ano 2020, a comemoração nacional de 23 de maio, num contexto de medidas de desconfinamento rigorosas, consistirá na colocação de uma coroa de flores e um momento de recolhimento defronte da estela consagrada às vítimas da escravatura colonial, criada pelo escultor Nicolas Cesbron, na Place Victor Hugo, no município de Saint-Denis (93), na presença, entre outros, da Sra. Annick Girardin, Ministra do Ultramar, do Sr. Laurent Russier, Presidente da Câmara de Saint-Denis, do Sr. Serge Romana, Presidente da Fundação Escravatura e Reconcialização e do Sr. Emmanuel Gordien, Presidente da CM98.

Bruno Maillard / Doutor em História
Investigador associado no Laboratório CRESOI da Universidade da Reunião
Docente auxiliar na Universidade de Paris Est Créteil
Membro do Conselho Científico da Fundação para a Memória da Escravatura

Homenagem ao historiador Claude Wanquet (1937-2020)

O Departamento presta homenagem à memória do eminente historiador Claude Wanquet, falecido recentemente.

 

 

Reconhecido especialista no período revolucionário e imperial, começou a sua carreira como autor através da publicação da sua tese «Histoire d’une révolution : La Réunion (1789-1803)» (História de uma revolução: a Reunião (1789-1803)). Posteriormente, escreveu dezenas de livros e artigos científicos sobre o seu tema de eleição.

Professor emérito de história na Universidade da Reunião, antigo presidente da Associação Histórica Internacional do Oceano Índico (1998-2008), membro da Academia da Reunião desde 1969, Claude Wanquet colaborou regularmente com o Conselho Departamental com vista a divulgar investigações científicas e propor publicações destinadas ao público em geral.

Em 2017, Claude Wanquet aceitou ser membro honorário do comité científico para a prefiguração do novo museu Villèle.
Hoje, a Biblioteca departamental da Reunião e o Portal digital do museu sobre a escravatura na Reunião prestam homenagem ao historiador.

O Departamento apresenta os seus sinceros pêsames à família e amigos de Claude Wanquet.

 

Leia os artigos de Claude Wanquet publicados no sítio web:

Portrait d’Henri-Paulin Panon Desbassayns / Claude Wanquet. In Société de plantation, histoire & mémoire de l’esclavage à La Réunion

La première abolition de l’esclavage à La Réunion et sa non application par la France à La Réunion / Claude Wanquet. In Société de plantation, histoire & mémoire de l’esclavage à La Réunion

 

Bibliografia

Histoire d’une révolution : La Réunion 1789-1803 / Claude Wanquet. – Marseille : J. Laffitte, 1980. – 3 vol. (779 p., 514 p., 622 p.) ; 22 cm.

Des marines au port de la pointe des galets : 1886-1986, centenaire / [Comité du centenaire de la ville du Port] ; [réd. par] Angèle Squarzoni, Claude Wanquet, Élie Fontaine, Edmond Maestri… [et al.] ; préface de Claude Wanquet . – La Réunion : Comité du centenaire de la ville du Port, 1987. – (195 p.): ill.; 21 cm . – (1886-1986 Centenaire).

Fragments pour une histoire des économies et sociétés de plantation à La Réunion / sous la direction de Claude Wanquet. – Saint-Denis : Publications de l’Université de la Réunion, Centre de documentation et de Recherche en Histoire Régionale de l’Université de la Réunion, 1989. – 351 p. : couv. ill. en coul. ; 21 cm.

La Révolution à la Réunion : 1789-1803 : [exposition, Hôtel de ville de Saint-Denis, 1990] / [organisée par le] Musée de Villèle… ; [catalogue de] Claude Wanquet,… ; [préf. de Jean Barbier]. – Saint-Gilles-les-Hauts : Musée historique de Villèle, 1990. – 1 vol. (24 p.) : ill. en noir et en coul. ; 21 cm.

Les Premiers députés de La Réunion à l’Assemblée nationale : quatre insulaires en Révolution (1790-1798) / Claude Wanquet. – Paris : Karthala, 1992. – 1 vol. (237 p.) ; 22 cm.

