A artista Geneviève Alaguiry, foi a pessoa convidada para realizar este projeto. No passado, as suas obras em pasta de papel cativaram a atenção, sobretudo devido ao resultado especial do seu trabalho nos últimos anos.
Na verdade, esta residência de criação tinha um duplo objetivo, por um lado o de criar uma obra original sobre a figura do marron e, por outro, envolver os jovens do curso 31 da Académie des Dalons¹ no processo de criação artística, permitindo-lhe descobrir o ofício de artista plástico e apreender a arte e a criação em geral.
A escultura realizada em pasta de papel evoca os maronèr è maronèz (escravos e escravas em fuga): figuras emblemáticas da liberdade na Reunião. Consiste em cinco bustos de homens, mulheres e crianças que emergem das vertentes das montanhas do interior da ilha, representando algumas etnias de relevo oriundas de Madagáscar, da Índia ou, até, crioulos nascidos na ilha, que contribuíram, em parte, para a formação da população reunionense atual.
Geneviève Alaguiry desejou realçar não o sofrimento, mas a esperança e os sonhos dos maronèr è maronèz, tornados realidade para alguns deles, representando os rostos tranquilos, com os olhos fechados, personagens sorridentes, a cabeça levantada na direção desse ideal de vida livre, de um futuro a construir. As suas cabeças emergem e ocupam literalmente um lugar de destaque nas duas cadeias montanhosas separadas pelo rio, o fio vermelho que atravessa o seu percurso, símbolo da vida.
Não só emergiram das montanhas como também as formaram. Foram eles, os nossos Cimandef, Marianne, Anchaing, Héva, Mafate etc., os primeiros a descobrirem o interior da ilha, os lugares mais recônditos e os cumes mais altos. Foram eles que se apropriaram do que o território tinha de mais rude, aspeto esse que não era desconhecido, mas a artista mostra que o domaram. Os trilhos são revelados por folhas de ouro, cor de luz e de perfeição. A luz, por comparação com a vida, fala-nos de pessoas do passado, da morte social e da invisibilidade dos humanos escravizados. A vida, uma vida livre em fuga. O marron passa da asfixia da condição à qual estava subjugado para a perfeição, através de uma liberdade adquirida arduamente: «(…) Marron renasço».
Geneviève Alaguiry é uma artista plástica nascida em 1986 na ilha da Reunião. Em 2011, obteve o diploma nacional superior de expressão plástica na Escola Superior de Belas-artes da Reunião, e desde há muito tem vindo a desenvolver a pesquisa sobre a condição humana, tema que leva a questionar o contexto social do século XXI, enraizado na mercantilização dos indivíduos e do mundo.
Artista pluridisciplinar, Geneviève Alaguiry navega entre o desenho, a escrita, a performance, a instalação, o vídeo/a animação, a escultura e a fotografia, tendo participado em diversas exposições coletivas e efetuado residências em Paris, Maurícias e Reunião.
¹ Da Académie des Dalons é um dispositivo experimental de inserção social e profissional iniciada pelo Departamento da Reunião, destinado a alunos voluntários e motivados com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos