Embora não fosse espetacular, o seu heroísmo consistia na adaptabilidade face à coerção feroz do sistema repressivo. Desta forma, perpetuaram os modos de resistência existentes desde o início desse regime, num processo permanente de ajustamento.
Serão utilizados três exemplos extraídos de arquivos judiciais para destacar os três modos dominantes de oposição servil e proporcionar a oportunidade para apresentar alguns dos resultados quantificados e comparados ao longo dos últimos cem anos da escravatura.
A primeira grande família de oposição é a da resistência de preservação. Os escravos partilhavam uma história comum de desenraizamento cultural: cada pedaço de tradição preservado, quer fosse a dança, o canto ou os contos, era uma vitória contra a destruição da sua identidade. Algumas mulheres, através da supressão dos nascimentos, recusavam-se a dar à luz a violência. Mas é a preservação material que mais se destaca nos arquivos, pois dava origem a ações ilegais.
A segunda família de oposição é a da resistência-rutura: o marronnage é a forma de negação que melhor se adaptava à geografia da ilha, pontuada por colinas hostis e desabitadas; marcando a inadaptação dos novos Negros ou a nostalgia dos malgaxes, a fuga pode ser impulsiva, de curta duração ou permanente. A maioria dos malgaxes fugia por mar, refletindo o seu sonho de regressar à terra dos seus antepassados.
Por fim, a resistência-agressão, que consistia na deterioração e destruição dos bens de produção ou que visava diretamente os colonos, e que englobava todas as formas de violência através das quais os escravos tentavam quebrar as suas correntes, incluindo contra si próprios.