La France et la première abolition de l’esclavage : 1794-1802 : le cas des colonies orientales Ile de France (Maurice) et La Réunion / Claude Wanquet. – Paris : Karthala, 1998. – 1 vol. (724 p.) : ill. ; 25 cm. – (Hommes et sociétés).

Henri Paulin Panon Desbassayns : autopsie d’un”gros Blanc” réunionnais de la fin du XVIIIe siècle / Claude Wanquet . – Saint-Gilles-les-Hauts : Musée historique de Villèle, 2011. – 1 vol. (335 p.-[32] p. de pl.) : ill. en noir et en coul. ; 25 cm. – (Collection patrimoniale Histoire).

170.º aniversário
da abolição da escravatura,
de dezembro de 2018 a dezembro de 2019, um ano comemorativo

Há exatamente um ano, o Conselho Departamental anunciava o lançamento de um ano inteiro de comemoração do 170.º aniversário da abolição da escravatura.

Desde o início, especificámos que a comemoração incluiria uma variedade de destaques duradouros e unificadores, tais como conferências, seminários, concertos, residências artísticas, websites e prémios. E assim o tom foi dado em toda a ilha, não só para o mês de dezembro de 2018, mas também para todo o ano comemorativo. Um evento chave foi o festival “Gran 20 Désanm” realizado no museu Villèle, maravilhosamente encenado e iluminado, e que contou com vários milhares de visitantes, incluindo convidados vindos de Moçambique, da Fundação para a Memória da Escravatura e da UNESCO.

Foi nesta ocasião que lançámos o grande projeto do museu Villèle: após uma ambiciosa campanha de renovação, o museu de Saint-Gilles-les-Hauts alargaria o seu propósito e passaria a contar a história da propriedade e da escravatura.

Ao longo de 2019, continuámos a trabalhar na história e na memória, com a preocupação permanente de realizar uma comemoração digna e partilhada. Por conseguinte, trabalhámos em colaboração com investigadores, artistas, associações, clubes e autarquias. Reforçámos os laços com atores locais e criámos parcerias a nível local e nacional.

A maioria das ações realizadas, no âmbito deste 170.º aniversário de uma efeméride importante da história da França e da Ilha da Reunião, permanecerá.

Entretanto, um “2.º Gran 20 Désanm” encerrará o ano comemorativo.

Com uma exposição inédita dedicada ao escravo FURCY, haverá também a apresentação da 2.ª edição do livro Regards croisés sur l’esclavage (Olhares cruzados sobre a escravatura), a difusão de filmes em grande ecrã, visitas sonorizadas, um “pequeno museu digital”, a recriação de um Kan (acampamento de escravos), vários far far (festivais gastronómicos)… E um programa artístico que reunirá mais de uma centena de artistas (músicos, bailarinos, contadores de histórias, artistas plásticos…).

Esperamos sinceramente que muitos de vós venham a este encontro marcado com a nossa história.

Desejamos um excelente “Gran 20 Desanm” a toda a gente!

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho Departamental da Ilha da Reunião

Um novo nome para Le Pas de Bellecombe

O nome da passagem no cimo da montanha, um miradouro excecional com vista para o noroeste do recinto vulcânico Fouqué, a última caldeira do Piton de La Fournaise, foi enriquecido com o nome do escravo que descobriu o acesso ao recinto. O lugar chama-se agora “Le Pas de Bellecombe – Jacob”.

Lugar nas terras altas de Rivière de l’Est. Bory de Saint-Vincent, Jean-Baptiste. Desenhador. 1804. Gravura.
Coleção Museu Histórico Villèle

Durante a expedição de 1768 ao vulcão, o Governador Léonard de Bellecombe, acompanhado pelo gestor orçamental Honoré de Crémont e por escravos carregadores, encontraram-se no precipício do recinto. Não destrinçando maneira para lá chegar, o governador recuou. O Sr. Crémont, mais determinado, prosseguiu e prometeu seis peças de pano azul aos escravos que encontrassem a passagem no precipício. Após muitas buscas, o escravo Jacob encontrou uma forma de passar e desceu a falésia com o Sr. de Crémont.
Não obstante o governador nunca ter descido ao recinto, o local recebeu o seu nome, Pas de Bellecombe.

Na quarta-feira 28 de agosto de 2019, o presidente da câmara de Sainte-Rose, Michel Vergoz, inaugurou a placa situada no parque de estacionamento com o novo nome do local Le Pas de Bellecombe-Jacob, prestando assim homenagem ao escravo que abriu o acesso ao recinto.

170.º aniversário
da abolição da escravatura
1848 – 2018

Um ato fundador, para um grande projeto de história e de memória(s)
Para o Conselho Departamental, o dia 20 de dezembro de 2018 terá uma dimensão excecional. A celebração do 170.º aniversário da abolição da escravatura em França está diretamente ligada ao principal projeto cultural da coletividade durante este mandato: o projeto do museu histórico de Villèle, o museu da propriedade e da escravatura.

Pretendemos organizar um grande 20 de dezembro no museu e em toda a ilha. Solene e festivo, cultural e popular.

Trata-se de um ano comemorativo (dezembro de 2018 – dezembro de 2019) que, em todas as suas iniciativas, irá prenunciar o futuro museu, que pretendemos transformar num centro científico e cultural de excelência na matéria, e um centro de referência na Reunião em termos de turismo cultural.

Cerca de trinta investigadores, outros tantos artistas, associações, municípios, serviços estatais, ligas e comités desportivos, clubes, parceiros do mundo económico… já estão ao nosso lado para :
– enriquecer e transmitir conhecimentos sobre a escravatura na Reunião
– valorizar e partilhar o património cultural resultante da escravatura, a(s) memória(s)
– dar aos atores da história uma presença visível e digna
– colocar a história da escravatura na Reunião dentro da história universal e intemporal da escravatura no mundo.

Outros parceiros juntar-se-ão sem dúvida a nós porque o nosso desejo é envolver todas as pessoas da Reunião, para assegurar que a comemoração irradie em todo o território, que envolva ainda mais parceiros locais, nacionais e internacionais, e que os projetos do Departamento sejam federativos e duradouros.

Todos os dias, os rumores do mundo informam-nos sobre o aumento do extremismo de todos os tipos, e das inúmeras exclusões que inevitavelmente os acompanham. A Ilha da Reunião não pode sacrificar o ideal de unidade que se tem esforçado por construir, dia após dia, desde o ato histórico que o tornou possível: a proclamação da abolição da escravatura em 1848. A liberdade não é dada por decreto, definitivamente, é uma conquista diária.

Com dignidade e harmonia, façamos deste 20 de dezembro de 2018 um Gran 20 désanm, e de 2019 um grande ano comemorativo.

Um tempo para aprofundar o conhecimento sobre a história da escravatura, um elogio à liberdade, um belo momento de unidade.

Cyrille Melchior,
Presidente do Conselho Departamental da Ilha da Reunião

 

“Le jour de l’Abolition” (O dia da Abolição)
exposição no Museu Léon Dierx
27 de abril – 15 de setembro de 2019

Exposição baseada na pintura de Alphonse Garreau, Allégorie de l’abolition de l’esclavage à La Réunion (Alegoria da abolição da escravatura na Reunião)
Com uma instalação de Matilde Fossy “Dissiper la Brume” (Dissipar a Bruma)

Um confronto histórico

A 20 de dezembro de 1848, mais de 60 000 escravos tornaram-se livres na sequência de um discurso do Comissário da República, Joseph Napoléon Sarda-Garriga, na Place du Gouvernement em Saint-Denis. Um ano depois, o artista Alphonse Garreau, que na altura vivia na ilha, pintou um quadro para comemorar este evento, conhecido hoje como a “Allégorie de l’abolition de l’esclavage à La Réunion”.

A visão deste artista é uma visão de poder, ordem e trabalho. O tema principal é Sarda-Garriga. A mensagem do quadro é clara: a liberdade está sujeita à obrigação de trabalhar. Nesta obra, os antigos escravos recentemente libertados permanecem totalmente anónimos na multidão, sem qualquer poder de expressão.

Revisitar “A Alegoria…”, tornando estes escravos presentes, é alargar o significado dado a esta pintura repleta de história. Assim, o projeto do Museu Léon Dierx consiste em fusionar história e arte contemporânea.

“Dissiper la Bruma”, a instalação da artista Mathilde Fossy criada para esta exposição, proporciona uma viagem através dos meandros da história. Os nomes dados aos escravos em 1848, no coração da proposta artística, ecoam a pintura de Garreau e entram em ressonância com os patronímicos dos dias de hoje, como uma nova alegoria que leva em consideração a temporalidade dos 170 anos que acabam de passar.

Uma exposição em três partes

A primeira reúne litografias e gravuras oriundas das coleções das instituições culturais do Departamento relacionadas com a denúncia do tráfico de escravos e do sistema servil nas colónias. Desde gravuras do final do século XVIII retiradas das obras dos intelectuais iluministas até às gravuras relacionadas com primeira abolição de 1794, desde as várias gravuras que criticam o tráfico de escravos na primeira metade do século XIX até às pinturas emblemáticas que comemoram o fim da escravatura em Inglaterra e França, o visitante acompanha a evolução histórica do discurso e a sua transcrição pelos artistas através de uma seleção de obras e reproduções originais.

Uma segunda secção centra-se nos eventos que tiveram lugar na Reunião em 1847-1848 através do testemunho artístico de dois artistas que estavam presentes na ilha nessa altura: Antoine Louis Roussin (1819-1894) e Adolphe Potémont (1828-1883). Através das suas litografias, na maioria das vezes satíricas, descrevem o fim da escravatura, a abolição e as reações da população a este acontecimento histórico durante aqueles poucos meses que abalaram a história da Ilha da Reunião. É nesta secção que se encontra a pintura de Alphonse Garreau, “Allégorie de l’abolition de l’esclavage à La Réunion”, conservada no Museu Quai Branly Jacques Chirac, e que regressa à Reunião 170 anos após a sua criação.

Na terceira parte, a obra de Mathilde Fossy, “Dissiper la Brume”, leva-nos para além da pintura. A instalação convida os visitantes a vaguear por um espaço pontuado por folhas de acrílico. Nestes painéis estão inscritos os nomes dos alforriados de 1848, formando uma multidão simbólica. O caminho entre os nomes representa também um movimento do passado para o presente em que cada um de nós está envolvido. A escolha deste material transparente reflete o desejo de expor a verdade por detrás deste acontecimento, de esclarecer a situação.

Um portal digital para o museu histórico

O Museu histórico Villèle é um local emblemático de um período particular da história da sociedade de plantação marcada pelo cultivo de café, algodão e cana-de-açúcar.

Esta antiga propriedade, criada no final do século XVIII pelo casal Panon-Desbassayns, atesta o desenvolvimento da organização social e económica da ilha até aos anos 1970. Evoca o modo de vida de uma família de plantadores e trabalhadores, escravos, contratados e pequenos colonos cuja história está ligada à dos senhores.

O museu pretende contar a história da propriedade através dos edifícios, jardins e vestígios materiais e imateriais que caracterizam esta propriedade, bem como desenvolver um itinerário museográfico específico ao período da escravatura na Ilha da Reunião.

Na era digital, tornou-se imperioso criar um novo website de referência. Este portal web, organicamente ligado ao website do Museu histórico de Villèle, que se focaliza nas coleções, na oferta cultural e em eventos atuais, visa oferecer uma base de dados documental complementar composta por textos de investigadores, historiadores, arqueólogos, antropólogos, curadores, entre outros, agrupados no seio de um comité científico criado em 2018.

Apresentada como um centro de recursos atualizados especializado na sociedade de plantação, na propriedade Desbassayns, na história e memória da escravatura na Reunião, a arborescência permite aos cibernautas acederem a diferentes rubricas relativas a temas particulares: a Companhia das Índias, as famílias de plantadores, a economia açucareira, as famílias Panon-Desbassayns e de Villèle, o tráfico de escravos no Oceano Índico, o Code Noir (Código Negro), os trabalhadores contratados, a cronologia das abolições, o património cultural resultante da escravatura, os lugares de memória…

Um website para todos os públicos

Os textos escritos pelos participantes são frequentemente ilustrados por documentos iconográficos conservados em instituições patrimoniais da Reunião ou de França continental. Destinam-se tanto ao visitante curioso que procura informações gerais como a um público especializado (alunos, estudantes, professores, etc.) que deseje realizar uma investigação mais aprofundada e ter acesso aos conhecimentos fornecidos por investigadores de horizontes diferentes.

Um website evolutivo

O objetivo ambicioso deste website é, por um lado, criar um portal digital de referência, um instrumento de conhecimento dedicado à sociedade de plantação e à história da escravatura na Ilha da Reunião e, por outro lado, proporcionar aos investigadores, instituições patrimoniais, artistas, associações, entre outros, um espaço de liberdade que lhes permita contribuir para o progresso da investigação neste domínio.

Kayamb, bob, roulèr: novas aquisições para o museu

Três instrumentos emblemáticos da música tradicional da Reunião, fabricados por três músicos, entraram para as coleções do museu Villèle dia 20 de dezembro de 2018.

O Kayamb:

Realizado por Firmin Viry, é composto por uma caixa de ressonância feita de hastes de piteira e caules de flores de cana-de-açúcar, montado com um cordel e cola. É preenchido por sementes de cana-da-índia.

O Roulèr ou tambor com membrana:

Fabricado por Stéphane Grondin, consiste num barril de carvalho com anéis metálicos e extremidades truncadas, uma das quais é coberta com uma pele de boi cravejada.

 

O Bob ou arco musical:

Realizado por Johny Bily, é composto por um amplificador constituído por uma cabaça esvaziada, um chocalho (kaskavel) feito com folhas de pandano entrançadas preenchido com sementes de cana-da-índia, um arco de bois jaune (ochrosia bobonica) e de fibra de piteira que é percutido por uma baqueta (tikouti) em bois de gaulette (doratoxylon).

Quatro residências de artistas sobre “património e criação” integradas na comemoração

Christine Salem et Deborah Herbert
“Dos campos de cana aos cantos de algodão”

Dois artistas, duas vozes, da Ilha da Reunião e dos Estados Unidos, em residência de longa duração no museu e no bairro Villèle (2017, 2018) combinam o seu património musical, humano e cultural num repertório cruzado de cerca de quinze títulos.

Primeira atuação a 20 de dezembro no museu Villèle. Christine Salem (voz, kayamb), Déborah Herbert (voz) – Harry Périgone e Zélito Déliron (percussões). Coro Amadeus dirigido por Lydie Géraud – Lolita Tergémina (voz e direção).

 

Jean-Pierre Joséphine cognominado Jozéfinn’

 

Inspirado pela atmosfera particular do complexo museológico, pelo retrato litográfico “Célimène et sa guitare” (Célimène e a sua guitarra), conservado no museu Villèle, e em homenagem ao músico (1807-1864), Jozéfinn’ propõe uma composição de temas originais, bem como um arranjo de clássicos da música da Reunião. O artista pretende reunir no seu projeto a história do complexo museológico, os habitantes e os espaços naturais de Saint-Gilles-les-Hauts, de onde é originário.

Da cultura popular da Reunião a uma estética do oceano índico. A guitarra acústica de Jozéfinn será acompanhada por instrumentos de percussão: a timbila por Matchume Zango de Moçambique e a dumarimba por Bongani Sotshononda da África do Sul.

 

 

 

Max Boyer-Vaïtilingom

 

 

Após ter participado em projetos memoriais relacionados com a história da escravatura no mundo, o artista dedicará a sua residência à coprodução de um fresco pictórico e de um trabalho de escultura sobre o tema da transmissão intergeracional da memória da escravatura.

A escola primária de Villèle acolherá esta residência e envolverá alunos, professores, funcionários e pais.

 

 

 

Maxwell Southgate cognominado MAK1ONE
Residência criativa no exterior

 

 

 

Pioneiro do street art na África do Sul há 30 anos, reconhecido como um dos pais do movimento, MAK1ONE intervém no moringodrome de Saint-Gilles-les-Hauts. Esta residência reúne uma grande parceria: o museu Villèle, o município de Saint-Paul, o Comité do moringue da Reunião, a associação Kan Villèle e a ONG Baz Art (Cidade do Cabo).

 

 

Originário dos townships da África do Sul, MAK1ONE viveu os períodos de apartheid e pós-apartheid e reivindica a ascendência de Bushman & Khoi-san. Expôs na África do Sul, na Europa e nos Estados Unidos e encontrará agora os artistas de street art da Ilha da Reunião.

 

Exposição «Galeria de retratos» realizados pelos alunos do 2.° e 3.° ciclos do ensino básico

Uma exposição que mobiliza saberes históricos e expressão artística. Uma obra coletiva de imaginário realizada a partir de nomes de escravos presentes no testamento da Madame Desbassayns

  • 3300 alunos de 31 estabelecimentos
  •  projeção dos retratos na fachada do museu realizada pelo artista Lionel Lauret
  • exposição dos trabalhos dos alunos no primeiro andar do museu até julho de 2019

Extraits de l’exposition « Galerie de portraits »

Extraits de l’exposition « Galerie de portraits »

Compreender a História da escravatura através da imagem www.iconotouch.org

Uma ferramenta cultural inovadora, digital, táctil e itinerante – Iconotouch’ – já utilizada nos estabelecimentos escolares desde o início do ano letivo 2018/2019.

Para este ano de comemoração, o “Iconotouch” propõe uma experiência digital inédita: interagir através de imagens relacionadas com a escravatura, permitindo aos jovens adquirir novas competências através da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação.

Os objetivos são os seguintes:
→ familiarizar os alunos com a leitura de diferentes documentos iconográficos digitalizados
→ familiarizar os alunos com as “profissões” da escravatura, o tráfico de escravos, o marronage (fuga de escravos) e a abolição
→ sensibilizar os alunos para as questões da memória, da história e da formação para a cidadania através da história local.
www.ihoi.org

Aplicação móvel Kikoné?

Uma aplicação móvel inédita e disponível gratuitamente para download, com quizz temáticos para testar os nossos conhecimentos sobre a história da escravatura.

Destinada a todos os públicos e disponível nas plataformas App Store e Play Store.

Evolutiva, a Kikoné propõe, desde dezembro de 2018, 170 perguntas sobre seis temas relativos à escravatura: nomes de escravos, abolição, trabalho, castigos, cultura e culto e antropologia-sociologia-História.

Em 2019, a aplicação enriquece-se com a criação de uma sétima temática, “A abolição da escravatura no mundo”, com 71 novas perguntas.

Os três irmãos
Sandrine Plante

No dia 23 de maio de 2024, por ocasião do Dia nacional de homenagem às vítimas da escravatura colonial, o Museu histórico de Villèle, em parceria com a Fundação para a memória da escravatura, destaca a escultura «Os três irmãos» da artista Sandrine Plante.

Instalada na Chapelle Pointue (Capela Pontiaguda), a obra evoca a revolta de Saint-Leu de 1811.
Esta revolta, que teve lugar de 5 a 8 de novembro de 1811, é a única grande revolta de escravos conhecida na Ilha da Reunião. Foi severamente reprimida pelos colonos da ilha. Quinze dos rebeldes foram decapitados publicamente em abril de 1812: dois em Saint-Denis, quatro em Saint-Paul, cinco em Saint-Leu, dois em Saint-Pierre e dois em Saint-Benoît.

A escultura representa três escravos condenados à morte.

«O primeiro, à esquerda, o mais velho, o rebelde com as orelhas cortadas, espancado e desesperado, inclina-se simplesmente no ombro do irmão; o do centro, pleno de raiva, pelos seus, pela sua família, não cederá até ao último suspiro; o mais novo, apesar de ser o maior e mais forte, não imaginava que tudo acabaria mal…»
Sandrine Plante

Sandrine Plante nasceu em 1974 na região de Puy de Dôme, em França, de uma mãe de Auvergne e de um pai da Ilha da Reunião. As suas pesquisas sobre a história da Reunião e o facto de ter descoberto que é descendente de escravos levaram-na a dedicar toda a sua carreira à história da escravatura, desde o século XV até aos dias de hoje.

«Como um dever de memória, ao serviço da história, para que não nos esqueçamos…
Não crio para agradar aos olhos mas para contar uma história…
É este o objeto da minha criação que pretende ser um grito para todos os oprimidos de ontem e de hoje. As minhas personagens, em tamanho real ou por vezes maiores, contam através da terra a história da escravatura e da separação… este flagelo que se reproduz como que inexoravelmente, afetando ainda hoje mais de 30 milhões de seres humanos. Nunca deixarei de expressar este grito, eu que, como mulher do meu tempo, do meu país, tenho a possibilidade de o fazer. Todos reunidos em torno da mesma Terra Natal.»
Sandrine Plante

Ler o artigo de Gilles Gérard A revolta dos escravos de Saint-Leu, novembro de 1811

Instalação de obra de arte Pietà William Zitte, Antoine du Vigneaux

Pintura em acrílico, Goni, 1992

Em homenagem ao artista Wilhiam Zitte, a sala do memorial do hospital dos escravos acolherá uma das suas obras: Piéta, realizada juntamente com Antoine Du Vignaux por ocasião da exposição Tet Kaf / Fet Kaf que teve lugar no museu Villèle em 1993.

A Pietà apresenta um ‘Cafre Espiritual’ que poderia muito bem ser uma possível terceira via, junto com o ‘Cafre Fiel’, submisso à dor e à abnegação, ou o ‘Cafre Rebelde’ cujas armas afolam as brasas ainda incandescentes.

Instalação de obra de arte Bann’ Maronèr Nathalie Maillot & Nelson Boyer

Escultura/instalação (ferragem, rede de arame, celulose, tinta, encáustica), bronze, 2012

Escultura monumental instalada nos jardins do museu no nível inferior ao da casa principal.

« Um Marron (escravo fugitivo) na vegetação, que observa o domínio de Madame Desbassayns. Queríamos simbolizar todos os insurgentes que não aceitam o domínio dos senhores sobre a sua existência e que, para sobreviverem, fogem para as montanhas, a única forma de viverem em liberdade. A gigantesca dimensão da obra pretende representar da força mental dos escravos fugitivos»
(Nathalie Maillot & Nelson Boyer)

Colóquio internacional
“A escravatura, um tema de história, um desafio de memória”

O colóquio internacional “Escravatura, um tema de história, um desafio de memória” foi o primeiro evento de várias manifestações no âmbito do 170.º aniversário da abolição da escravatura levadas a cabo pelo Departamento. Organizado pela Associação Histórica Internacional do Oceano Índico, este evento teve lugar de 28 de novembro a 1 de dezembro de 2018.

Fundada em 1960 após o primeiro congresso de arquivistas e historiadores do oceano Índico realizado em Antananarivo, a Associação Histórica Internacional do Oceano Índico (AHIOI) tem como objetivo promover estudos históricos e temas relacionados com os países do oceano Índico.

O historiador Prosper Eve, que preside à AHIOI, iniciou a Semana da História do Oceano Índico juntamente com a Associação dos Amigos de Auguste Lacaussade. Em 2018, no âmbito da comemoração do 170.º aniversário da abolição da escravatura, propôs, com a associação, organizar de um simpósio intitulado “A escravatura, um tema de história, um desafio de memória”.

A repetição das comemorações da abolição da escravatura em França parece-lhe, de facto, uma necessidade. A necessidade de lutar contra o esquecimento, para que o “lugar da memória” que é esta abolição, e num sentido mais lato a escravatura, não se torne um “lugar de amnésia” onde só o esquecimento trabalhou e trabalha, porque a sua memória pode parecer vir perturbar as questões da identidade e da memória em curso.

Para além do questionamento da memória, esta comemoração pretende também identificar, através da investigação e estudo históricos, as várias facetas deste objeto da história que é a escravatura, e, para além da narrativa nacional, definir da forma mais científica possível os contornos da nossa história.

Por fim, a reiteração de tal comemoração tem um propósito pedagógico, dirigido não só ao público das escolas e universidades, mas também a todos os cidadãos que estão confrontados com a presença no imaginário e na sociedade da sombra deste crime contra a humanidade.

Reuniu vinte e dois especialistas que apresentaram as suas pesquisas sobre quatro temas: a diversidade das abolições, a natureza híbrida da escravatura no oceano Índico, a transição para o período pós-escravatura e a era pós-escravatura